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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

"Silêncio: sete epigramas para côro a capella" (2012), Luís Lopes Cardoso

O Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa editou 7 curtas e belas peças da autoria do nosso querido Maestro Luís Lopes Cardoso, todas tendo em comum a ideia do silêncio através da espiritualidade cristã e a cultura europeia. Esta obra reúne excertos do então Padre José Tolentino Mendonça, Santo Arsénio o Grande, São Pémenes, Sophia de Mello Breyner Andresen, Bruno Munari, e São João Clímaco.

As partituras primorosamente cuidadas pelo autor podem encomendar-se do sítio do ensemble, que simpaticamente envia juntamente com o livrete o CD da sua respectiva gravação. Dá para ouvir no Spotify.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Os dias da semana em galego

Na maioria das línguas novilatinas, os nomes dos dias da semana originaram-se nas divindades pagãs em cuja honra tantos cristãos foram martirizados durante o Império Romano:
  • solis dies: dia do Sol
  • lunæ dies: dia da Lua
  • martis dies: dia de Marte
  • mercurii dies: dia de Mercúrio
  • iovis dies: dia de Júpiter
  • veneris dies: dia de Vénus
  • saturni dies: dia de Saturno
 
Coliseu de Roma.

Mas no século VI tivemos um Bispo Santo, São Martinho de Dume (518-79), o qual chegou a Arcebispo Metropolita de Braga e foi um zeloso apóstolo no Reino dos Suevos, outrora situado no noroeste da Península Ibérica, na antiga região romana da Galécia e hoje na actual Galiza e Norte de Portugal Continental, e com capital naquela cidade minhota. A sua memória celebra-se a 22 de Outubro ou a 5 de Dezembro, juntamente com os Santos Frutuoso e Geraldo.

Martinus episcopus bracarensis,
Códice Albeldensis, ca. 976.

Ora, São Martinho de Dúmio considerou indigno de bons cristãos que continuássemos a chamar os dias da semana pelos nomes dos antigos ídolos, e por isso divulgou os nomes do calendário litúrgico cristão:
  • Para o primeiro dia da semana, tomou-se o nome de Dominicus dies, que significa Dia do Senhor e originou o nosso Domingo; havia também a variante feminina Dominica dies, que originou Dominga.
  • Ao dia seguinte, por ser o 2º da semana, féria secunda (ou secunda féria), o que originou na língua portuguesa a segunda feira. Na Antiguidade a palavra féria significava dia livre de trabalho; na Idade Média, o termo feira denominava também o mercado profano em dias de festa.
  • Ao 3º dia, tértia féria originou a terça feira, pelas mesmas razões.
  • Ao 4º dia, quarta feira.
  • Ao 5º dia, quinta feira.
  • Ao 6º dia, sexta feira.
  • Ao 7º dia, deu-se o nome de Sábado, herdado da tradição judaica do Shabat, o dia em que Deus descansou da obra da Criação.

Na verdade, entre as línguas europeias, estas denominações cristãs são exclusivas do Português, do Galego e do Mirandês; para além destas, a outra excepção é o Grego, língua intimamente ligada ao dealbar do Cristianismo.

Este facto testemunha claramente a eficácia do Apostolado ocorrido durante a Idade Média nos territórios da Galiza e de Portugal. Provam o quão fundo a Fé Cristã pode penetrar na Cultura, mesmo nos seus aspectos mais prosaicos, transformando-lhe os elementos pagãos e reordenando-os em direcção ao Deus Vivo e Verdadeiro.

Lamentavelmente, vim a saber que hoje, na Galiza, as mais novas gerações esqueceram os nomes cristãos herdados de seus antepassados para os dias da semana:



É curioso que os últimos dias da semana a serem "repaganizados" pela língua castelhana nesta região foram a corta feira e a sexta feira, possivelmente pela importância que a Quarta Feira de Cinzas e a Sexta Feira Santa têm no Calendário Litúrgico.

4ª Feira de Cinzas no Missal bracarense de 1924.


Pessoalmente, a mim, que falo português e sou cristão católico, escandaliza-me ouvir falarem de Vernes Santo: porventura será santo este dia por ser dedicado a Vénus, a deusa da luxúria? Não, este dia é santo porque nele morreu Nosso Senhor Jesus Cristo, no 3º dia antes de ressuscitar, portanto no 6º dia da semana: daí a 6ª Feira Santa.

6ª Feira Santa no Missal bracarense de 1924.

Acontece que os dias da semana quando ditos cristãmente lembram-nos que o Domingo é o 1º dia da semana e alguém disse que é tão-bém o 8º dia, porque de Deus viemos e para ele vamos.

Por isso, se alguns de vós que nos lêdes sois galegos, sabêde que tamém a vós se dirigem as palabras dêste blogue, por exemplo as melodias gregorianas em língua portuguesa (ou galega, ou galaico-portuguesa) que temos transcritas para uso na Liturgia. E vos pedimos: polo bem da nossa cultura comum e pola maior consciência cristã nas cousas sociais, empregade as tradicioniais formas galegas dos dias da semana.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Laudes de S. João Crisóstomo, 13 de Setembro

Descarregai o PDF com os cânticos gregorianos em Português:
  • Hino "Bôca de Ouro"
  • 1ª Antífona, Vós sois a luz do mundo (Mateus 5,14), com o Salmo 62(63),2-9
  • Leitura breve (Sabedoria 7,13-14)
  • Responsório breve "Que os povos da terra"
  • Preces, com o refrão "Apascentai, Senhor, o vosso rebanho!"

https://db.tt/BG2OJ3xI

domingo, 19 de janeiro de 2014

Cantar como ? Com arte e com alma

Ilustradíssima palestra do P. Dr. António Júlio da Silva Cartageno, proferida no XXXV Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, em 2009.




«André, servidor [da família] de Deus, principal cantor da sacrossanta Igreja
Mertiliana, viveu 36 anos, descansou em paz no terceiro dia das calendas
de Abril da era [de César] de 560 e 3
», correspondente no nosso calendário
ao dia 30 de Março de 525 anno Domini. É o epitáfio do Cantor Andreas,
lápide do século VI d.C., encontrada na Basílica Paleo-Cristã de Mértola,
no Alentejo. Transcrição:


Arco duplo em ferradura assente sobre 2 colunas torsas com capitéis decorados
de tipo corintizante; d
entro do arco:
alfa crismon ómega.
ANDREAS FAMVLVS
DEI PRINCEPS CAN-
TORUM SACROSAN
CTE A[E]CLISIAE MER-
TILLIA[N]E VIXIT
ANNOS XXXVI
REQVIEVIT IN PA-
CE SUB D(IE) TERTEO
KAL(ENDAS) APRILES
AERA ∂LX TRI-
SIS
Alfa, cruz monogramática, ómega.
CH[...] (frase propiciatória)

sábado, 24 de novembro de 2012

Bento XVI: canto gregoriano e polifonia do Renascimento para o Ano da Fé


Queridos irmãos e irmãs!

É com grande alegria que vos recebo, por ocasião da peregrinação organizada pela Associação Italiana Santa Cecília, à qual dirijo antes de tudo as minhas felicitações, com a saudação cordial ao Presidente, ao qual agradeço pelas gentis palavras, e a todos os colaboradores. Com afecto vos saúdo a vós, que pertenceis a numerosas Scholae Cantorum de todas as partes da Itália! Sinto-me muito feliz por vos encontrar, e também por saber — como aqui foi recordado — que amanhã participareis na Basílica de São Pedro na celebração eucarística presidida pelo Cardeal Arcipreste Angelo Comastri, oferecendo naturalmente o serviço do louvor com o canto.

Este vosso congresso situa-se intencionalmente na celebração do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. E vi com prazer que a Associação Santa Cecília pretendeu deste modo repropôr à vossa atenção o ensinamento da Constituição conciliar sobre a liturgia, em particular onde — no sexto capítulo — trata da música sacra. Nesta circunstância, como bem sabeis, quis para toda a Igreja um especial Ano da fé, a fim de promover o aprofundamento da fé em todos os baptizados e o comum compromisso pela nova evangelização. Por isso, ao encontrar-me convosco, quereria ressaltar brevemente como a música sacra pode, antes de tudo, favorecer a fé e, além disso, cooperar para a nova evangelização.

Sobre a fé, é espontâneo pensar na vicissitude pessoal de Santo Agostinho — um dos grandes Padres da Igreja, que viveu entre o IV e o V século depois de Cristo — para cuja conversão contribuiu certamente de maneira relevante a escuta do canto dos salmos e dos hinos, nas liturgias presididas por Santo Ambrósio. Se, de facto, a fé nasce sempre da escuta da Palavra de Deus — uma escuta naturalmente não só dos sentidos, mas que dos sentidos passa para a mente e para o coração — não há dúvida de que a música e sobretudo o canto podem conferir à recitação dos salmos e dos cânticos bíblicos maior força comunicativa. Entre os carismas de Santo Ambrósio havia precisamente o de uma aguda sensibilidade e capacidade musical, e ele, uma vez ordenado Bispo de Milão, meteu este dom ao serviço da fé e da evangelização. Em relação a isto, é muito significativo o testemunho de Agostinho, que naquele tempo era professor em Milão e procurava a Deus, procurava a fé. No décimo livro das Confissões, da sua Autobiografia, ele escreve: «Quando me voltam à mente as lágrimas que os cânticos da Igreja me fizeram derramar nos primórdios da minha fé reconquistada, e a comoção que ainda hoje suscita em mim não o cântico, mas as palavras cantadas, se são cantadas com voz límpida e com a modulação mais conveniente, reconheço de novo a grande utilidade desta prática» (33, 50). A experiência dos hinos ambrosianos foi tão forte, que Agostinho os levou impressos na memória e citou-os com frequência nas suas obras; aliás, escreveu uma obra precisamente sobre a música, a De Musica. Ele afirma que não aprova, durante as liturgias cantadas, a busca do mero prazer sensível, mas reconhece que a música e o canto bem feitos podem ajudar a acolher a Palavra de Deus e a sentir uma salutar comoção. Este testemunho de Santo Agostinho ajuda-nos a compreender o facto de que a Constituição Sacrosanctum Concilium, em linha com a tradição da Igreja, ensina que «o canto sacro, unido às palavras, é parte necessária e integrante da liturgia solene» (n. 112). Porquê «necessária e integrante»? Certamente não por motivos estéticos, num sentido superficial, mas porque coopera, precisamente pela sua beleza, para nutrir e expressar a fé e, por conseguinte, para a glória de Deus e a santificação dos fiéis, que são os fins da música sacra (cf. ibid.). Precisamente por este motivo gostaria de vos agradecer o serviço precioso que prestais: a música que executais não é um acessório ou só um embelezamento exterior da liturgia, mas ela mesma é liturgia. Vós ajudais toda a Assembleia a louvar a Deus, a fazer penetrar no profundo do coração a sua Palavra: com o canto rezais e fazeis rezar, e participais no canto e na oração da liturgia que abraça a criação inteira na glorificação do Criador.

O segundo aspecto que proponho à vossa reflexão é a relação entre o canto sacro e a nova evangelização. A Constituição conciliar sobre a liturgia recorda a importância da música sacra na missão ad gentes e exorta a valorizar as tradições musicais dos povos (cf. n. 119). Mas também precisamente nos países de antiga evangelização, como a Itália, a música sacra — com a sua grande tradição que lhe é própria, que é cultura nossa, ocidental — pode ter de facto uma tarefa relevante, para favorecer a redescoberta de Deus, uma renovada abordagem da mensagem cristã e dos mistérios da fé. Pensamos na célebre experiência de Paul Claudel, poeta francês, que se converteu ouvindo o canto do Magnificat durante as Vésperas de Natal na Catedral de Notre-Dame de Paris: «Naquele momento — escreve ele — deu-se o acontecimento que domina toda a minha vida. Num instante o meu coração foi tocado e eu acreditei. Acreditei com uma força de adesão tão grande, com uma tal elevação de todo o meu ser, com uma convicção tão poderosa, numa certeza que não deixava lugar a espécie alguma de dúvida e que, a partir daquele momento, raciocínio algum ou circunstância da minha vida movimentada puderam abalar a minha fé nem afectá-la». Mas, já sem incomodarmos personagens ilustres, pensemos em quantas pessoas foram tocadas no fundo do ânimo ouvindo música sacra; e ainda mais em quantos se sentiram de novo atraídos por Deus através da beleza da música litúrgica como Claudel. E aqui, queridos amigos, vós desempenhais um papel importante: comprometei-vos por melhorar a qualidade do canto litúrgico, sem ter receio de recuperar e valorizar a grande tradição musical da Igreja, que no gregoriano e na polifonia tem duas das expressões mais nobres, como afirma o Vaticano II (cf. Sacrosanctum Concilium, 116). E gostaria de ressaltar que a participação activa de todo o Povo de Deus na liturgia não consiste só em falar, mas também em escutar, em acolher com os sentidos e com o espírito a Palavra, e isto vale também para a música sacra. Vós, que tendes o dom do canto, podeis fazer cantar o coração de tantas pessoas nas celebrações litúrgicas.

Queridos amigos, faço votos de que na Itália a música litúrgica tenda cada vez mais para o alto, para louvar dignamente o Senhor e para mostrar como a Igreja é o lugar no qual a beleza está em casa. Mais uma vez obrigado a todos por este encontro! Obrigado.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A «hermenêutica da continuidade», segundo o Papa Bento XVI (2005)

Graças a um amigo da Capella, chegamos a um discurso em que o Santo Padre nos
orienta sobre a justa interpretação dos documentos conciliares, cuja leitura já aqui
temos oferecido, juntamente com outros documentos magisteriais pertinentes
à música sacra anteriores e posteriores ao Concílio
.
Bento XVI começa por recordar o defunto Papa Wojtyla, o seu testemunho e os seus
ensinamentos, o seu zelo para com a Eucaristia e o Sínodo a ela devoto, bem como
as Jornadas Mundiais da Juventude do ano de então, e dedica-se então a explicar que
"silenciosamente mas de modo cada vez mais visível, [a hermenêutica da
continuidade] produziu e produz frutos".

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS CARDEAIS, ARCEBISPOS E PRELADOS DA CÚRIA ROMANA NA APRESENTAÇÃO DOS VOTOS DE NATAL


Senhores Cardeais 
Venerados Irmãos 
no Episcopado e no Presbiterado 
Queridos irmãos e irmãs

terça-feira, 8 de março de 2011

Bento XVI cita Bernardo de Claraval sobre o imperativo de bem cantar

Palavras de Bento XVI, do discurso proferido ao mundo da cultura em França, por ocasião da sua visita pastoral de Setembro de 2008, através das quais assinala o grave dever que pende sobre os músicos litúrgicos de bem cantar a Liturgia.

Nota: chegámos a estas palavras do Papa através do sítio dos Cantori Gregoriani (cf. video infra), mais concretamente através da leitura de um texto ao qual havemos de dedicar mais atenção.
«Para [São] Bento [de Núrsia], valem como regra determinante para a oração e para o canto dos monges estas palavras do SalmoCoram angelis psallam Tibi, Domine: «Na presença do anjos Vos hei-de cantar, Senhor» (cf. 138,1). Aqui se exprime a consciência de, na oração comunitária, cantar na presença de toda a cohorte celeste e, consequentemente, de estar sujeito ao critério supremo: rezar e cantar de modo a poder unir-se à música dos espíritos sublimes, considerados os autores da harmonia do cosmos, da música das esferas celestiais. Partindo daqui, é possível compreender a severidade de uma meditação de São Bernardo de Claraval, que usa uma palavra da tradição platónica, transmitida por Sto. Agostinho, para julgar o canto mal executado pelos monges, coisa que, na sua perspectiva, não era, de modo algum, de somenos. S. Bernardo qualifica a cacofonia de um canto mal executado como uma queda na «zona da dissemelhança», na regio dissimilitudinis. Sto. Agostinho tomara esta palavra da filosofia platónica para caracterizar o estado em que a sua alma se encontrava antes da sua conversão (cf. Confissões, VII 10.16): o homem, ser criado à semelhança de Deus, cai, em consequência do seu abandono de Deus, na «zona da dissemelhança», num afastamento de Deus, de tal ordem que deixa de ser Seu reflexo, tornando-se não apenas dissemelhante de Deus, mas também da sua verdadeira natureza de homem. S. Bernardo é, evidentemente, severo ao recorrer a esta expressão, que indica a queda do homem para longe de si mesmo, para qualificar o canto mal executado pelos monges, mas demonstra a que ponto leva o assunto a sério. Demonstra que a cultura do canto é também cultura do ser, e que os monges, com as suas orações e cânticos, devem corresponder à grandeza da Palavra que lhes está confiada, ao seu imperativo de verdadeira beleza. Desta exigência cardeal de falar com Deus e de O cantar com as palavras que Ele mesmo doou, nasceu a grande música ocidental. Não se tratava de uma obra da «criatividade» pessoal, com a qual o indivíduo, tomando como critério essencial a representação do seu próprio eu, ergue um monumento a si próprio. Tratava-se, isso sim, de reconhecer intimamente, com os «ouvidos do coração», as leis constitutivas da harmonia musical da criação, as formas essenciais da música impressas pelo Criador no mundo e no homem, e criar, desse modo, uma música digna de Deus, que seja, ao mesmo tempo, verdadeiramente digna do homem e que proclame de modo elevado a sua dignidade.»
Nota: tradução do original francês a partir da tradução portuguesa do sítio da Santa Sé, que nos pareceu pouco correcta e deselegante.



Ave Regina cælorum (Antífona mariana de Quaresma)


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Podeis escrever para:

capelagregorianaincarnationis@gmail.com

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