Via The Chant Café, e graças também à zelosa leitura de um dos nossos
cantores,
deixam-se algumas palavras de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, na
recente Exortação Apostólica Pós-Sinodal
Verbum Domini,
de 30 de Setembro de 2010:
A Palavra e o silêncio
66. Várias intervenções dos Padres sinodais insistiram sobre o valor do
silêncio para a recepção da Palavra de Deus na vida dos fiéis.231 De
facto, a palavra pode ser pronunciada e ouvida apenas no silêncio,
exterior e interior. O nosso tempo não favorece o recolhimento e, às
vezes, fica-se com a impressão de ter medo de se separar, por um só
momento, dos instrumentos de comunicação de massa. Por isso, hoje é
necessário educar o Povo de Deus para o valor do silêncio. Redescobrir
a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja significa também
redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior. A
grande tradição patrística ensina-nos que os mistérios de Cristo estão
ligados ao silêncio232 e
só nele é que a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu em
Maria, mulher indivisivelmente da Palavra e do silêncio. As nossas
liturgias devem facilitar esta escuta autêntica: Verbo
crescente, verba deficiunt.233
Que este valor brilhe particularmente na Liturgia da Palavra, que «deve
ser celebrada de modo a favorecer a meditação».234 O
silêncio, quando previsto, deve ser considerado «como parte da
celebração».235 Por
isso, exorto os Pastores a estimularem os momentos de recolhimento, nos
quais, com a ajuda do Espírito Santo, a Palavra de Deus é acolhida no
coração.
(...)
Exclusividade dos textos bíblicos na liturgia
69. O Sínodo reafirmou vivamente também aquilo que, aliás, já está
estabelecido pela norma litúrgica da Igreja,242 isto
é, que as leituras tiradas da Sagrada Escritura nunca
sejam substituídas por outros textos, por mais significativos
que estes possam parecer do ponto de vista pastoral ou espiritual:
«Nenhum texto de espiritualidade ou de literatura pode atingir o valor
e a riqueza contida na Sagrada Escritura que é Palavra de Deus».243 Trata-se
de uma disposição antiga da Igreja que se deve manter.244 Face
a alguns abusos, já o Papa João Paulo II lembrara a
importância de nunca se substituir a Sagrada Escritura por outras
leituras.245 Recorde-se
que também o Salmo Responsorial é
Palavra de Deus, pela qual respondemos à voz do Senhor e por isso não
deve ser substituído por outros textos; entretanto é muito oportuno
poder proclamá-lo de forma cantada.
Canto litúrgico biblicamente inspirado
70. No âmbito da valorização da Palavra de Deus durante a celebração
litúrgica, tenha-se presente também o canto nos momentos previstos pelo
próprio rito, favorecendo o canto de clara inspiração bíblica capaz de
exprimir a beleza da Palavra divina por meio de um harmonioso acordo
entre as palavras e a música. Neste sentido, é bom valorizar aqueles
cânticos que a tradição da Igreja nos legou e que respeitam este
critério; penso particularmente na importância do canto gregoriano.246
231 Cf. Propositio [sinodal] 14.
232 Cf. Santo Inácio de
Antioquia, Ad
Ephesios, XV, 2: Patres
Apostolici (ed.
F. X. Funk, Tubingae 1901), I, 224.
233 Cf. Santo Agostinho, Sermo 288, 5: PL 38,
1307; Sermo 120, 2: PL 38, 677.
234 Ordenamento Geral
do Missal Romano, 56.
235 Ibid.,
45; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium, 30.
242 Cf. Ordenamento
Geral do Missal Romano, 57.
243 Propositio 14.
244 Veja-se o cânon 36 do Sínodo
de Hipona do
ano de 393: DS 186.
245 Cf. João
Paulo II, Carta ap. Vicesimus
quintus annus (4
de Dezembro de 1988), 13: AAS81
(1989), 910; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos,
Instr. sobre alguns aspectos que se devem observar e evitar em relação
à Santíssima Eucaristia Redemptionis
sacramentum (25
de Março de 2004), 62: Ench.
Vat. 22,
n. 2248.
246 Cf.
CONC. ECUM. VAT. II, Const. sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium, 116; Ordenamento Geral do Missal Romano,
41.
Fiel à orientação dos seus antecessores e à Tradição da qual é o
defensor, Bento XVI propõe o Canto Gregoriano como música viva para a
oração da Igreja. Note-se que a chamada de atenção, no ponto 69, para a
substituição do SR por textos impróprios não se aplica à
práctica habitual da nossa
Capella, e doutras, de cantar o
Graduale, segundo o previsto no
ponto 61 da Instrução Geral do Missal Romano:
(...) Em vez do salmo que vem indicado no Leccionário, também se pode cantar
ou o responsório gradual tirado do Gradual Romano ou um salmo
responsorial ou aleluiático do Gradual simples, na forma indicada
nestes livros.
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