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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Liber Gradualis - Pars Festiva

Continuamos a tradução e republicação
dos fascinantes artigos contidos no 

  

NOVIDADE EDITORIAL

LIBER GRADUALIS
iuxta «Ordo Cantus Missæ», auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, in quo melodiæ restitutæ sunt e fontibus adhibitis in præparando Graduale Romanum secundum hodiernæ musicalis criticæ regulas.

Livro Gradual, segundo a Ordem do Canto da Missa promulgada com autoridade do Papa Paulo VI, no qual as melodias foram restituídas a partir das fontes consultadas na preparação do futuro Gradual Romano segundo as regras da crítica musical de hoje.


Formato 14x21 cm
724 páginas
Papel marfim 80g
Encadernação de fio cosido
Versos de capa e contracapa em papel algodonado marfim
Placas de capa, lombada e contracapa em imitação de couro verde garrafa
Estampa dourada na capa e lombada
Capitéis e 3 marcadores de cores diferentes

O LIBER GRADUALIS PARS FESTIVA é o volume de 724 páginas que reúne a proposta de restituição melódica do repertório gregoriano da Missa elaborada por Mons. Alberto Turco e seus colaboradores.

Nasce de um estudo atento e comparativo de muitíssimos testemunhos antigos transcritos em tabelas sinóticas guardadas como tesouro precioso no atelier de Paléographie da Abadia de Solesmes. Acima da versão neumática em notação quadrada, aderente às mais recentes aquisições gráficas, vem relatada a mais antiga notação em campo aberto dos manuscritos sangaleses. A notação neumática de São Galo é, de facto, a mais rica que todas as outras em fornecer indicações do ponto de vista expressivo, estético e modal, indicações mais que suficientes para uma interpretação correcta e artisticamente significativa.

Neste primeiro volume incluem-se todas as celebrações festivas, enquanto o segundo, a publicar em breve, será dedicado às feriais. Ineludível ponto de referência para quantos amam, estudam e executam o canto da próprio Igreja romana.

Informações e encomendas:
EDIÇÕES DE MÚSICA ARMELIN
Riviera San Benedetto, 18-35122 Pádua
Tel +39 049 8724 928
www.armelin.it
info@armelin.it

Prefácio

O Liber Gradualis, nos seus dois volumes, recolhe quanto foi publicado em fascículos separados, divididos por tempos litúrgicos, entre os anos de 2009 e 2016, revisto, corrigido e ampliado em vista desta edição. Se aqueles fascículos, na sua praticidade editorial e gráfica, se destinavam mormente ao estudo pessoal e do côro, a presente edição responde também à exigência de quantos desejam utilizar na liturgia a versão melódica preparada por Alberto Turco e pelo grupo de trabalho que colabora com ele. Tal versão não quer ter a pretensão nem da oficialidade, reservada unicamente à edição típica da Vaticana, nem da exaustividade, nem sequer da exclusividade, pois sabemos que os estudos sobre o canto gregoriano estão bem longe de se concluírem em todas as frentes. E, todavia, esta edição quer apresentar-se como magis crítica [1], em comparação não só com a Vaticana, mas também a outras propostas similares.

[1] Como requerido pela Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II: “Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X" (SC 117).

O ponto de partida, para nós inequívoco, são os estudos semiológicos e modais surgidos em torno do atelier de Paléographie da Abadia de Solesmes. O próprio título - Liber Gradualis - refere-se à primeira obra homónima publicada em 1883 por dom Joseph Pothier (1835-1923) que constitui a primeira pedra de uma construção bem ordenada que ainda agora continua a ser edificada, com o contributo de quantos hoje se põem séria e verdadeiramente na esteira de dom Eugène Cardine (1905-1988) e dom Jean Claire (1920-2006). Precisamente a partir da sua actividade científica, a semiologia e a modalidade gregorianas receberam um notável impulso, permitindo uma compreensão e uma interpretação da monodia litúrgica mais consentânea com a verdade dos factos históricos documentados pelos manuscritos. O estudo directo das fontes antigas continua sendo um trabalho insubstituível para se chegar a uma proposta de restituição melódica filologicamente correcta e criticamente aceitável. O caminho traçado pela Édition critique do Graduale Romanum [2] com o amplo reconhecimento dos manuscritos, as suas relações genealógicas, alguns levantamentos e uma proposta exemplificativa de restituição melódica [3], é aqui retomado e acolhido no método, complementado com o que os estudos posteriores evidenciaram, em particular os da semiomodalidade, para atingir critérios bem definidos, compartilhados e compartilháveis, ​​quanto à escrita e aos semitons da corda móvel, respeitando a natureza das fórmulas relativamente ao aspecto estético modal. 

[2] Le Graduel Romain, Edition critique par les moines de Solesmes, IV Le texte neumatique, vol. I, Abbaye Saint-Pierre de Solesmes 1960 e vol. II Abbaye Saint-Pierre de Solesmes 1962.

[3] La missa “Ad te levavi”, ibidem, vol II, pag 63-89.

Para conveniência dos estudiosos relatamos no final deste Prefácio o elenco de manuscritos apresentado na Édition critique. É precisamente a partir deste amplo confronto que é possível determinar uma versão melódica que encontra confirmação na convergência mais ampla possível dos antigos testemunhos.
Sobre a versão neumática em notação quadrada, é relatada a mais antiga notação in campo aperto dos manuscritos de St. Gallen, deixando de fora a de Laon, em linha com a escolha do Graduel Romain no seu ensaio de restituição melódica [4].

[4] Ibidem.

Especificamente, os manuscritos utilizados são os mesmos reportados pelo Triplex:

Gal1 = St. Gallen 359, Cantatorium, (séc. X);
Ein = Einsiedeln 121, Graduale, (segunda metade do séc. IX);
Gal3 = St. Gallen 376, Graduale, (séc. XI) na ausência de Ein;
Har = St. Gallen 390-391, Antifonário de Hartker, (aa. 980-1011) para as Communio retiradas do Antiphonale.
Para os tons salmódicos das Communio, fez-se referência a Ein e G381, (St. Gallen, Stiftsbibl. 381) Versicularium, (primeira metade do séc. XI).

Sob o título de cada peça, apresentam-se as siglas dos manuscritos dos Antifonários da Missa, sem notação musical, dispostas em sinopse no Antiphonale Missarum Sextuplex de dom René-Jean Hesbert:

M Cantatorium de Monza (segundo terço do séc. IX)
R Graduale de Rheineau (cerca de 800)
B Graduale de Mont-Blandin (séc.s VIII-IX)
C Graduale de Compiègne (segunda metade do séc. IX)
K Graduale de Corbie (depois de 853)
S Graduale de Senlis (finais do séc. IX).

Tal como no Graduale Triplex, a letra grega λ indica uma lacuna no manuscrito.

O aparato crítico que ilustra o trabalho realizado e as escolhas efectuadas para boa parte do repertório está disponível na série Subsidia do Centro di canto gregoriano e monodie «Jean Claire» de Verona junto das Edizioni Melosantiqua [5], à qual se remete.

Uma anotação particular merecem duas escolhas aqui efectuadas e que marcam um seguro progresso.

A primeira. Nesta edição foi abordado o tema do quilisma no intervalo de quarta ou de quinta já delineado por Cardine no Liber Hymnarius [6] e bem evidencado na Edition critique [7] à luz dos manuscritos diastemáticos e em parte adiastemáticos.

[6] Antiphonale Romanum Tomus alter, Liber Hymnarius cum Invitatoriis et aliquibus Responsoriis, Solesmis 1983, e.g. resp. Ecce vicit p 512, 4ª pauta al-leluia. Sobre este tema ver também ALBERTO TURCO, A colocação do «quilisma» no scandicus, in Vox gregoriana, Boletim informativo do centro de Canto Gregoriano e monodias «Dom Jean Claire» - Verona, n° 3 Setembro - Dezembro 2019, pp 8-12.

[7] Cfr. nota 3.

A segunda. Os versetos dos Intróitos e das Comunhões do III tom apresentam a versão melódica estereotipada da cadência mediana, retirada do Versicularium 381. Todas as Communio foram dotadas de um verseto salmódico, na selecção operada por Ein.

O auspício é que este ulterior trabalho possa contribuir para o verdadeiro progresso dos estudos restitutivos, bem como para a difusão daquele canto que a Igreja não hesita em definir como "próprio" [8] e em preferi-lo na liturgia às outras linguagens musicais.

[8] SC 116

Mons. Alberto Turco
Dom Nicola Bellinazzo
Dom Gilberto Sessantini

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Alberto Turco: Iniciação à Paleografia

Continuamos a tradução e republicação
dos brilhantes artigos contidos no 

  

Alberto Turco

INICIAÇÃO À PALEOGRAFIA

Iniciação à «paleografia musical», à antiga escrita musical, é o tema do presente curso de canto gregoriano. A que nós temos nos nossos livros é uma «neografia» da escrita musical. Entre a paleografia e a neografia musical não há solução de continuidade. Não se decidiu num determinado dia passar da paleo... para a neo... -grafia, para se encontrar ainda nos livros actuais e também na música moderna - mais uma vez, não há solução de continuidade - os sinais paleográficos um pouco evoluídos. Todavia, será interessante descobrir o que da escrita evoluiu e o que mudou.
Digamos imediatamente que a notação neumática é «quironómica». O termo de origem grega χείρ = «mão» e νόμος = "regra" ou, mais provável, νευμα = «sinal», quer dizer que o gesto da mão traduz o neuma que segue a melodia. A definição de Dom E. Cardine é ainda mais significativa: «o ductus da pena desposa o ductus da voz».
É realmente verdade! Para aqueles que procuravam escrever no pergaminho tudo o que podiam - não muito, de facto! -, a sua mão seguiu a sua voz. Em palavras mais simples, a sua mão procurava exprimir o que estavam efectivamente executando. Daqui, o desenho gráfico dos «neumas»:

podatus e certamente não


Capítulo I

ORIGEM DOS NEUMAS

A origem do neumas é assaz misteriosa. Mas, crê-se - e parece lógico - que os primeiras anotadores houvesses tomados em empréstimo os sinais que então usados para a música da palavra, isto é, os sinais de acentuação. Com efeito, era a única notação musical possível, mesmo que para nós não se trata de uma verdadeira notação musical.

«Acento», do latim accentus, composto por ad e cantus, é sinónimo de sílaba acentuada, cantada acima das outras e desenhada um sinal, um acento.
Os músicos tomaram os sinais dos acentos gramaticais para escrever a música, pelo facto de que já havia na sua palavra latina este elemento cantante, o chamado «cantus obscurior». Acentos havia dois, o acento agudo e o acento grave, e não era necessário inventar um outro.
Tomaram-se estes dois acentos como sinais neumáticos. Chamam-se sinais comuns, naturaisgerais, em contraposição a tudo o que é artificial, se assim se pode dizer.
O acento "agudo" () é traçado de baixo para cima e inclinado um pouco para a direita, quando é "sangalês".
O acento "grave" deveris ser o oposto de agudo; mas de facto, tomou uma extensão mais pequena e, na maioria das vezes, foi escrito horizontalmente (). Foi escrito de "esguelha" () para indicar um grande intervalo melódico descendente de terça ou quarta.
Eis quanto podiam fazer os músicos com estes dois sotaques, que porém não marcavam os intervalos.

Com os dois sinais fundamentais dos acentos - o acento agudo que sobe e o acento grave que desce - os músicos escreveram uma boa parte da música. Mas, não somente com sinais isolados, mas também com sinais "combinados":


grave - agudo


agudo - grave


grave - agudo - grave


agudo - grave - agudo


agudo - grave - grave

grave - agudo - agudo

Neste ponto, percebem-se já os limites deste sistema. Quando há duas notas, é claro que uma é grave e a outra é aguda, a menos que estejam em uníssono. Mas quando houver duas notas graves ou duas notas agudas de seguida? Seguramente haverá uma com um segundo emprego, que não se adaptará plenamente à definição. Tudo isto é muito relativo!
Tomemos o caso da sucessão de tractulus, à qual segue virga e tractulus:

Esta escrita neumática diz-nos que os dois últimos sons são inferiores ao último dó. A virga que os precede sublinha o acento. Na hipótese do exemplo citado, o acento está em uníssono com o que o preceder. Portanto, o uníssono dos dois últimos tractulus não é o mesmo que aquele que precede a virga. Ao invés, na hipótese que a virga indique um som mais agudo que o uníssono dos tractulus precedentes, não temos modo de saber se os tractulus depois da virga coincidem com o uníssono dos que a precedem. Tudo é relativo! Uma coisa é certa: com dois sinais, não se poderão nunca meter em relevo três intervalos. É inútil procurar! É metafisicamente impossível!

O verdadeiro drama tem que ver outrossim com o significado “mensuralístico” que se quis atribuir a estes dois sinais: o tractulus, a ser interpretado como “som breve”; a virga, “som longo”. Não se sabe quando isto aconteceu; mas sabe-se que esta interpretação mensuralista dos dois sinais durou até meados do séc. XIX.

E isto poderia ter-se verificado no séc. XII e XIII, na época em que a virga e o tractulus eram ainda as unidades de base. Uma vez transferidos os neumas para a pauta musical, a diferença entre nota alta e nota baixa era evidente e, portanto, não havia mais necessidade de virga e tractulus.
Todavia, a tradição de considerar a virga e o tractulus de diferentes valores rítmicos permaneceu por longo tempo. Nas velhas edições de Solesmes existem ainda algumas notas quadradas com hastes: por exemplo, na sequência Lætabundus de Natal, em Variæ preces (p. 70). Não nos é dado porém saber se os teóricos atribuíam efectivamente a estas virga um valor mais longo que às outras!

Foram necessários as provas de Dom J. Pothier [1] e Dom A. Moquereau [2] para demonstrar o contrário.

[1] POTHIER J., Mélodies Grégoriennes d’après la tradition, 1880 (ed. italiana : Le melodie gregoriane secondo la tradizione, Tournai-Roma, 1890). No Congresso de Arezzo, em 1882, três relatos: De la virga dans les neumes (48 p.), Une petite question de grammaire à propos du plain-chant (24 p.), La tradition dans la notation du plain-chant (32 p.) : cfr. COMBE P., Histoire de la restauration du chant grégorien d’après des documents inédits, Solesmes, 1969, p. 102.

[2] MOCQUEREAU A., Les accents grammaticaux et la mélodie du discours, in «Le nombre musical grégorien ou Rythmique grégorienne», t. I, Rome, Tournai, 1908, p. 132.

Vêm mais argumentos ao caso; mas o mais convincente é o do Versicularium sangalês (cód. St. Gallen, Stiftsbibliothek 381, século XI), o manuscrito que contém os versetos dos intróitos e das communio de todo o ano.

Os versetos mostram os tons solenes. Em muitos destes tons, descobre-se que
        - a 1ª parte do verso é assinalada com virga;
        - a 2ª parte (após o asterisco), com tractulus;



O emprego diferente das duas grafias é determinado pela posição do recitativo, com referência ao movimento melódico precedente e seguinte:
Pelo exemplo do tom relatado, é impossível crer que, na primeira parte, se cantassem sílabas de dois tempos (virga) e, na segunda parte, sílabas breves (tractulus). E no entanto, músicos de igreja e presidentes do Pontifício de música sacra acreditaram e praticaram isto. É a base do mensuralismo:

        punctum = breve            virga = longa

e, por consequência, o resto:

        podatus = três tempos:  1 breve + 1 longa

Em defesa de um certo mensuralismo, os teóricos do séc. XII e XIII sustinham que a música é paragonável à poesia, onde existem pés longos e pés breves. Era efectivamente uma realidade para eles? Tratava-se duma sua invenção ou, mais provavelmente, uma tentativa de explicar como cantar música? É difícil dizê-lo!
Dom Pothier e Dom Mocquereau falam de ritmo oratório: o ritmo do canto gregoriano é o ritmo do discurso.
Portanto, virga e tractulus: dois sinais de alternância relativa, não de longueza!

A escrita sangalesa tem uma preferência pela virga: nos casos incertos, tendo que escolher, escolhe a virga.
Quando uma linha melódica sobe em modo regular, obviamente, pode indicar-se com um punctum ou tractulus, metendo uma virga no agudo para o som mais alto... ou se não apenas virgas. Bem! São Galo escolhe a virga. Por que motivo? Porque a virga oferece indicações adicionais em comparação com o punctum (tractulus).
Tomemos o seguinte texto:


Hartker (f° 25) escreve quatro virga dispostas de maneira ascendente, indicando assim uma diastemacia que poderíamos definir como "precisa", no sentido de que, quando conhecemos o que o compositor pretende, podemos segui-lo; mas quando o não sabemos, estamos seguros de nos enganarmos seguindo-o.
É preciso admitir que a virga é mais adequada que o punctum/tractulus para indicar esta diastemacia, este meter em cena das notas.
Os compositores procuraram de vários modos precisar a diastemacia da virga empregando virga de várias dimensões: cfr. exemplo seguinte, retirado do Antifonário-Gradual de Mont-Renaud, séc. X-XI, f° 73v;

ou recorrendo a letras adjuntivas de significado melódico:
s = superius: um pouco mais alto;
i = inferius: um pouco mais baixo, etc.

Isso para dizer o quão adiante tiveram que seguir! Infelizmente, os compositores não haviam inventada ainda a “linha” para indicar o uníssono. Tome-se o exemplo de Reges Tharsis, o ofertório da Epifania:

Neste exemplo, os neumistas ainda não tinham qualquer ideia da representação gráfica do uníssono. Há essa mudança de posição da segunda virga que ofusca a ideia de uma linha horizontal.
Todavia, neste exemplo, evidencia-se a diferença entre:
uma virga episemada
e o punctum tornado stropha, no estilo ornado.

Entre as duas grafias há uma diferença, não de longueza, mas de expressão.
Com o tractulus, não se podem fazer grandes coisas. Vem escrito horizontalmente ou com grafia inclinada:

A grafia inclinada do tractulus indica a descida da nota por um intervalo de terça ou de quarta.

Os «Episemas»

Venhamos ao jogo dos episemas:
- para a virga: um pequeno traço, no topo, perpendicular 
Às vezes é bastante dúbio, porque pode ser causado pelo simples relaxe da pena;
- para o tractulus, por sua vez, existem três grafias de uso:
        - a grafia no estado simples, 
        - a grafia com um episema perpendicular no fim e por vezes bastante forte, muito mais evidente que para a virga 
        - a grafia com dois episemas 

Uma redução gráfica do tractulus é assinalada com um ponto ( . ). Esta grafia encontra-se somente nalguns manuscritos, entre os quais o Cantatorium (St. Gallen, Stiftsbibliothek 359, séc. X in.), o manuscrito mais antigo, mas também o mais perfeito do ponto de vista gráfico, o mais cuidado nos detalhes. Depois disto não há se não decadência. O Cantatorium usa o pequeno punctum no estilo ornado da missa.
Laon (cód. Laon, Bibl. Mun. 239, Graduale, cerca de 930) usa o pequeno punctum mais frequentemente que São Gallo.
Cada escola tem as suas vantagens e desvantagens. Não podem ter tudo nem exprimir tudo.

(continua)

terça-feira, 9 de abril de 2024

Turco: a colocação do «quilisma» no scandicus

Continuamos a tradução e republicação
dos magníficos artigos contidos no 

Boletim informativo do centro de Canto Gregoriano «Dom Jean Claire» - Verona
n° 3 - Setembro - Dezembro 2019

 

Alberto Turco

A COLOCAÇÃO DO «QUILISMA»
NO SCANDICUS

O quilisma ocupa o lugar dentro do intervalo melódico da terça. O quilisma não se dá no intervalo de quarta e, muito menos, no intervalo de quinta. Fora do intervalo de terça, os livros de canto da restauração gregoriana deram algumas soluções. Tomemos o exemplo do Resp. Ecce vicit leo...al-lelúia”.

As soluções dos livros de canto:
- o OHS (p. 583) tem a dicção melódica “la-re-mi” de um scandicus-quilisma (n. 1);
- o LR (p. 89) e o PM (p. 68) contêm a dicção melódica “la-re-mi-re” de um pes + clivis (n. 2);
- a NR (p. 435) tem a dicção melódica “la-si-re” de um scandicus-quilisma (n. 3);
- o LH (p. 512) propõe a dicção melódica “la-re-mi” de um pes + virga liquescente (n. 4). Dom E. Cardine escolheu a presente dicção melódica, na óptica de uma bem precisa tradição semiográfica.
Os referidos livros expressam, de facto, duas tradições: a tradição com o quilisma e a tradição sem quilisma.
Tomemos como exemplo o primeiro caso encontrado no GT, o Of. Ad te Dómine levávi ... “irrí-de-ant” (GT 17), em que a EC releva o problema, à luz dos manuscritos adiastemáticos.

À sílaba pós-tónica de “irrí-de-ant” são atribuídas três dicções neumáticas:

(Edição crítica) [1]

[1] Cfr. Le texte neumatique, IV, «Le Graduel Romain, Édition critique (EC)», Solesmes, 1962, pp. 82-83.

As traduções diastemáticas dos manuscritos da EC são as seguintes:

Nos manuscritos Klo1, Dij, Clu2, o scandicus-quilisma é traduzido em quatro sons conjuntos, com o som de passagem (quilisma) no âmbito do intervalo de terça. A esta solução remonta a dicção melódica de Sta1, com a grafia do quilisma em uníssono com o tractulus.
As soluções de Ben5, Van2, Den2, Rop, Alb não prevêm o emprego do quilisma. A dicção gráfica de Ben5 pretende significar um scandicus tout court. Portanto, não é correto fazer coincidir a nota de passagem do referido scandicus com o quilisma sangalês. Não esquecer que a função do quilisma está em estreita relação ou coligada à nota superior, à distância de um grau melódico conjunto!
Não se podem, portanto, misturar as tradições: a com o quilisma, e a sem o quilisma.

O quilisma vai traduzido só no âmbito de um intervalo de terça. Portanto, se se aceita a tradição com o quilisma, deve escolher-se a dicção melódica que se verifica em Klo1, Dij, Clu2 e muitos outros manuscritos. Sem o quilisma, é de seguir a mais provável tradição dos manuscritos diastemáticos. São de privilegiar da EC estes últimos, em quanto representam a tradição mais vizinha aos manuscritos adiastemáticos.

Da análise do conjunto das fontes, emergem três dicções melódicas possíveis: a primeira, com o quilisma no âmbito melódico da terça menor; a segunda, com scandicus subbipunctis; a terceira, com pes + climacus de ornamentação.

O nosso neuma representa o acento melódico “secundário”, no contexto da cadência redundante. Em quanto tal, pode ocorrer em qualquer sílaba, que preceda a redundância. Neste caso, o acento principal da redundância é constituído pela sílaba final ant de irrídeant, devido ao pronome final me: “ir-ríde-ant me”. O acento melódico secundário na sílaba precendente ao da redundância, ou seja, na sílaba de.
Portanto, a primeira dicção melódica, com o emprego do quilisma, mete em evidência a função da subtónica (Dó) do contexto compositivo, do qual surge a ornamentação do scandicus-quilisma subbipunctis.
A segunda dicção, formada por pes de acento melódico secundário, habitualmente presente nas cadências de protus plagalis (do-mi-re) + climacus de ornamentação.
A terceira dicção é representada por pes de antecipação, por graus melódicos conjuntos, do pes do acento redundante: do-ré / ré-mi, ligados entre si pela ornamentação do climacus.

FONTES

Manuscritos da Edição crítica solesmense:

Ein

cod. Einsiedeln, Stiftsbibl. 121, séc. X segunda metade, Graduale, notação sangalesa adiastemática (PM)

Klo1

cod. Graz, Universitäsbibl. 807, séc. XII, Graduale, notação lorenesa de Klosterneuburg em linha (PM)

Lan

cod. Laon, Bibl. Mun. 239, a. 930 circa, Graduale, notação lorenesa adiastemática (PM)

Van2

cod. Verdun, Bibl. Mun. 759, séc. XIII primeira metade, Missal, notação lorenesa em tetragrama (CG)

Cha1

cod. Chartres, Bibl. Mun. 47, séc. X, Graduale, notação bretã adiastemática (PM)

Rop

cod. Leningrado O v I 6, Graduale de Rouen, séc. XII, notação francesa em pauta

Alb

cod. Paris. Bibl. Nat. lat. 776, sec. XI, Gradual-Tropário, notação aquitana diastemática sem pauta (CG)

Ben1

cod. Benevento, Bibl. Cap. 33, Missal, séc. X-XI, notação beneventana adiastemática (MP)

Ben5

cod. Benevento, Bibl. Cap. 34, Gradual-Tropário-Prosário, séc. XI-XII, notação beneventana com linha (PM)

Dij

cod. Montpellier, Bibl. de la Faculté de Médecine H. 159, Graduale, notação francesa adiastemática e alfabética (PM)

Clu1

cod. Paris, Bibl. Nat. lat. 1087, Graduale de Cluny, séc. XI primeira metade, notação francesa adiastemática

Clu2

cod. Bruxelles, B. Roy. II 3823, Graduale, séc. XII início, notação aquitana em pauta

Ept

cod. Darmstadt, Hess. Landesbibl. 1946, Gradual-Sacramentario, a. 1000 circa, notação alemã adiastemática

Sta1

cod. London, Bibl. Mus. add. 18031-32, Missale de Stavelot, séc. XIII início, notação gótico-renana com pauta

Den4

cod. Paris, Bibl. Nat. lat. 9436, Missale de St-Denis, séc. XI meados, notação francesa adiastemática

Den2

cod. Paris, Bibl. Nat. lat. 1107, Graduale de St-Denis, séc. XIII segunda metade, notação quadrada em tetragarma

Livros de canto:

GT

Graduale Triplex, Solesmis, MCMLXXIX

LH

Liber Hymnarius cum Invitatoriis & aliquibus Responsoriis, «Antiphonale Romanum», Tomus alter, Solesmis, MCMLXXXIII

NR

Nocturnale Romanum (Editio Princeps), Romæ-Florentiæ-Veronæ, 2002

PM

Processionale Monasticum, Solesmis, 1983

OHS

Officium Maioris Hebdomadæ et Octavæ Paschæ, Romæ, MCMXXII

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

ALBERTO TURCO | Cursos Internacionais | Verão-Outono 2024 | Itália

Canto Gregoriano - corsi estivi internazionali

FARA SABINA (Rieti)
presso il Monastero delle clarisse eremite
8 - 13 luglio 2024

PADOVA
presso l’Abbazia di Santa Giustina
26 - 31 agosto 2024

ROMA
presso il “Seraficum” Collegio francescano dei frati minori conventuali
Via del Serafico, 1
00142 Roma RM


L’ALLELUIA MELISMATICO Origine e sviluppo
25 - 27 ottobre 2024
 - Verona



Per informazioni:
International Association Vox Gregoriana
ia.voxgregoriana@gmail.com
+39 351 8377138

Mais informações em língua portuguesa:

A Associação Internacional Vox Gregoriana tem o prazer de apresentar os Cursos de Fara Sabina e Pádua, agora na sua trigésima edição. Como no ano passado, o curso inclui um triénio fundamental para principiantes, um biénio de especialização para cantores e um “Mestrado Internacional” em interpretação, reservado a maestros e especialistas.

OFERTA QUINQUENAL

- TRIÉNIO FUNDAMENTAL

I. Iniciação ao canto gregoriano
Os cantos da Missa e do Ofício
História da notação musical
A notação quadrada, elementos auxiliares
O neuma, o ritmo, a interpretação
Os tons da salmodia silábica

II. O proto-gregoriano
Recitativos litúrgicos e salmodia pré-octoecos
Repertório anterior e formas litúrgico-musicais precedentes ao séc. IX
Análise estético-modal e datação das melodias

III. Introdução à paleografia
Origem dos neumas: acentos (neuma monossónico)
Modificação dos acentos: episema e liquescência
A combinação básica do sinal de acentos nos neumas fundamentais plurissónicos

- BIÉNIO DE ESPECIALIZAÇÃO

I. Semio-modalidade
O neuma e o modo da palavra cantada, através da análise do agrupamento gráfico (corte neumático) dos elementos sonoros do neuma

II. A interpretação do canto gregoriano
 Os efeitos verbo-modais na escrita neumática e sua interpretação rítmica no "estilo verbal".

MESTRADO INTERNACIONAL

Fara in Sabina: Exposição teórico-prática do ritmo gregoriano: do estilo verbal ao estilo melismático 

Pádua: As festas marianas: origens e difusão do Proprium Missae 

Cada mestrado aceita inscrições limitadas a 10 pessoas, a fim de se executarem as peças propostas. Também se aceitam inscrições de mais participantes, na qualidade de "ouvintes". Tanto a uns como a outros serão fornecidas as peças para estudo, em fotocópia. Texto para estudo: Liber Gradualis I, Pars Festiva.

MATERIAL DIDÁCTICO
Para todos os níveis de aprendizagem, Monsenhor Alberto Turco venderá a preços reduzidos manuais, tratados, cantorais, gravações em CD/DVD, etc. durante a realização do curso.

ACESSOS, ALOJAMENTO, REFEIÇÕES

Fara in Sabina: 8 - 13 de Julho de 2024
Aeroportos de Roma (Fiumicino, Ciampino)
Comboio até à Estação Ferroviária de Fara Sabina (junta à povoação de Passo Corese)
No largo da estação, Autocarro Autolinee Troiani linhas A/B/C ou Cotral, directamente até à povoação de Fara in Sabina (Comune)
Dormidas e refeições no Mosteiro das Clarissas Eremitas, séde do curso

Pádua: 26 - 31 Agosto de 2024
Aeroportos de Milão, Veneza, Bérgamo, Bolonha, Verona, Pádua.
Comboio até à Estação Ferroviária Central de Pádua (Padova)
Largo da estação (a sul), Autocarro ou Eléctrico
Ou Caminhada de 36 minutos a pé atravessando o centro histórico da cidade até Prato della Valle
Dormidas e refeições na Abadia Beneditina de Santa Justina, séde do curso

HORÁRIOS
Início às 15h30 de 2ª feira, conclusão ao almoço de Sábado
Aulas e ensaios durante a manhã e tarde para todos os grupos
Na 6ª Feira, concerto e Missa de encerramento

CUSTOS
Transferência bancária: Inscrição 45€
No local: Curso 110€ / Masters 160€ / Alojamento e refeições 50€/dia

INSCRIÇÕES
Cada participante deverá contactar a Associação Internacional Vox Gregoriana através de correio-electrónico, facebook, ou whatsapp +393518377138, e facultar os seguintes dados:

FORMULÁRIO DE APLICAÇÃO
Sobrenome____________________________________
Primeiro nome_________________________________
Nacionalidade_________________________________
Rua___________________________________________
Código Postal / Cidade__________________________
Província_____________________________________
Tel. _________________ celular. __________________
E-mail_______________________________________
Inscrevo-me no seguinte curso:
TRÊS ANOS FUNDAMENTAIS
I. Iniciação ao canto gregoriano __
II. O proto-gregoriano __
III. Introdução à paleografia __
ESPECIALIZAÇÃO DE DOIS ANOS
I. Semio-modalidade __
II. A interpretação __
MESTRADO INTERNACIONAL
Efectivo __ Ouvinte __

domingo, 14 de setembro de 2014

Cânticos próprios de Santa Cecília, Missa em 22 de Novembro de 2014

Se Deus quiser, comemoraremos o aniversário da constituição da nossa Escola de Música de Ferragudo cantando na Santa Missa no próximo dia 22 de Novembro de 2014, dia da Festa da Padroeira da nossa schola.

Eis as partituras, cujo PDF podereis descarregar:
  • Intróito Loquébar (MP3)
  • Gradual Áudi fília (MP3)
  • Aleluia Quínque prudéntes vírgines (MP3)
  • Ofertório Offeréntur régi vírgines próximae com o versículo Eructuáuit (MP3)
  • Comunhão Confundántur supérbi (MP3)
  • Final Cantántibus órganis (antífona de Laudes, MP3)
Todos os cânticos próprios estão editados em notação quadrada-neográfica, isto é com as informações melódicas, rítmicas, e expressivas, dadas pelos manuscritos gregorianos mais antigos, nomeadamente de São Galo. Inclui-se ainda o Confiteor Deo omnipotenti ... et tibi pater (MP3).


As peças do ordinário serão do Kyriale Romanum: Missa VIII De ángelis, com o Credo III.

Agradecimentos especiais:
*
*  *

Elo para a gravação dalguns cânticos durante a cerimónia celebrada pelo Padre Miguel Ângelo, 22-11-2015.


Santa Cecília

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Versiculário Gregoriano

Resumo dos tons salmódicos usados para declamar os versículos nas antífonas do intróito e da comunhão da Missa (cfr. De ritibus in cantu Missae servandis). Espero que seja útil. Qualquer dúvida que tenhais, colocai-a.

Descarregar PDF. Ou ver no Scribd:


Ao Luís Lopes Cardoso, maestro da capella, que reviu esta cábula;
ao Anton Stingl, editor do Graduale restitutum, pela revisão, correcção e sugestões feitas;
e ao Ricardo Marcelo, pelo manifesto uso que tem dado ao documento:
muito obrigado!


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Música Própria da 24ª Semana do Tempo Comum / Hebdomada XXIV per annum

Partituras:
Próprio completo (PDF)
Ofertório com versículos (PDF)

Traduções Portuguesas do Próprio (GDrive)

«Poder fazer penitência é uma graça de Deus»

24º Domingo do Tempo Comum, ano A



Cântico de Entrada Da pacem Domine sustinentibus te
e a Antífona Salve Regina , numa versão mais antiga e solene, cantada pelos Cantori Gregoriani, com a majestosa explicação do seu maestro, Fúlvio Rampi.




Comentário de Tiago Barófio sôbre êste intróito.





Salmo responsorial para a Missa de Sábado, ano par:
Na presença do Senhor, andarei na luz da vida.




Canta-se a Alleluia Timébunt gentes, aqui na voz do francês:




Ofertório Sanctificauit Moyses, pelo francês:




Ofertório no ano C: Precatus est Moyses in conspectu Domini Dei sui (a partir dos 5:37)



Comunhão Tollite hóstias, aqui cantada pelo Pêro Emanuel Desmazeiros:



No Domingo do Ano B canta-se Qui vult venire.
No Domingo do Ano C canta-se Dico vobis: Gaudium.
Na 2ª feira dos anos ímpares canta-se Hoc corpus quod pro vobis tradétur.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Graduale de Dominicis et Festis

A editora alemã ConBrio anunciou para 31 de Janeiro de 2011 o lançamento de um volume com as versões restituídas dos próprios dos domingos e festas do Graduale Romanum/Graduale Triplex. A restituição melódica e modal, feita de acordo com as notações primitivas, já constantes neste último livro, é da responsabilidade da secção alemã da Associação Internacional para o Estudo do Canto Gregoriano (AISCGre), tendo como editores Christian Dostal, Johannes Berchmans Göschl, Cornelius Pouderoijen, Franz Karl Praßl, Heinrich Rumphorst e Stephan Zippe, já responsáveis pela publicação em revista das mesmas revisões, colecção denominada Beiträge zur Gregorianik (Contribuições para o Gregoriano). A notação quadrada restituída será encimada pela notação primitiva de Metz e terá neumas da família de Saint Gall subpostos, conforme se pode verificar na imagem infra, na qual podemos ainda ver que uns e outros neumas não se encontram tão próximo da pauta como no Graduale Triplex, embora isso implique, no caso da notação de Saint Gall, que o texto latino fique mais afastado do tetragrama.
Segundo os editores, o volume, para além de consagrar as conclusões da investigação musicológica recente, dá resposta à exortação do ConcílioVaticano II constante na Sacrosanctum Concillium — Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia —, documento que, no seu ponto 117, pede que se prepare «uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X».
O volume custará 59€, 49€ para reservas feitas até 31 de Março de 2011.

Via The Chant Café.

Por favor comentai dando a vossa opinião ou identificando elos corrompidos.
Podeis escrever para:

capelagregorianaincarnationis@gmail.com

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