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sábado, 17 de maio de 2025

CANTO GREGORIANO | 2025 Cursos Internacionais | Monsenhor Alberto Turco | Itália

 Canto Gregoriano - corsi estivi internazionali 2025

7-12 luglio - Verona

25-30 agosto - Padova

Per informazioni:
International Association Vox Gregoriana
ia.voxgregoriana@gmail.com
+39 351 8377138


Mais informações em língua portuguesa:

A Associação Internacional Vox Gregoriana tem o prazer de apresentar os Cursos de Verona, na sua primeira edição, embora o possamos considerar um prolongamento do curso de Fara in Sabina, chegado ao trigésimo ano; e Pádua, na sétima edição. Como no ano passado, o curso inclui um triénio fundamental para principiantes, um biénio de especialização para cantores e um “Mestrado Internacional” em interpretação, reservado a maestros e especialistas.

Docentes: Gennaro Becchimanzi, Nicola Bellinazzo, Noemi Vilasi, Alberto Turco (director dos cursos e docente de referência).

OFERTA QUINQUENAL

- TRIÉNIO FUNDAMENTAL

I. Iniciação ao canto gregoriano
Os cantos da Missa e do Ofício
História da notação musical
A notação quadrada, elementos auxiliares
O neuma, o ritmo, a interpretação
Os tons da salmodia silábica

II. O Proto-gregoriano
Recitativos litúrgicos e salmodia pré-octoecos
Repertório anterior e formas litúrgico-musicais precedentes ao séc. IX
Análise estético-modal e datação das melodias

III. Introdução à paleografia
Origem dos neumas: acentos (neuma monossónico)
Modificação dos acentos: episema e liquescência
A combinação básica do sinal de acentos nos neumas fundamentais plurissónicos

- BIÉNIO DE ESPECIALIZAÇÃO

I. Semio-modalidade
O neuma e o modo da palavra cantada, através da análise do agrupamento gráfico (corte neumático) dos elementos sonoros do neuma

II. A interpretação do canto gregoriano
 Os efeitos verbo-modais na escrita neumática e sua interpretação rítmica no "estilo verbal".

MESTRADO INTERNACIONAL
para cantores e professores de Canto Gregoriano

Verona: O Salmo 44 no «Commune Sanctorum»: liturgia, análise, interpretação

Pádua: A Alleluia melismática : origem e desenvolvimento

Cada mestrado aceita inscrições limitadas a 10 pessoas, a fim de se executarem em canto as peças propostas. Também se aceitam inscrições de mais participantes, na qualidade de "ouvintes". Tanto a uns como a outros serão fornecidas as peças para estudo, em fotocópia. Texto para estudo: Liber Gradualis I, Pars Festiva.

9 de Julho, 4ª feira, às 15:00, conferência do Doutor Roberto Fagiolini (Milão):
"Funções terapêuticas da praxe executiva do Canto Gregoriano, no contexto de alguns capítulos da Regra de São Bento de Núrcia"

27 de Agosto, 4ª feira, às 15:30y, conferência "A imagem do sacrifício: a Eucaristia na expressão artística" - don Giuseppe Fusari (Università Sacro Cuore - Brescia)

MATERIAL DIDÁCTICO
Para todos os níveis de aprendizagem, Monsenhor Alberto Turco venderá a preços reduzidos os seus manuais, tratados, cantorais, gravações em CD/DVD, etc..

LOCAIS, ACESSOS, ALOJAMENTO, REFEIÇÕES

VERONA: 7 - 12 de Julho de 2025
Casa di Accoglienza e Spiritualità "Gesù Maestro"
Via Fontana del Ferro, 38 - Verona
tel. +390458011245
e-mail: ia.voxgregoriana@gmail.com
+393518377138
Aeroportos de Verona, Milão, Bolonha e Veneza.
Comboio até à Estação Ferroviária de Verona Porta Nuova: Autocarro, Taxi, ou Caminhada de uma hora a pé através do centro histórico de Verona: chegando à Piazza Isolo, seguir as indicações Museo Africano, Chiesa di San Giovanni in Valle e seguir a direito ao longo da subida.

PÁDUA: 25 - 30 Agosto de 2025
Abbazia Benedettina di Santa Giustina
Via Giuseppe Ferrari 2/A - 35123 Padova
Aeroportos de Milão, Veneza, Bérgamo, Bolonha, Verona, Pádua.
Comboio até à Estação Ferroviária Central de Pádua (Padova)
Largo da estação (a sul), Autocarro ou Eléctrico
Ou Caminhada de 36 minutos a pé atravessando o centro histórico da cidade até Prato della Valle
Dormidas e refeições na Abadia Beneditina de Santa Justina, séde do curso

HORÁRIOS
Início às 15h30 de 2ª feira, conclusão ao almoço de Sábado
Aulas e ensaios durante a manhã e tarde para todos os grupos 9-12:30; 15-18
Na 6ª Feira, concerto e Missa de encerramento

CUSTOS
Transferência bancária: Inscrição 45€
No local: Curso 110€ / Master 160€ / Alojamento e refeições 50(PD)-60(VR)€/dia

INSCRIÇÕES
Cada participante deverá contactar a Associação Internacional Vox Gregoriana através de correio-electrónicofacebook, ou whatsapp +393518377138, e facultar os seguintes dados:

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
Sobrenome____________________________________
Primeiro nome_________________________________
Nacionalidade_________________________________
Rua_________________________________________
Código Postal / Cidade__________________________
Província_____________________________________
Tel. _________________ Telemóvel _______________
E-mail_______________________________________
Inscrevo-me no seguinte curso:
TRIÉNIO FUNDAMENTAL
I. Iniciação ao canto gregoriano __
II. O proto-gregoriano __
III. Introdução à paleografia __
BIÉNIO DE ESPECIALIZAÇÃO
I. Semio-modalidade __
II. A interpretação __
MESTRADO INTERNACIONAL
Efectivo __ Ouvinte __



sexta-feira, 24 de maio de 2024

Sessantini: o "novo" Missal italiano

Continuamos a tradução e republicação
dos esclarecedores artigos contidos no 

  

Gilberto Sessantini

O "NOVO" MISSAL

Um antigo Pároco meu, cuja memória guardo com carinho, costumava dizer que não era necessário fazer qualquer reforma litúrgica, mas que teria sido suficiente mudar a cabeça dos padres (e depois acrescentava com um sorriso: "Mais fácil dizer do que fazer"...). Certamente não era contra as disposições do Vaticano II, mas com as suas palavras queria sublinhar que não era questão de latim ou italiano, de altar voltado para o Senhor ou de altar voltado para os fiéis, mas era tudo uma questão de como se posicionava em relação à liturgia e, em primeiro lugar, como o principal responsável pela celebração, o sacerdote, encarava a liturgia. Recordei estas suas palavras porque não gostaria que se depositassem demasiadas esperanças ilusórias na publicação da nova edição italiana do Missal Romano. Lemos elogios extensos e exagerados em todas as revistas especializadas e publicações do que outrora foi chamado de imprensa católica, como se a nova edição, finalmente libertada das garras dos escritórios do Vaticano, fosse em si um acontecimento salvífico... Não. A edição do Missal Romano não é e não será a panaceia que resolve os problemas da liturgia, aliás, talvez, os destaque ainda mais. Porque, devemos dizê-lo claramente, a liturgia está em crise. E está em crise porque em crise está a fé.
Daqui resulta, como várias vezes sublinhou lucidamente Bento XVI, que também a Igreja está em crise. Melhor, a crise de uma (a liturgia) surge da crise das outras, isto é, da crise da fé da Igreja, e, vice-versa, a crise da Igreja e da sua fé deriva da crise da liturgia, num movimento de recíproca dependência e influência. Tudo isto está diante dos olhos de cada um de nós, sacerdotes e fiéis. Portanto, não será a publicação e uso de um novo Missal a resolver as coisas. É preciso que primeiro mudar de perspectiva: é preciso recuperar a fé! Como? Antes de mais, recentrando a Liturgia – e consequentemente a vida – em Deus.
Aliás, que as orações litúrgicas sejam em latim, ou em italiano na primeira, na segunda ou na terceira versão, pouco importa se não nos lembramos que são dirigidas a Deus, que nos são dadas para podermos aceder ao mistério de Deus e entrar em comunhão com Ele, que constituem para nós fonte de santificação e meio para glorificar a Deus, como ensina o Concílio.
Que a oração do Pai-nosso seja traduzida de um modo e não de outro, pouco importará, se eu não sinto necessidade da conversão dos meus pecados, se eu não sei o que é pecado, se eu não considero mais nada como pecado, se eu não creio que exista alguém que me tente, isto é, que me empurre para o pecado, e que haja Alguém a quem eu pedir para ser poupado de uma tentação superior às minhas forças.
Que seja a “ceia do Senhor” ou a “ceia (das bodas) do Cordeiro”, pouco importa se eu não sei que o que faço na liturgia aqui na terra me prepara para a mesa escatológica do Reino; se não sei que a minha pátria está no céu; se não sei que a minha perspectiva final é a ressurreição e a vida eterna...
Pouco importa, se eu já não tenho o conceito do sagrado, do diálogo com Deus, se já não acredito na presença real de Cristo no Sacramento da Eucaristia.
Pouco importa, se considero a Missa apenas como uma reunião para fazer uma festa e não retenho mais a dimensão vertical da liturgia e o facto de que dentro dela, nas palavras e nos gestos do Missal, age Deus; e age para mim.
Claro, Deus na liturgia age através da mediação do homem: não é em vão que se utilizam sinais visíveis e capazes de antecipar e significar os dons sacramentais transmitidos pelos ritos. Mas qual homem? O homem, cuja mediação é necessária, não deve ser um homem “antropocêntrico”, totalmente concentrado e virado para si mesmo, voltado exclusivamente para o “humano”, auto-referencial a tal ponto de esquecer Deus ou colocá-lo entre parênteses; mas deve ser um homem “litúrgico”, isto é, aberto a Deus, desejoso de Deus, amigo de Deus, amante de Deus (diria Santo Agostinho), temente a Deus.
Eis por que é necessário recordar que na liturgia estamos na presença de Deus e O servimos, como nos recorda uma das Orações Eucarísticas: “damos-Vos graças porque nos tornastes dignos de estar na Vossa presença a cumprir o serviço sacerdotal" (PE II ). E é necessário recordarmos que este “estar na sua presença” e este “servi-lo nos santos mistérios” pressupõe que saibamos oferecer-lhe o melhor de nós mesmos, o melhor de quem somos, o melhor do que temos. E esse “melhor” não é o que nos agrada a nós, mas sim o que Lhe agrada a Ele. Pode até ser pouco, quanto possamos oferecer-Lhe, mas o importante é que seja “o melhor e tudo” que Lhe podemos dar, e é este "melhor e tudo" que devemos esforçar-nos por Lhe dar. Caso contrário, como poderemos ser na liturgia a “voz de toda a criatura” que se une à dos anjos, tal como a própria liturgia nos convida a cantar noutra das suas Orações eucarísticas: “Inúmeras hostes de anjos estão diante de Vós para Vos servir, contemplam a glória do vosso rosto e dia e noite cantam o vosso louvor. Junto com eles também nós, tornando-nos a voz de toda a criatura debaixo do céu, confessamos o vosso nome e exultantes Vos cantamos, ó Deus Três Vezes Santo” (PE IV)?
Como se vê, há muitas outros pressupostos a serem postos de antemão em jogo. Não bastará abrir o Missal no altar e ler alguma fórmula, seja ela nova ou velha. No fundo, o Missal é só um livro, enquanto a liturgia é vida. Vida de Deus que se nos comunica. A nossa vida que se oferece a Deus em sacrifício espiritual, em união com o sacrifício redentor de Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.

Certamente, pensando na importância que assume o Missal não só para a nossa vida de oração mas também para a nossa vida de fé, é de esperar que seja cada vez mais fruto da Igreja e não o resultado de intervenções pessoais desta ou daquele outro liturgista ou pastor, como pelo contrário pareço intuir. Obviamente que os Missais ao longo dos séculos não foram escritos por anjos, mas as intervenções, que poderemos dizer de “desenvolvimento orgânico”, foram o resultado de uma partilha amplíssima do ponto de vista teológico, litúrgico, mistagógico, um “destilado” preparado por pessoas santas que trabalharam “de joelhos”, e não o fruto de correntes, reivindicações, partidarismos, caprichos, como a crónica da elaboração desta nova tradução infelizmente se nos apresentou.
Como todas as realidades humanas, o novo Missal apresenta aspectos positivos e negativos. Entre estes últimos é impossível não inserir o aspecto tipográfico: a falta do negrito, sempre utilizado nos Missais precedentes, torna a leitura extremamente cansativa, não obstante da defesa oficial: a escolha da fonte Requiem (sic!) apenas na sua variante normal foi efectuada “porque o negrito se considera pouco elegante e sobretudo pouco útil a fim de uma maior legibilidade” [1] (sic!!!). Na realidade o novo Missal mais parece um livro para se ler à mesa ou comodamente numa poltrona, do que um livro de altar, mais um livro de liturgista do que um livro de liturgo...

[1] Paolo Tomatis, Il Messale 2020: struttura, grafica, immagini, in Rivista di Pastorale Liturgica n 341 Luglio-Agosto 4/2020, p 36.

A falta de um critério unívoco e coerente para as traduções também evidencia o vai-e-vem a que a foi submetida a redacção. Por um lado, como por exemplo nas orações, temos novas traduções que respeitam admiravelmente o original latino e a mens contida na brevidade e profundidade teológica dos termos utilizados. Por outro lado, porém, temos traduções ad sensum ou verdadeiras e próprias interpretações como no caso do famigerado “não nos abandoneis na tentação...”. Houve uma briga pela tradução de um “et” (“assim como nós”) e deixou-se andar o muito mais significativo do ponto de vista teológico “pro multis”. Da série dois pesos e duas medidas. Com efeito, no caso do novo Missal os pesos e as medidas das traduções, segundo os especialistas, são três [2] ou mesmo cinco [3]. Um filólogo teria muito a dizer.

[2] Loris Della Pietra, La traduzione 2020: pregi e criticità, in Rivista di Pastorale Liturgica n 341 Luglio-Agosto 4/2020, p 30-34.

[3[ Angelo Lameri, Il Messale italiano 2020; i criteri della traduzione, in Rivista di Pastorale Liturgica n 341 Luglio-Agosto 4/2020, p 26-29.

Por outro lado, uma tradução mais atenta ao original latino responde também a uma necessidade destacada pela CEI, a de acompanhar a introdução e utilização do novo Missal com uma catequese mistagógica. De facto, assim está escrito na Apresentação:

o livro litúrgico permanece o primeiro e essencial instrumento para a digna celebração dos mistérios, para além do mais sólido fundamento de uma eficaz catequese litúrgica... Desta consciência deriva a importância de promover e encorajar uma acção pastoral destinada a valorizar o conhecimento e o bom uso do livro litúrgico, na dúplice perspectiva da celebração e do seu aprofundamento na mistagogia”. [4]

[4] MRI 2020, p VIII.

É claro que se uma tradução é banal e utiliza uma linguagem quotidiana, será bem difícil que possa dizer algo de profundo e que nos possa introduzir nos mistérios divinos através da mistagogia desse texto; mesmo que haja algum liturgista que considere a linguagem usada nos ritos ainda muito elevada e espere superá-la criando "uma linguagem litúrgica não religiosa" (sic!) para "diminuir o hiato cada vez maior que agora vemos existir entre os textos oficiais da liturgia e a concepção de Deus e a quotidiana experiência de fé dos crentes mais maduros”. Exatamente o contrário do que se deveria fazer: não é mais a liturgia que alimenta a fé dos crentes e abre ao mistério de Deus, mas sim os crentes (atenção, porém: os "mais maduros") que, a partir da sua concepção de Deus e da sua experiência, reescrevem a liturgia da Igreja e informam a fé...

[5] Goffredo Boselli, Le nozze dell’Agnello, San Paolo Cinisello Balsamo 2020, pp. 89-90.

Chegando aos elementos que mais de perto interessam aos leitores do nosso boletim, é de sublinhar como altamente positiva a expansão do número de Antífonas de Entrada e Comunhão. O auspício, obviamente, é que se produza quanto antes a recolha completa dos textos de todas as Antífonas de Entrada, Ofertório e Comunhão, com a respectiva salmodia, de modo a podermos ter um Gradual em língua italiana, completo e de referência primária para os compositores. Um ulterior elemento significativo do novo Missal, encontramo-lo no papel do canto, em particular no canto do celebrante em diálogo com os fiéis. A Apresentação afirma também que 

a beleza da liturgia surge da harmonia de gestos e palavras com que se é envolvido no mistério celebrado” e que, como ensina o Concílio, “[a] acção litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação activa do povo.” (SC 113); na consciência de que o canto não é um mero elemento ornamental, mas uma parte necessária e integrante da solene liturgia (SC 112) e que, na escolha das partes destinadas ao canto, é oportuno dar a preferência «às que devem ser cantadas pelo sacerdote ou pelo diácono ou pelo leitor, com resposta do povo, bem como às que pertence ao sacerdote e ao povo proferir  conjuntamente" (IGMR 40), optou-se por inserir no corpo do texto algumas melodias que remetem às fórmulas gregorianas presentes na edição italiana do Missal Romano de 1983, adequando-as aos novos textos”. [6]

[6] MRI 2020, p. VII.

Se os princípios e recomendações aqui expressas não são uma novidade, é outrossim uma novidade, e não de pouca importância, ver inseridas estas partes com a sua notação no corpo do Missal, de modo que pareça também visualmente que o canto dos ministros é parte integrante e necessária da liturgia; e ainda mais interessante é a escolha preferencial pelas melodias gregorianas, uma escolha que ancora o nosso presente nas raízes profundas do fazer litúrgico, nesta uniformização com as escolhas das outras Conferências episcopais em todo o mundo. Por outro lado, é ainda o Concílio a sublinhar o papel que o canto gregoriano tem na liturgia: “como canto próprio da liturgia romana (...) terá este, por isso, na acção litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.” (SC116). Se nos alegramos com a preferência dada às melodias que remetem aos módulos gregorianos, algumas perplexidades todavia ofuscam esta alegria. Em primeiro lugar, a escolha de usar o pentagrama e a notação redonda, uma escolha talvez mais ideológica do que prática, pois ao fazê-lo distanciamo-nos de uma tradição secular, empurrando ainda mais para o esquecimento o canto gregoriano que, ao invés, usa internacionalmente um seu bem preciso e testado tipo de escrita, que entre outras coisas goza de maior legibilidade e ocupa menos espaço tipográfico. De outros elementos, e melhor do que eu, tratará o artigo de Dom Alberto Turco neste mesmo número do nosso boletim.
Não nos resta mais, enfim, que acolher “in spiritu humilitatis” e em obediência quanto os ofícios da CEI nos ofereceram.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Aclamações às Leituras

Compostas a três vozes segundo o tom do Ordo Cantus Missæ (editio typica altera de 1988, n.ºs 500 e 501, páginas 178 e 179) por Francisco Vilaça Lopes a pedido de Marcello Belo de Oliveira a 29 de Junho de 2019 na solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.

As vozes do canto gregoriano e do contraponto podem ser dobradas por cantores ou instrumentos musicais em uníssono ou oitavas paralelas.


Descarregar PDF.

São Pedro e São Paulo Apóstolos, rogai por nós.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Uma lufada de ar fresco

A recém-encerrada televisão católica portuguesa AngelusTv transmitiu em 2017 uma extraordinária série realizada pelo Prof. Alberto Medina de Seiça, eminente estudioso da música sacra e director da Capela Gregoriana Psalterium sediada em Coimbra.

O equilibrado conjunto de 10 programas leva-nos a percorrer os principais subtemas da música sacra, num interessante documento histórico que certamente contribuirá para a "reforma da reforma" da música litúrgica na Igreja que fala português.

"Música Sacra" é um programa apresentado por Alberto Medina de Seiça que viaja em torno da Música Sacra em Portugal. Através de compositores, música, e acontecimentos importantes nestes tantos séculos da música da Igreja, o programa procura abordar não só o passado mas também o presente e o futuro da música sacra.

Episódios:
  1. Polifonia sincera: Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
  2. Canto gregoriano: fonte de inspiração para a melhor música sacra em língua portuguesa
  3. A música sacra moderna não-litúrgica de autores portugueses
  4. O compositor da música litúrgica: Cónego António Ferreira dos Santos
  5. Os Pueri Cantores: Schola Cantorum da Catedral de Santarém
  6. Órgão-de-Tubos e seu tangedor: Igreja da Lapa no Porto
  7. Formação musical dos sacerdotes: Seminário dos Olivais
  8. O compositor da música litúrgica: Padre Manuel de Faria
  9. Cântico novo: a tradição e o presente
  10. A formação do músico litúrgico: Padre António Cartageno 

domingo, 3 de março de 2019

Crítica ao Graduale Romanum de 1974 / Triplex de 1979

Actualização: depois de detectar um equívoco importante que comprometia todo o raciocínio exposto neste artigo, o autor optou por retirá-lo do ar esperando em breve corriji-lo e republicá-lo. Pedimos desculpa pelo incómodo.

Comprar o Graduale Romanum de 1974
Comprar o Graduale Triplex de 1979

https://www.facebook.com/notes/francisco-vila%C3%A7a-lopes/cursos-canto-gregoriano-2019/1972610229474891/

Frequentar Cursos de Canto Gregoriano em 2019

domingo, 25 de novembro de 2018

2ªs Vésperas Solenes do 1º Domingo do Advento / Dominica I Adventus Ad II Vesperas Sollemnes

Recursos para o canto da hora em epígrafe com Presbítero a partir de reportório histórico português, na forma ordinária do rito romano. Celebração em idioma misto, com alguns cânticos em português, outros em latim, conforme se achou conveniente.
  • Partes para o côro, para impressão em formato grande (A3 ou maior) em exemplar único para todo o côro (PDF)
    Faltam aqui os textos dos salmos para as 1ª e 2ª antífonas assim como a do Magnificat, pois inicialmente havíamos previsto cantá-los em Latim; podem portanto cantar-se a partir da edição do Secretariado Nacional da Liturgia; no cântico da 3ª antífona, faltam uma ou outra aleluia no Gloria Patri que facilmente se podem acrescentar à mão depois da impressão.
  • Partes para o sacerdote celebrante (PDF)
    Aqui tentámos recuperar a tradição veiculada em Talésio (pág. 108) de o Celebrante "alevantar" (iniciar) as antífonas 1ª e de Magnificat; dá-se igualmente os tons do Pater noster e Benedicamus Domino próprios da L.H. nos Domingos de Advento.
  • Traduções para o pôvo (PDF)
    Apenas dos cânticos em latim, para permitir a compreensão de todos.
Um agradecimento ao grupo de discussão dos Ofício Divino e Breviário pela ajuda.

FICHA TÉCNICA
Dominica I Adventus Ad II Vesperas Sollemnes
2-12-2018

Textos portugueses: cfr. http://www.liturgia.pt/lh/
Ordinário: http://www.liturgia.pt/lh/pdf/1200Ordinario.pdf
1º Domingo do Advento: http://www.liturgia.pt/lh/pdf/012AdvDomI-III.pdf
1º Domingo do Saltério: http://www.liturgia.pt/lh/pdf/080101DomI.pdf



Excerto do tratado Arte de canto chão do Mestre Pedro Talésio (1618).


Melodia do Hino: http://pemdatabase.eu/musical-item/16992
Outras melodias (não utilizadas) para a mesma métrica:
http://pemdatabase.eu/musical-item/19664
http://pemdatabase.eu/musical-item/17459
http://pemdatabase.eu/musical-item/17806
http://pemdatabase.eu/musical-item/17575
http://pemdatabase.eu/musical-item/16943
http://pemdatabase.eu/musical-item/17483

Em vez do hino que por lapso se retirou do I Domingo do Saltério, pode cantar-se este mais próprio do Advento:



1ª Antiphona: Jucundare filia Sion http://pemdatabase.eu/musical-item/25169
Tom salmódico: Talésio p.57 http://www.purl.pt/72



2ª Antíphona: Rex noster http://pemdatabase.eu/musical-item/9020
Tom salmódico: Talésio p.63 ibidem (próprio para o salmo In exitu Israel)



3ª Antíphona: Ecce venio cito http://www.e-codices.unifr.ch/en/fcc/0002/5v
Tom salmódico: Talésio p.60
Tom do cântico aleluítico na edição típica da L.H. na F.O. fotografado pelo Mestre Ján Janovčík:




Leitura: Talésio p.91,87

Responsório breve: Ostende http://pemdatabase.eu/musical-item/8585
Gloria Patri: Talésio p.77

Ant.Mag.: Ne timeas Maria http://pemdatabase.eu/musical-item/9051
Tom do Magnificat: Martins p.68 http://purl.pt/17344/1/index.html#/68/html



Preces para as Vésperas: http://www.liturgia.pt/lh/pdf/1102PrecesVesperas.pdf
Refrão das Preces: https://archive.org/stream/processionariumm00cath#page/223/mode/1up

Pater noster: Talésio p.111

Bênçãos de Advento: http://www.liturgia.pt/lh/pdf/1104FormBenLauVes.pdf

Conclusão: cfr. http://pemdatabase.eu/musical-item/15999
Canon do Amen: http://digital.slub-dresden.de/werkansicht/dlf/90201/10/

Benedicamus Domino: Talésio p.106


GRAVAÇÃO INDIVIDUAL

domingo, 17 de dezembro de 2017

Cantar do Manuscrito Antigo

Hoje partilhamos convosco os cânticos do Kyriale que canto na Missa. Todos eles se encontram disponíveis para consulta digital na Portuguese early music database.
  • a Missa in diebus ferialibus do Kyriale escrito em notação quadrada semimensural em 1613 na Colegiada de Guimarães e hoje presente na mesma cidade no Museu de Alberto Sampaio com a cota LC 7, aos fólios 032v-033r e seguintes.
  • e a Glória do Graduale integrado com sequências e Kyriale, escrito em notação quadrada, originário da arquidiocese de Sens em França a partir de 1297 e que se encontra hoje na Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa com a cota de manuscrito iluminado número 84, aos fólios 265r e seguintes.
Com a preciosa ajuda do Amigo Felipe Gomes de Souza Araújo de Inimutaba nas Minas Gerais, transcrevemos estes cânticos para formato gregorio, que agora publicamos, sem especiais pretensões académicas, para uso livre na Liturgia e maior glória de Deus. Descarregai a partitura (PDF) e os códigos-fonte (gabc, LaTeX).




Partilho as razões de ter escolhido estas versões manuscritas para cantar na Santa Missa:
  • Foi-me dada total liberdade artística.
  • Os manuscritos antigos são mais belos do que qualquer edição moderna. A beleza do manuscrito inspira o cantor a impregnar o seu canto de maior beleza.
  • A antiguidade do manuscrito ensina a amar a tradição e a encarná-la.
  • Os manuscritos portugueses (na sua origem ou no seu destino) são os mais próximos ao meu coração.
  • A grafia do latim medieval informa sobre a pronúncia local dos textos sagrados, à época, provando a existência duma pronúncia portuguesa, e que tento sempre seguir na Liturgia.
  • Optei pelas melodias mais simples pois o Reverendíssimo Sacerdote Prior da Igreja pediu-me que o povo participasse vocalmente do canto gregoriano.
  • O canto gregoriano não é um livro, mas um mapa de códices.
    • Os cânticos gregorianos não foram exactamente iguais em toda a Igreja ao longo dos séculos.
    • Encontram-se variantes textuais, melódicas, rítmicas, e na própria composição da ordo.
    • Uma variante não é mais correcta que outra: são diferentes, e apenas uma dentre as centenas existentes foi incluída na edição típica vaticana.
    • Por exemplo, a Glória que se apresenta neste postal tem claras semelhanças com aquela que recebeu na tradição o tropo Quem cives celestes e na edição vaticana o número XV; mas surgem igualmente diferenças significativas, tais como nalgumas cadências e liquescências, que dão a esta versão um sabor próprio.
    • O mesmo se diz dos outros cânticos escolhidos: o Kyrie da família do Deus genitor alme (XVIII na edição vaticana), que é mais simples e cantável, e do mesmo modo terminando uma 5ª abaixo; o Sanctus, ligeiramente ainda mais silábico que a versão típica; e o Agnus Dei, com entoações chegando à terça maior e cadências moles em vez de duras.
E o mesmo se dirá de quaisquer outros cânticos: Credo, próprio, tons de recitação das orações e leituras, dos versículos salmódicos, antífonas, responsórios e hinos das liturgia das horas, etc.. Algumas peças são verdadeiramente autênticas, quer no texto, quer na melodia. Tentarei um dia escrever sobre algumas particularidades que vou encontrando no reportório português.

Portanto, por estas várias razões, aconselho toda a gente a cantar sempre do manuscrito, na Liturgia.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Manual de Formação de Acólitos

Graças à generosa ajuda de vários amigos, apresentamos o

Cerimonial dos Acólitos
de Alberto Zwaenepoel (1956)
- descarregar PDF (18,5MB) -


Trata-se, a nosso ver, da mais importante e completa obra para a iniciação práctica dos acólitos, tratando todos os pormenores com cuidadosa atenção.

Embora um documento originalmente estrangeiro, esta edição histórica pode considerar-se representativa das melhores prácticas pré-conciliares em Portugal. O livro ostenta o Nihil obstat do Cónego António Gonçalves, o Imprimatur do Bispo Prienense D. Manuel, e as não menos preciosas notas de tradução do Padre Fernando Ferraz (nas páginas 13 e 53) que oportunamente avisam o leitor do que à época em Portugal poderia diferir do relatado no livro; ou seja, atestam que tudo o resto seria a tradição vigente.

Constitui, portanto, leitura essencial para todos os acólitos da Igreja de língua portuguesa, não sós os que servem na forma extraordinária do rito romano, mas também os que servem na forma ordinária ("hermenêutica da continuidade"), assim como os doutros ritos latinos (nomeadamente, no espaço lusófono, o bracarense).

Também o cantor encontrará utilidade neste estudo.

Para facilitar a leitura hodierna, deixamos algumas notas, relativas à tradução das principais expressões em latim, bem conhecidas então:

página 10: Que filhos da luz sejais.
20: Em nome do Pai ― e do Filho ― e do Espírito ― Santo. Ámãe.
O nosso ― auxílio ― está no Nome ― do Senhor.
As indulgência ― absolvição ― e remissão ― dos nossos pecados.
Com o Espírito ― Santo ― na glória ― de Deus Pai. Ámãe.
E ― a vida ― do vindouro ― século. Ámãe.
Bendito ― O Que vem ― em Nome ― do Senhor.
(do) Pai ― e (do) Filho ― e (do) Espírito ― Santo. Ámãe.
Abre, Senhor.
Deus ― vinde ― em nosso ― auxílio.
A minha ― alma ― louva ― ao Senhor.
21: do Santo ― Evangelho ― segundo São N.
25: E o Verbo Se fez carne. E prostrando-se adoraram-n'O. E prostrando-se adorou-O. Ao Nome de Jesus todos os joelhos se flictam.
27: Confesso. 
28: Glória ao Pai. Bendito seja o Nome do Senhor.
[Glória] a Deus. Nós te adoramos. Nós Te damos graças. Acolhe a nossa súplica.
[Creio em um só] Deus. E encarnou ... e Se fez homem. São adorados.
Dêmos graças ao Senhor, nosso Deus.
Tamanho [Sacramento] portanto. Veneremos inclinados.
30: Lavarei.
32: A Paz [esteja] contigo. E com o teu espírito.
33: minha culpa. apieda-Te de nós. dá-nos a paz. Cordeiro de Deus. Senhor, não sou digno. E a nós, pecadores.
45: Graças a Deus.
47: Asperfir-me-ás. Vi a água.
48: Bendize(i), Pai reverendo.
57: guiado.
58: atingido.
59: seus barretes. Se os ministros estão revestidos de dalmática ou tunícola abertas ou de capa abertas ou de capa, os dois acólitos seguram pela extremidade, com ambas as mãos, os paramentos &c.

*
*   *


Nota: para a melhor execução da música litúrgica segundo o Missal Romano de 1962, recomendam-se os cursos com Monsenhor Alberto Turco.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Sobre o discurso: "Canto Gregoriano: as possibilidades e as condições para o seu restabelecimento"


Encontrámos no sítio (entretanto indisponível) da Escola Diocesana de Música Sacra de Coimbra (EDMS - Coimbra), a transcrição de um discurso do Mons. Valentino Miserachs Grau (original italinao), brilhantemente traduzido à Língua Portuguesa. Queremos dar-lhe mais publicidade, pelas suas belíssimas e contundentes palavras.

O Discurso intitula-se: "Canto Gregoriano: as possibilidades e as condições para o seu restabelecimento". Dentre descrições contundentes, julguei por bem destacar, ainda, algumas partes. 

1. O Canto Gregoriano é algo muito benquisto nos vários documentos da Santa Igreja sobre a Música Sacra. A questão levantada naquele discurso, é o fato de um processo de "obscurecimento" de uma tradição da Igreja, ter levado à criação de novas músicas que geraram um empobrecimento generalizado, bem notável em alguns lugares. Transcrevo um trecho bem elucidativo, na sequência do discurso:

"O canto gregoriano executado pela assembleia não pode apenas ser restaurado - deve ser restaurado, em conjunto com o canto da "schola" e dos celebrantes, se se deseja um regresso à seriedade litúrgica, solidez de formas e universalidade que devem caracterizar qualquer espécie de música litúrgica digna desse nome, tal como ensinava S. Pio X e repetia João Paulo II, sem alterar uma coma. Como poderia um conjunto de melodias insípidas decalcadas dos modelos da mais trivial música popular alguma vez substituir a nobreza e robustez das melodias gregorianas, mesmo as mais simples, capazes de elevar os corações das gentes ao Céu?"

2. Quando o Mons. Valentino Miserachs, descreve sugestões para fazer renascer o Canto Gregoriano na assembleia, ressalta a uma certa popularidade da Missa "De Angelis", com o Credo III, o que se nota com facilidade. De uma pequena experiência minha, ao cantar o Kyrie daquela Missa, deparei-me com o povo a cantar. Por que não começar a cantar essas peças, assim como as outras, nas Santas Missas, nos Tempos Litúrgicos e ocasiões que assim convenham?

3. O monsenhor nos faz observar também alguns compositores que fizeram do Gregoriano essência de sua música. Ele cita Perosi, Refice, e Bartolucci, como contemporâneos do Motu Proprio "Inter Sollicitudines". Vede como é interessante o Introito da Messa da Requiem, de Perosi. Como esses compositores assim se inspiraram no Canto Gregoriano, não seria algo desejado que, também os compositores atuais os fizessem, em novas composições em latim, ou vernáculo, ainda que não sejam complexas ou para corais? Certamente já se nota algo disso, mas desejamos que seja mais explorado. Fui surpreendido com a leveza dessa melodia portuguesa: Eis que uma Virgem Conceberá. A partitura dela é de ritmo livre, ritmo das palavras, como no Canto Gregoriano.

4. O Mons. Valentino Miserachs, diz que o Canto Gregoriano é algo capaz de ser proposto a todos, de maneira a evocar certa universalidade, pois, em alguns países do mundo, as melodias locais trazem traços que vemos naquela Canto da Santa Igreja Católica. Recordo aqui o Cante Alentejano, com suas particularidades, muito interessantes. Aqui no Brasil, algumas melodias nordestinas, apresentam semelhanças com a Gregoriana, sendo diferente apenas o ritmo. Isso foi estudado e se encontra no livro "Música Brasileira na Liturgia", de vários autores. Nele, basicamente, se analisa traços musicais Brasil, e de como se podia utilizá-los na Liturgia; ele foi escrito logo após o Concílio Vaticano II.

Essas são algumas impressões. Recomendamos ao caro a leitor, que também veja esse discurso, e, se assim convier, também se inspire, sinta-se impulsionado a meditar na possibilidade de fazer o Canto Gregoriano ocupar o lugar que lhe é devido desde sempre.

Enfim, desejamos a todos um Feliz e Santo Natal. Que abramos os nossos corações a Jesus, Nosso Senhor, que vem e está às portas, e muito deseja cear connosco, se Lhe abrimos as mesmas. "Abri as portas a Cristo (...)". São João Paulo II. Findo com as belas palavras do papa Beato Paulo VI:

"O CÂNTICO DE LOUVOR que ressoa eternamente nas moradas celestes, e que Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, introduziu nesta terra de exílio, foi sempre repetido pela Igreja, durante tantos séculos, constante e fielmente, na maravilhosa variedade de suas formas". Beato Paulo VI, Laudis Canticum. 

sábado, 20 de fevereiro de 2016

2016 Cursos de Canto Gregoriano, Polifonia e Órgão de Tubos para Músicos Litúrgicos [ACTUALIZADO]

2016

Agosto

Julho

Junho

Abril

Março

Previstos, ainda sem data

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domingo, 20 de dezembro de 2015

As Respostas Polifónicas do Primeiro Grau - Introdução à Polifonia da Renascença

Hoje introduzir-nos-emos à Polifonia do Renascimento, género musical que éconsiderado pelo Magistério como sendo o mais sacro para a Liturgia Latina, depois - claro está - do Canto Gregoriano. Mas por onde começaremos? Por onde nos indica, precisamente, o Magistério, que é a via mais simples e segura.

Diz-nos a instrução Musicam Sacram de 5 de Março de 1967, publicada pela Sagrada Congregação dos Ritos e aprovada pelo Papa Paulo VI durante o Concílio Vaticano II, que na Missa há três graus de participação activa relativamente ao uso da música. O primeiro grau inclui as secções mais importantes da Missa e que deverão ser cantadas com prioridade. No canto do segundo grau apenas devem ser investidos esforços se o primeiro grau estiver satisfeito, e o mesmo sucede para o terceiro grau em relação ao segundo (excepto excepções excepcionais).

Já várias vezes disse isto em relação ao Canto Gregoriano: os tons e as respostas do primeiro grau são muito simples, curtas, sempre iguais e repetem-se ao longo duma mesma cerimónia; já os cânticos do segundo grau (ordinarium missae) exigem relativamente maior dificuldade por serem mais longos e ornados, mas o texto, permanecendo igual ao longo do ano litúrgico, é passível de manter-se com uma mesma melodia enquanto durar um tempo litúrgico, e variar como variam as côres dos paramentos; finalmente, o terceiro grau (proprium missae) varia todos os dias e é extremado na ornamentação.

O mesmo podemos dizer da Polifonia do Renascimento. Para os poucos córos litúrgicos que podem aventurar-se no reportório polifónico, não faz sentido querer preparar um motete para o Domingo de Ramos, que só será cantado uma vez no ano, quando nunca se cantou um Kyrie ou um Agnus Dei; e não faz sentido querer preparar um Credo quando não se canta um simples Amen.

Quais são então as orações do primeiro grau? Enumera-as o referido documento conciliar:
«29. Pertencem ao primeiro grau:
a) nos ritos de entrada:
- a saudação do sacerdote com a resposta do povo;
- a oração;
b) na liturgia da Palavra:
- as aclamações ao Evangelho;
c) na liturgia eucarística:
- a oração sobre as oblatas,
- o prefácio com o respectivo diálogo e o "Sanctus",
- a doxologia final do cânone,
- a oração do Senhor - Pai nosso - com a sua admonição e embolismo,
- o "Pax Domini",
- a oração depois da comunhão,
- as fórmulas de despedida.»

Retirando daqui o que só pode ser cantado pelo Celebrante (e obviamente não pode ser cantado polifonicamente), assim como o Sanctus (cujo nível de dificuldade na práctica pertence ao segundo grau), ficamos com as respostas polifónicas do primeiro grau:
  • Amen, que se canta no fim das orações colecta, sobre as oblatas, depois da comunhão, etc.
  • Et cum spiritu tuo ( = E com o teu espírito. ), que se canta para abençoar o celebrante em vários momentos importantes da Missa tais como antes do Evangelho, antes da consagração, etc.
  • Gloria tibi Domine ( = Glória a Ti, Senhor ) que é a resposta dada imediatamente antes da proclamação do Evangelho
  • Et cum spiritu tuo ... Habemus ad Dominum ( = Temos [os corações] no Senhor. ) e Dignum et justum est ( = É digno e justo [dar graças a Deus] ), do diálogo antes do prefácio da oração eucarística.
  • Sed libera nos a malo ( = Mas livra-nos do mal ), a última e única frase do Pai-Nosso que tradicionalmente é respondida pelo pôvo.
Muito bem. E onde se encontra este reportório? Quais as versões polifónicas da Renascença para estes textos?

[Actualização: a técnica do Fabordão]

Eu, sendo português, sou da opinião que devemos preferir sempre que possível as composições feitas em Portugal e/ou por autores Portugueses no Estrangeiro, pois essas são as que mais nos informam sobre a nossa própria tradição religiosa e litúrgica: quais os tempos e as festas com mais devoção, quais os textos escolhidos localmente para cada oração, qual o tratamento musical dado a cada texto, qual o número de vozes mais frequentemente escolhido, etc.. Desde a Reconquista aos muçulmanos que o reportório sacro português sempre sofreu influências doutros países, mas soube também criar uma identidade própria, e o vasto reportório polifónico de altíssima qualidade que chegou até nós é disso mesmo prova.

Para os nossos leitores do Brasil, creio que o mesmo raciocínio é de aplicar, uma vez que nesta época se estava dando a primeira missionação do território, o que no plano musical consistiu inicialmente na importação do reportório musical sacro praticado na Europa, sobretudo em Portugal. Existem, aliás, alguns códices antigos no Brasil que testemunham este facto, e muitos outros por estudar, que certamente mostrarão composições dêste período criadas originalmente no Brasil, mas para já não conheço nenhuma. Mas saíndo do Renascimento, e entrando no século XVII e seguintes, aparecem muitas composições originais de Brasileiros, ora com forte influência das obras renascentistas anteriores, ora da música que entretanto evoluíra na Europa, ora apresentando aspectos verdadeiramente originais. Para mais informações, não perder a História da Música Brasileira do Maestro Ricardo Canji.

Quanto às edições a usar, sou da opinião que devemos evitar as transcrições para a notação musical moderna. Embora muito difundida, esta notação não é a mais adequada para a música do Renascimento, principalmente porque a escrita dos compassos pode induzir em erro o cantor, habituado a acentuar as primeiras notas de cada compasso. Para além disso, as notas são relativamente pequenas, o que obriga a que todos carreguem papel durante o canto, e a colocação do texto é sempre uma opção do editor, por vezes questionável. Também resulta numa escrita menos económica uma vez que os silêncios das vozes obrigam a grandes vazios nas pautas quando estas são organizadas em sistemas. Não obstante, estas transcrições não deixam de ser muito úteis, por exemplo, para tanger o órgão.

Pelo contrário, para o canto, muito mais apropriada é a notação musical usada na Alta Idade Média e no Renascimento, a chamada notação mensural branca: mensural porque, contrariamente ao canto gregoriano, em que cada nota poderia ter um valor próprio em função do texto, na notação polifónica cada nota tem um valor "medido", ou seja convencionado numa relação aritmética simples com a unidade de tempo definida pela regência do maestro e aplicável a todas as diferentes vozes do agrupamento; e branca, porque, contrariamente aos neumas do canto gregoriano, que são todos preenchidos com tinta, os neumas da escrita polifónica não são preenchidos (na maioria dos casos), sendo só desenhado o seu contorno, com o objectivo de não causar borrões nem de a tinta passar para o verso do fólio (o outro lado da página).

Esta notação é superior para a escrita e interpretação da polifonia do Renascimento, por várias razões. Desde logo porque é a original, aquela na qual o compositor pensou a obra. Também, à semelhança dos códices gregorianos, apresenta as letras maiúsculas iniciais ricamente ornadas com motivos piedosos e musicais, que alegram o cantor, bem como o custos (guardião) no final de cada pauta, que o recorda de qual a nota a cantar de seguida. Depois, não mostra as vozes em sistema, mas cada uma no canto do campo visual quando se tem o livro aberto:
  • superius / cantus no canto superior esquerdo, isto é na metade superior da página esquerda
  • [contratenor] altus no canto sup. dt.º, i.e. na met. sup. da pág. dt.ª
  • tenor no canto inf. esq.º, i.e. na met. inf. da pág. esq.ª
  • e [contratenor] bassus no canto inf. dt.º, i.e. na met. inf da pág. esqª
Assim separadas as vozes, são óbvias várias vantagens:
  • A notação polifónica aproxima-se do canto gregoriano, o que faz o cantor descobrir na sua própria melodia o ritmo que dela emana, e não o do compasso.
  • Os silêncios ocupam pouco espaço, e as notas estão todas encostadinhas, economizando papel.
  • As notas são maiores, o que facilita a leitura à distância e dá ao cantor um incentivo difícil de explicar por palavras (maior audácia?).
  • Permite que todos cantem pela mesma partitura na estante / facistol, não havendo ruídos do manuseamento do papel durante a liturgia, nem preocupação se estamos na página certa ou não, nem de distribuir folhas nos ensaios e liturgias.
  • A partitura única, por sua vez, obriga os cantores a estarem próximos, com boa postura, a ouvirem-se e a apoiarem-se mutuamente nas intensidades do som, "como as pedras duma catedral" (fundamental).
Onde obter, então, estas partituras? Hoje apontarei um recurso valiosíssimo: a Base de Dados da Música Antiga Portuguesa, mais conhecida por Portuguese Early Music Database (pemdatabase.eu), da responsabilidade do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É de registo gratuito e permite consultar várias centenas de páginas de manuscritos antigos de música sacra, Canto Gregoriano e Polifonia do Renascimento, em fac-simile. Permite pesquisas dirigidas por códice, localização geográfica, século, tipologia litúrgica, compositor, etc.. Só não permite a descarga directa das imagens nem a sua reprodução pública sem autorização prévia.

Para o nosso caso, interessam-nos as respostas (responses) que se encontram num manuscrito do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra de meados do século XVI. Nos seus fólios 018v-019r podemos comtemplar umas belíssimas respostas polifónicas do 1º grau em latim. (Na base-de-dados existem outras 2 versões musicais para os mesmos textos: uma que tem a mesma melodia mas a partitura encontra-se inacabada, e uma outra também inacabada e com melodia diversa)

Como interpretar, então, esta notação? Num postal futuro abordaremos os aspectos mais específicos desta notação musical, mas para já ficam dois princípios familiares à notação quadrada do canto gregoriano:

Clave de C: a linha que passa entre os dois quadrados assinala a corda C.
Clave de F: a linha que atravessa o quadrado do lado esquerdo e passa pelo meio dos losangos do lado direito assinala a corda F.

Continua...

sábado, 20 de junho de 2015

Os Microfones na Igreja

Através do Maestro Luís Lopes Cardoso:

MARSHALL McLUHAN: SOCIAL MEDIA BETWEEN FAITH AND CULTURE: An International Conference, September 21-22, 2012
The University of St. Michael’s College in the University of Toronto 

Microphones in church 

Michael O’Connor September 22, 2012 

INTRODUCTION 

Most church histories acknowledge the importance of the printing press for the Protestant Reformation. Less attention has been paid to the transformation effected by the microphone in more recent times. For McLuhan, The microphone alters the relationship between speaker and public. We can’t imagine Ghandi, Bing Crosby, or Winston Churchill without the PA system; “That Hitler came into political existence at all is directly owing to radio and the public-address system” (Understanding Media, 300). 
In two places, McLuhan reflected on the impact of the microphone on Catholic worship: an article published in The Critic at the end of 1974, entitled “Liturgy and the Microphone”; and in the third interview with Fr Babin (1974-77), which repeats some of the material of the article. 
My aim in this paper is to review McLuhan’s remarks, to explore them further especially in the light of his distinction between hot and cool media, and to see if there are any consequences for the use of this technology in the Catholic mass today. I speak from the perspective of an insider, a believer, and a practitioner (a liturgical musician). 
For brevity’s sake, I will refer to the vernacular Eucharist of the 1970s (and beyond) as the “new mass,” and the Latin mass before Vatican II as the “old mass.” When I speak of the microphone, I am assuming a PA system such as can be found in virtually every church in the West. I will be focusing on the microphone on the altar—introduced in North American Catholic churches in the late 40s and 50s; McLuhan has things to say about the microphone on the pulpit, the preacher’s microphone, but it is the microphone on the altar that has had the biggest impact on Catholic liturgy. 

EXPOSITION

Let’s begin with McLuhan’s remarks on microphones and the Latin mass. Here’s a section from the article in The Critic
One of the more recent areas in which the mike has made its power of transformation evident / is that of liturgy and ritual. Many people will lament the disappearance of the Latin Mass from the Catholic Church without realizing that it was a victim of the microphone on the altar. It is not practical to say Latin into a microphone since the mike sharpens and intensifies the sounds of Latin to a meaningless degree. That is, Latin is really a very cool form of verbal delivery in which mutter and murmur play a large role, whereas the mike does not take kindly to humming indistinctly. Another effect of the mike at the altar has been to turn the celebrant around to face the congregation. (The Media and the Light, 111–12)
For McLuhan, technological innovation has had important consequences for Catholic ritual, consequences which were unforeseen and which remain largely unexamined. The old mass included a sacred ritual muttering, carried out by a priest set apart for the task, who stood at the altar and spoke with God and offered sacrifice on behalf of the people. This muttering took place largely out of the sight and hearing of the people—his face and his voice, and therefore his personality, were cloaked. The people did not need to follow all that was being done on their behalf—we might say, just as a patient need not follow the actions of the surgeon to feel the benefit of the surgeon’s work. 
The old mass is a cool medium: low-definition, not over-explained, appealing to more than one of the senses—and therefore encouraging attention and mental focus, but also allowing for participants to move in and out, since it includes repetitions, pauses, re-starts, silence. Like a cartoon in a newspaper, it does not explain everything, but works by inviting the participants themselves to join the dots, make connections, to fill in the story. When McLuhan attended the old mass at St Basil’s each day before lunch, he entered for 15 minutes into a cool, meditative ritual. 
The microphone changes that. When the priest’s words are amplified through a public address system, the public is addressed: this gives the impression that there is something to be heard, so they should pay attention. But if the words are in Latin, the microphone, “accentuates and intensifies the sounds of Latin to the point where it loses all of its power” (ML 143), “it sharpens and intensifies the sounds of Latin to a meaningless degree” (ML 112). It seems the enchantment of the Latin prayers is lost when they are amplified and broadcast; if the priest is addressing the public, the words he says must be those of the language that all share. And further, if the priest at the altar is now clearly entering into dialogue with the congregation, it follows that he should turn around and face them. 
The result is that the new mass is a hotter medium than the old mass—high-definition, conveying a great deal of information, addressing one sense above the other senses—in this case, hearing. A typical daily mass at St Basil’s today lasts longer than the old mass’s 15 minutes; and, with the exception of the time it takes to distribute communion, it is an almost unbroken sequence of amplified speech, nearly all of it from the priest. True, there is some movement and action, but almost always accompanied by the spoken word, broadcast through the mike. And the congregation’s participation is largely a matter of responding to broadcast cues from the priest. 
In McLuhan’s terms, this heating up of the mass, led by the microphone, with the goal of fostering greater participation, was bound to backfire. In Understanding Media, he claims that hot experiences must be “reduced to a cool state” before they can be assimilated (UM, 24). For the rare few, this might take the form of a serene Wordsworthian moment of emotion recollected in tranquillity, but McLuhan claims that this is not the norm: “For many people this cooling system brings on a lifelong state of rigor mortis, or of somnambulism, particularly observable in periods of new technology” (UM, 24). To draw an analogy: after an intense lecture, say on Hamlet, a group of students meets in the nearby coffee shop for an informal discussion of the play, to process material from the lecture. But most students feel so overwhelmed by the intensity of the lecture that they are unwilling or unable to engage in any kind of seminar of this kind; the hot medium leaves them dazed, or bored, and they sleepwalk into the next activity and give little further thought to Hamlet until the exam comes around. If McLuhan is right that the mike has “heated up” the mass, and that this heating up overloads participants to the extent that they must sooner or later turn on an internal cooling system, and consequently tune out—then we should not be surprised when people say that “mass is boring.” (The old mass may have been boring too, but for different reasons). 
McLuhan clearly believes that the mass in its essence is an example of a cool medium: its content is repetitive, non-linear, multi-voiced; it uses typology, symbol, allusion, parable, and silence. He claims that there is more scope for audience participation in a cool medium. Participation for McLuhan is “completion by the audience” (UM, 23). A hot medium, because it is high-definition, and more highly-organized, leaves less scope for completion by the audience. 
This might strike us as odd: that the old mass, which was in a language that very few people understood and was celebrated much of the time out of the direct sight and hearing of the congregation, was potentially more participative than the new mass, celebrated in the vernacular with the priest directly engaging the congregation, audibly and visibly. The new mass was designed precisely to foster participation; according to Second Vatican Council, in the Constitution on the Liturgy:
The rite of the Mass is to be revised in such a way that the intrinsic nature and purpose of its several parts, as also the connection between them, may be more clearly manifested, and that devout and active participation by the faithful may be more easily achieved. (SC 50)
This is only a paradox, McLuhan explains to Fr Babin, if we have the wrong idea of what matters most. We must not be “hypnotised” by content (ML 147), but must instead attend to the context, the wider, deeper reality of what is going on (i.e., ground rather than figure). Fr Babin voices the reaction of many, saying that McLuhan’s approach would surely mean a neglect of the message. McLuhan replies: “Isn’t the real message of the church in the secondary or side-effects of the Incarnation, that is to say, Christ’s penetration into all of human existence?” (ML 102). The true message is “being plugged into a person [Christ]” (ML 103). The message of the Bible is not the words, but “the effect on us, and that is conversion” (ML 104). So participation in the mass, for McLuhan, is not really about engaging with the content—that is, at best, only half a brain’s work—but plugging into a relationship, entering into the symbolic and mythic realm of ritual, performing it, and being changed by it. In other words, participation in the mass is about engaging with the medium itself. And this somewhat cooler approach seems to have been part, at least, of what Vatican II had in mind:
To promote active participation, the people should be encouraged to take part by means of acclamations, responses, psalmody, antiphons, and songs, as well as by actions, gestures, and bodily attitudes. (SC 30)
The encounter with the divine takes place in the embodied performance of ritual songs and traditional gestures. McLuhan says: “[…] the formative power in the media are the media themselves” (UM 21). When asked why he was so focussed on this subliminal power of the media, he replied that it was because “grace is subliminal” (quoted in Hungerford, Postmodern Belief, 58).

COOLING DOWN THE MASS?

So: if the goal is to foster greater participation, and if it is actually harder to participate in the new mass (a hot medium), than in the old mass (a cool medium), what’s to be done? One solution would be simply to return to the old mass. (Some of McLuhan’s remarks might suggest that this was his preference; I don’t know for sure.) Another would be to try to cool down the new mass. I will close with five brief thoughts on how that might be done (though they are workings out of the principles he put forward, they are probably far too prescriptive for McLuhan himself):

  1. The first concerns language: Let the liturgical vernacular be a real vernacular (and not a bureaucratic artifice)—that means that it must be genuinely “popular,” arising from oral cultures, having the “oral dimension of colloquial idiom and rhythm” (ML 110). Poetry and song are major means by which a language purifies and invigorates itself (ML 144). For McLuhan, the language of the tribe was purified by Mark Twain, Charles Dickens, James Joyce, and T.S. Eliot, as well as by jazz, rock and roll, and Irish folk music (ML 145). In a way, McLuhan sees the cool Latin of the old mass as just such a vernacular: originally a popular language, it is grounded in communities, retaining, even in writing, the cadences of an oral form; it is rhythmic, embodied, and facilitates meditation (ML 110).

    For McLuhan, the development of a genuine liturgical vernacular must be a fluid and ongoing process; it assumes small communities, and it would accommodate plenty of variety. Rome, he says, is “far too tentative,” and resists this, contending that it could not work (ML 148). And Rome is also impatient, insisting “that liturgy become as rigid as hardware, as soon as possible. To me that is exactly what cannot work in an electric world, especially with our adolescents” (ML 149).

    (McLuhan would probably have the same complaint about the new translation as he made about the previous one: that it was the fruit of a bureaucratic process led by people who had as much sense of poetry as a computer.)
  2. The second concerns ritual performance: Say less, sing more, and be silent more often (the cool liturgy is less concerned with information and more with incantation). Words should be few and carefully weighed. I might not go as far as liturgical scholar John Baldovin, who suggests the complete elimination of all ad lib remarks during the liturgy, all off-the-cuff introductions and invitations (Baldovin 152–53). These may seem to be gestures of hospitality, but by demanding the congregation’s direct attention they heat up the liturgy; and on McLuhan’s terms, hot forms exclude, while cool ones include (UM 23). Singing, silence, poetic speech—all these appeal to the both sides of the brain, to the whole self.
  3. The third concerns the technology itself: Work with the mike to minimize the mike. Musician Thomas Day simply recommends: “turn them down.” The over-loud microphone can take at least two forms:

    a. Day calls the first the “command voice,” the super-loud priest or cantor who swamps the people and suppresses their voice.

    b. The second we could call the cozy, “fireside chat” voice, getting up close.

    Both are hyper-conscious of the microphone, allowing it to provide the sound projection, while the natural voice remains under-developed, or atrophies. Here the influence of popular music is evident—and of TV talent shows. McLuhan speaks of the soul singer who seems to disappear inside the mike (111). And Frank Sinatra said: “the microphone is the singer’s basic instrument, not the voice. You have to learn to play it like a saxophone” (quoted in Tony Schwartz, Media: the Second God, 131). A cool liturgy will take the opposite view, locating the voice in the speaker’s body, aiming for a natural sound on a human scale; the best microphone is one you don’t notice [cf. “A good shoe is a shoe you don’t notice” (C.S. Lewis, in Baldovin 98)].
  4. The fourth is a theological axiom: Receive the liturgy above all as God’s gift, and as a human work only in response to that gift. In the liturgy, the microphone lends authority—just as here today: the person at the mike claims your attention. The priest no longer mutters at the altar while everyone else gets on with their prayers; he is the presider of the assembly, expecting the assembly to pay attention to every word he says. This is not always welcome: “the individual at mass, in private meditation, is irritated by the strident amplified vernacular voice” (ML 113–14). The old mass subdued the priest’s ego by means of rubrics and the customs of reverence, and by hiding his face and subduing his voice. The new mass is a hot medium; it is therefore a more authoritarian medium, and more determined by the personality of the celebrant, who may be tempted to think that the liturgy is his own creation, his own property. The new mass gives the people far less protection from the ego and vanity of their priest than the old mass did. (That’s not to say that members of the congregation are immune from ego and vanity, but simply to recognize that the person with the mike has the much bigger impact.)
  5. The fifth is a reminder of one characteristic of all cool media: attend to all of the senses: there should be plenty to see as well as to hear; there should be distinctive and evocative smells and tastes, textures and movement.
The liturgical context is now obviously not the same as 1974. If McLuhan were alive, he might take issue with some of these points; but at least I could say that his remarks on the microphone got me started. 
Thank you.

sábado, 24 de janeiro de 2015

A música ouvida por Fernão Mendes Pinto

O aventureiro Português, a páginas tantas da sua Peregrinação pelo Extremo Oriente, descreve a Missa cantada que o herói António de Faria ouviu aquando do seu triunfal recebimento, a um Domingo de 1542, na povoação portuguesa de Liampó, na China.

Note-se que na época a Liturgia era celebrada em Latim, excepção feita aos sermões, e aos vilancetes, que eram pequenos poemas em língua vernácula; as orações cantavam-se em canto chão, isto é a uma só voz (canto gregoriano tardio), alternado com o canto d'órgão, ou seja a múltiplas vozes com ou sem o acompanhamento de instrumentos musicais de sopro ou corda (polifonia do Renascimento).

Quem na Liturgia de hoje cantar o gregoriano ou a polifonia saberá por experiência que o que vem adiante narrado não é mentirosa ficção nem desvirtuada paixão.
Capítulo 69
De que maneira António de Faria foi levado à Igreja, e do que passou nela até a Missa ser acabada.
Abalando-se daqui António de Faria, o quiseram levar debaixo de um rico pálio, que seis homens dos mais principais lhe tinham prestes, porém ele o não quis aceitar, dizendo que não nacera para tamanha honra como aquela que lhe queriam fazer, e seguiu seu caminho sem mais fausto que o primeiro, que era acompanhá-lo muita gente assi Portuguesa, como da terra, e doutras muitas nações que ali por trato de mercancia era junta, por ser este o milhor e o mais rico porto que então se sabia em todas aquelas partes, e levava diante de si muitas danças, pélas, folias, jogos, e antremeses de muitas maneiras que a gente da terra que connosco tratava, uns por rogos, e outros forçados das penas que lhes punham, também faziam como os Portugueses, e tudo isto acompanhado de muitas trombetas, charamelas, frautas, orlos, doçainas, harpas, violas d'arco, e juntamente pífaros, e tambores, com um labarinto de vozes à Charachina de tamanho estrondo que parecia cousa sonhada. Chegando à porta da igreja, o saíram a receber oito padres revestidos em capas de brocado e telas ricas, com procissão cantando Te Deum laudamus, a que outra soma de cantores com muito boas falas respondia em canto d'órgão tão concertado quanto se pudera ver na capela de qualquer grande Príncipe. Com este aparato foi muito devagar até a capela mor da igreja, onde estava armado um dorsel de damasco branco, e junto dele ũa cadeira de veludo cramesim com ũa almofada aos peis do mesmo veludo. E assentando-se nesta cadeira ouviu Missa cantada oficiada com grande concerto, assi de falas, como de instrumentos músicos, na qual prégou um Estêvão Nogueira que aí era Vigairo, homem já de dias e muito honrado, mas como ele pelo descostume andava mal corrente na prática do púlpito, e de si era fraco oficial, e pouco ou nada letrado, e sôbre isto vão e presuntuoso de quasi fidalgo, querendo então, por ser dia sinalado, mostrar quanto sabia, e quão reitórico era, fundou todo o sermão em louvores somente de António de Faria, com ũas palavras tão desatadas, e por uns termos tanto sem concerto, que enxergando os ouvintes em António de Faria, que estava corrido e quasi afrontado, lhe puxaram alguns seus amigos pelo sobrepeliz três ou quatro vezes para que se calasse, e caindo ele no que era, como homem acordado na briga, disse alto que todos o ouviram, fingindo que respondia aos amigos: «Eu falo verdade no que digo, pelos Santos Evangelhos, e por isso deixai-me, que faço votos a Deus de dar com a cabeça pelas paredes por quem me salvou sete mil de cruz que mandava de emprego no junco, os quais o pêrro do Coja Acém me tinha já levado pelo pau do canto como jogador de bola, que mau inferno lhe dê Deus na alma lá onde jaz, e dizei todos Amén.» E com esta desfeita foi tamanha a risada na gente que não havia quem se ouvisse na igreja. Despois que o tumulto foi calado, e a gente quieta, vieram seis mininos da sancrestia, em trajos de Anjos com seus instrumentos de música todos dourados, e pondo-se o mesmo padre em joelhos diante do altar de Nossa Senhora da Conceição, olhando para a imagem com as mãos alevantadas, e os olhos cheios de água, disse chorando em voz entoada e sintida, como que falava com a imagem: «Vós sois a rosa, Senhora», a que os seis mininos respondiam: «Senhora, vós sois a rosa», descantando tão suavemente cos instrumentos que tangiam, que a gente estava toda pasmada e fora de si, sem haver quem pudesse ter as lágrimas, nascidas da muita devação que isto causou em todos. Após isto, tocando o Vigairo ũa viola grande ao modo antigo, que tinha nas mãos, disse com a mesma voz entoada algũas voltas a este vilancete, muito devotas e conformes ao tempo, e no cabo de cada ũa delas respondiam os mininos «Senhora, vós sois a rosa», o que a todos geralmente pareceu muito bem, assi pelo concerto grande da música com que foi feito, como pela muita devação que causou em toda a gente, com que em toda a igreja se derramaram muitas lágrimas.


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