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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

MEMORARE: o sítio de Dom Alberto Turco

Depois do canal no Youtube, agora um sítio estático, ao cuidado de Federico del Sordo.

Aqui se encontrarão muitos materiais úteis para o estudo do canto gregoriano, relacionados com a longa e profícua actividade de Monsenhor Alberto Turco enquanto docente, regente coral, tratadista e autor de cantorais da gregorianística.

Memorare!

terça-feira, 25 de junho de 2024

Alberto Turco: Lição Magistral

Continuamos a tradução e republicação
dos impressionantes artigos contidos no 

  

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Nota do Editor: De seguida propomos aqui a Lectio Magistralis proferida pelo professor Alberto Turco, por ocasião da apresentação do livro em sua homenagem “Dialettica e paradigmi del sacro in musica” da série do Pontifício Instituto de Música Sacra “Didattica e Saggistica”. A conferência realizou-se no dia 18 de Novembro de 2021, na Igreja da Abadia do mesmo Instituto.

A VERDADE HISTÓRICA DO CANTO GREGORIANO:
um enriquecimento espiritual e cultural.

A Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium do Vaticano II reiterou, na esteira da tradição, que o gregoriano é o "canto próprio" da liturgia da Igreja Romana.

Mas o que restou deste mesmo canto na liturgia do pós-Vaticano II?
Algum poderia dizer que hoje não é mais o tempo de falar do gregoriano... e talvez acrescentar que assim o exigiria a pastoral!
Se isto fosse verdadeiro, ocorre a pergunta se nos futuros documentos sobre a «música na sagrada liturgia» ainda se encontrará a definição do gregoriano como o «canto próprio» da Igreja.
Pela minha parte, estou certo de que a Igreja romana não renunciará jamais a esta definição, pelo facto de que o canto gregoriano foi e, na maior parte do seu repertório, sempre será, o ser e o existir da liturgia cantada da Igreja universal de rito romano.

O “ser” e o “existir” do canto gregoriano

Na definição da liturgia fons et culmen da vida cristã, há também o canto da «Oração», o canto lírico da “Catequese”. O gregoriano é precisamente este canto! Acompanha a oração e a acção litúrgica, ao ponto de constituir uma só entidade. Por consequência, a riqueza, que se deve esperar do canto gregoriano, não é outra senão a da “vida litúrgica”, «fonte e cume da vida cristã». Quantas gerações de sacerdotes e leigos assimilaram uma autêntica espiritualidade litúrgica através da prática do canto gregoriano!

As melodias gregorianas não existem por si mesmas; foram criadas para o serviço exclusivo do “texto litúrgico”, do qual nasceram no próprio acto da oração oficial da Igreja. O mesmo vale para as melodias do celebrante, do diácono, do leitor, do salmista, dos cantores, da schola e do côro, subdivididas nos seus papéis e cada qual com textos próprios, diferentes não só pela natureza e estilo, mas também pela ornamentação de melodias adequadas. Sem perder nada da sua frescura, da sua inspiração e espontaneidade, as melodias vivem em perfeita simbiose com o texto.

No canto gregoriano, a melodia põe-se em obediência à «Palavra de Deus», tal como anunciada na liturgia. Com efeito, é Deus quem nos fornece as fórmulas do nosso louvor, da nossa adoração, das nossas invocações. A Igreja retoma estes textos inspirados, escolhe-os, coloca-os, reúne-os, esclarece-os uns com os outros, fazendo uma maravilhosa síntese entre Escritura e Tradição. A Igreja compõe assim o “poema” da sagrada liturgia, no qual a história da nossa salvação é descrita em forma lírica. Neste conjunto, cada texto escriturístico, certamente inspirado como uma segunda canonicidade, torna-se quase duas vezes expressivo da verdade divina. É neste serviço à Palavra de Deus que as melodias são definitivamente arrancadas de si mesmas para serem “consagradas”. Este é o verdadeiro «canto litúrgico».

A verdade histórica do canto gregoriano

O canto, denominado gregoriano em época tardia, percorreu todas as etapas da história da liturgia: foi o canto das comunidades da época apostólica, da época patrística, dos grandes papas dos séculos V-VI-VII; foi o canto dos textos e da ritualidade do final da Idade Média até aos nossos dias; assim será também nas épocas futuras, enquanto a Igreja fizer memória do mistério de Cristo.

Durante nove séculos, o chamado gregoriano permaneceu confiado à memória. Sabemos, de facto, que - andando para trás - os últimos documentos à nossa disposição são em notação musical com neumas em campo aberto, com as grafias dos acentos agudos e graves, isolados ou ligados em várias combinações.
Estas concederam-nos não um livro de canto na acepção moderna, mas apenas indicações estético-modais e expressivas que nos confirmam que, pelos finais do séc. VIII e no séc. IX, todo o sistema litúrgico-musical estava definido, coerentemente à liturgia coeva, propriamente dita “gregoriana”.
Por outras palavras, a semiologia nasce quando o repertório existe já, e está em idade adulta, e pede que seja difundido, quando as tradições orais, tanto galicanas como romanas, encontram um suporte para se documentarem. A semiologia nada mais é do que o relato do mestre do coro que entrega por escrito o programa das suas exigências. Certamente não pode exprimir tudo; mas o que o maestro exprime é de uma tal fineza que vai além do que aquilo a que estamos habituados com as escritas mensuralísticas, e de relevância tal que contrasta com os livres efeitos requeridos pelas notações da música "contemporânea".
Quando aparece a escrita sobre linhas, no início do séc. XI, a memória alenta o seu controlo, emergem as variantes, sempre mais numerosas, sempre mais graves. A estas motivações, que são seguramente as principais, juntam-se outras que arrastam o canto gregoriano para a decadência.
A primeira decadência infligida ao gregoriano é obra dos teóricos do octoecos do séc. X-XI, os séculos das falsidades, que basearam a análise do repertório gregoriano na teoria das oitavas tonais gregas, trocando-as com as oitavas modais. Era motivo de orgulho para os teóricos do séc. IX poder traçar as origens do canto da Igreja na música grega. Não há nada mais empírico do que ligar o gregoriano à teoria dos oito modos.
Sobre esta visão de oitavas tonais (escalas octocordais), os manuais do canto gregoriano, as enciclopédias e os volumes de história da música escreveram o inverosímil na tentativa de explicar a modalidade do repertório gregoriano. Seria tempo e hora de abolir certa terminologia, que compositores e músicos apreciam ainda operar na análise de composições renascentistas e modernas.
Ainda hoje, a proposta de uma restauração, certamente não magis critica das melodias gregorianas, é fortemente viciada pela teoria do octoecos, segundo a qual as melodias devem restituir-se na escrita em cadência final Ré, Mi, Fa, Sol. Tudo isso advém porque não se conhece nada do que efectivamente aconteceu no canto da liturgia antes do séc. IX.

Valor espiritual e cultural do canto gregoriano

Seja-me consentida agora recordar as condições objectivas e subjectivas que asseguram ao canto gregoriano o seu valor teológico e contemplativo do "facere sacrum".
As condições objectivas são constituídas pelo texto e pela sua execução em canto, respondendo ao pensamento dos compositores. Digamos desde já que as versões oficiais do canto gregoriano são apenas as da Vaticana e, aos nossos dias, as reconhecidas pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A restauração do Graduale Romanum de 1908, sem dúvida imperfeita, representou um progresso “imenso” em relação às edições dos séc. XVIII e XIX. E, ainda hoje, sob o aspecto da cantabilidade das melodias, a edição vaticana do Graduale Romanum deve ser considerada de grande apreço, direi que é uma edição “venerável”. O critério da cantabilidade das melodias estava sob a atenção da comissão pontifícia. Isto deve ser reconhecido. São melodias cantáveis! A sua musicalidade é um valor indispensável para o texto. Por outro lado, as actuais restaurações de melodias que levam a formulações estranhas, direi “exóticas”, ou seja, de todo incompreensíveis para uma linha melódica “diatónica”, estão em contraste com a “verdade histórica” e, consequentemente, estão em contraste com o “sacrum facere”. Há uma afirmação de São Paulo na primeira carta aos Coríntios, que se aplica ao nosso caso: «rezarei com o espírito, mas rezarei também com a inteligência; cantarei com o espírito, mas cantarei também com a intreligência» (1 Cor 14, 15).
Um mosteiro da família solesmense, após ter adoptado as melodias do Antiphonale Monasticum dos anos 2000-2005, retirou a edição devido à dificuldade de cantar certas versões melódicas, reservando-se a propor uma nova edição.

As edições passadas da Vaticana certamente precisam de ser revisitadas, com instrumentos e aparato crítico adequados. À época da edição do Graduale Romanum de 1908 e do Antiphonale Romanum de 1912, a comissão pontifícia não dispunha de meios (cerca de dez manuscritos) e de trabalhos científicos avançados. Hoje, o aparato científico adequado está disponível no atelier solesmense para iniciar uma versão melódica magis critica. No texto da Sacrosanctum Concilium, n. 117, redigido pela Abadia de Solesmes, com o qual se auspicia o completamento das edições do canto gregoriano e a revisitação das melodias já publicadas, confirma-se implicitamente que o aparato crítico para a restauração do Graduale Romanum foi ultimado. Na verdade estamos em 1964.
Quem não estudou no atelier de Solesmes dificilmente pode aperceber-se da riqueza dos trabalhos científicos, documentados em cem anos de trabalho dos monges e, dificilmente, poderá ter uma visão geral dos problemas que se impõem para uma aceitável restauração melódica do canto gregoriano.

A segunda condição objectiva é devolver ao gregoriano a sua conotação de canto para a liturgia. Aqui entra em campo a interpretação, oriunda da ciência da paleografia e, consequentemente, da semiologia. A que nós temos nos nossos livros é uma «neografia» da escrita musical gregoriana. Entre a paleografia e a neografia musical não há solução de continuidade. Não se decidiu num determinado dia passar da paleo- para a neo-grafia, de modo que se encontram ainda nos nossos livros actuais os sinais paleográficos um tanto evoluídos.
Portanto, o mestre do canto gregoriano deve conhecer a paleografia e a semiologia gregoriana, pelo menos em quanto concerne o significado dos neumas em campo aberto, em relação ao texto litúrgico, à melodia, à estética e à luz da intencionalidade do mestre da notação musical.
Uma vez assegurada a forma autêntica ou pelo menos fiável (versão melódica e execução rítmica texto-melodia), é indispensável que a execução da peça envolva a assembleia na celebração litúrgica, favorecendo a oração e a contemplação: estas são as condições subjetivas do valor teológico e contemplativo que uma melodia gregoriana tem em si mesma.
Portanto, o ensinamento teórico e a praxe executiva não podem prescindir destas condições e traduzir-se num exercício de vocalidade, muito menos numa execução académica ou prestação concertistica tout court.

Neste ponto, surge o grande problema da competência musical e da formação litúrgica e espiritual do(s) maestro(s).
No têm a idoneidade de ensino do canto gregoriano aqueles que receberam certificados de participação em conferências ou cursos generalistas. E ouso dizer que não podem nem tão-pouco declarar-se mestres aqueles que não possuem um diploma específico em canto gregoriano.
Hoje, assistimos a um facto curioso: metido à margem da liturgia, o gregoriano tornou-se uma “moda”, uma atracção “exótica”, um tema musicológico, que se crê aprender a bom preço e, consequentemente, poder ensinar, por ter adquirido algumas noções sobre a notação quadrada e com a participação em aulas on-line, em fins de semana e outros eventos, promovidos por professores improvisados!
Os músicos de todos os tempos sempre foram influenciados pelo canto gregoriano, não tanto pela sua atracção enquanto música sui generis, mas porque intuíram o valor intrínseco deste inestimável monumento da arte musical. O canto gregoriano não é obra de um compositor, mas é o fruto da mais genuína expressão da liturgia, o grande poema da vida cultual da Igreja. A sua conotação primária é a de ser a celebração do “mistério” de Cristo nos séculos. Para isso, além de aprender noções técnicas, os professores devem preparar-se, para não trair o «mais digno de todos os louvores» a Deus, reconhecido no gregoriano.

E que coisa deveremos dizer do mestre dos futuros mestres de canto gregoriano? Para assumir este encargo, a um diploma sério deve juntar-se a «habilitação» para a docência, como acontece, neste mundo, com outras profissões. A habilitação pressupõe a conhecença do gregoriano, ciência e mistério.
Digamos desde já que a ciência do gregoriano deve estender-se aos “factos musicais” que caracterizaram a formação e evolução da liturgia cantada, desde a sua nascença até à documentação dos séc. IX e X.
A ciência do gregoriano comporta uma visão geral de todos os parâmetros que vão da compreensão do texto e a sua colocação no tempo litúrgico até à síntese estético-modal, que nos permite colher, nas multíplices formas musicais, a conotação íntima de cada nota na dinâmica da execução. Entenda-se bem que, à luz destes parâmetros, é necessário avizinhar-se às fontes manuscritas com respeito e com rigor científico na formulação dos critérios compositivos.

Habilitação ao gregoriano, «ciência», mas também «mistério».
O “mistério” do canto gregoriano é a igreja que reza, canta e, com a graça do Espírito Santo, celebra a vida de Cristo, para a glória do Pai e a salvação do mundo. Aprendendo e rezando em canto gregoriano, é importante ouvi-lo, e ouvi-lo em atitude contemplativa.
O maestro não só tem a tarefa de ensinar a verdade da forma estética, do significado textual e melódico de cada peça, mas tem sobretudo o dever de transmitir o seu conteúdo espiritual, assegurando ao canto a sua eficácia de oração e de contemplação.
Portanto, a meu ver, a qualificação para o canto gregoriano “mistério” deveria encarnar-se em pessoas consagradas à meditação, à oração e, sobretudo, à contemplação da liturgia. Em concreto, deveria concretizar-se em pessoas que celebram a liturgia.

E concluo dizendo que o gregoriano é o dom de Deus à Igreja, para que se torne o «esplêndido louvor» da Igreja a Deus (Sl 23, o salmo do Senhor no seu templo).
O Gregoriano é a oração do compositor, para que se torne a oração do maestro.
Sempre, na verdade, como reza a ant. Diligite Dominum, omnes sancti eius, quoniam veritatem requiret Dominus.

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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Liber Gradualis - Pars Festiva

Continuamos a tradução e republicação
dos fascinantes artigos contidos no 

  

NOVIDADE EDITORIAL

LIBER GRADUALIS
iuxta «Ordo Cantus Missæ», auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, in quo melodiæ restitutæ sunt e fontibus adhibitis in præparando Graduale Romanum secundum hodiernæ musicalis criticæ regulas.

Livro Gradual, segundo a Ordem do Canto da Missa promulgada com autoridade do Papa Paulo VI, no qual as melodias foram restituídas a partir das fontes consultadas na preparação do futuro Gradual Romano segundo as regras da crítica musical de hoje.


Formato 14x21 cm
724 páginas
Papel marfim 80g
Encadernação de fio cosido
Versos de capa e contracapa em papel algodonado marfim
Placas de capa, lombada e contracapa em imitação de couro verde garrafa
Estampa dourada na capa e lombada
Capitéis e 3 marcadores de cores diferentes

O LIBER GRADUALIS PARS FESTIVA é o volume de 724 páginas que reúne a proposta de restituição melódica do repertório gregoriano da Missa elaborada por Mons. Alberto Turco e seus colaboradores.

Nasce de um estudo atento e comparativo de muitíssimos testemunhos antigos transcritos em tabelas sinóticas guardadas como tesouro precioso no atelier de Paléographie da Abadia de Solesmes. Acima da versão neumática em notação quadrada, aderente às mais recentes aquisições gráficas, vem relatada a mais antiga notação em campo aberto dos manuscritos sangaleses. A notação neumática de São Galo é, de facto, a mais rica que todas as outras em fornecer indicações do ponto de vista expressivo, estético e modal, indicações mais que suficientes para uma interpretação correcta e artisticamente significativa.

Neste primeiro volume incluem-se todas as celebrações festivas, enquanto o segundo, a publicar em breve, será dedicado às feriais. Ineludível ponto de referência para quantos amam, estudam e executam o canto da próprio Igreja romana.

Informações e encomendas:
EDIÇÕES DE MÚSICA ARMELIN
Riviera San Benedetto, 18-35122 Pádua
Tel +39 049 8724 928
www.armelin.it
info@armelin.it

Prefácio

O Liber Gradualis, nos seus dois volumes, recolhe quanto foi publicado em fascículos separados, divididos por tempos litúrgicos, entre os anos de 2009 e 2016, revisto, corrigido e ampliado em vista desta edição. Se aqueles fascículos, na sua praticidade editorial e gráfica, se destinavam mormente ao estudo pessoal e do côro, a presente edição responde também à exigência de quantos desejam utilizar na liturgia a versão melódica preparada por Alberto Turco e pelo grupo de trabalho que colabora com ele. Tal versão não quer ter a pretensão nem da oficialidade, reservada unicamente à edição típica da Vaticana, nem da exaustividade, nem sequer da exclusividade, pois sabemos que os estudos sobre o canto gregoriano estão bem longe de se concluírem em todas as frentes. E, todavia, esta edição quer apresentar-se como magis crítica [1], em comparação não só com a Vaticana, mas também a outras propostas similares.

[1] Como requerido pela Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II: “Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X" (SC 117).

O ponto de partida, para nós inequívoco, são os estudos semiológicos e modais surgidos em torno do atelier de Paléographie da Abadia de Solesmes. O próprio título - Liber Gradualis - refere-se à primeira obra homónima publicada em 1883 por dom Joseph Pothier (1835-1923) que constitui a primeira pedra de uma construção bem ordenada que ainda agora continua a ser edificada, com o contributo de quantos hoje se põem séria e verdadeiramente na esteira de dom Eugène Cardine (1905-1988) e dom Jean Claire (1920-2006). Precisamente a partir da sua actividade científica, a semiologia e a modalidade gregorianas receberam um notável impulso, permitindo uma compreensão e uma interpretação da monodia litúrgica mais consentânea com a verdade dos factos históricos documentados pelos manuscritos. O estudo directo das fontes antigas continua sendo um trabalho insubstituível para se chegar a uma proposta de restituição melódica filologicamente correcta e criticamente aceitável. O caminho traçado pela Édition critique do Graduale Romanum [2] com o amplo reconhecimento dos manuscritos, as suas relações genealógicas, alguns levantamentos e uma proposta exemplificativa de restituição melódica [3], é aqui retomado e acolhido no método, complementado com o que os estudos posteriores evidenciaram, em particular os da semiomodalidade, para atingir critérios bem definidos, compartilhados e compartilháveis, ​​quanto à escrita e aos semitons da corda móvel, respeitando a natureza das fórmulas relativamente ao aspecto estético modal. 

[2] Le Graduel Romain, Edition critique par les moines de Solesmes, IV Le texte neumatique, vol. I, Abbaye Saint-Pierre de Solesmes 1960 e vol. II Abbaye Saint-Pierre de Solesmes 1962.

[3] La missa “Ad te levavi”, ibidem, vol II, pag 63-89.

Para conveniência dos estudiosos relatamos no final deste Prefácio o elenco de manuscritos apresentado na Édition critique. É precisamente a partir deste amplo confronto que é possível determinar uma versão melódica que encontra confirmação na convergência mais ampla possível dos antigos testemunhos.
Sobre a versão neumática em notação quadrada, é relatada a mais antiga notação in campo aperto dos manuscritos de St. Gallen, deixando de fora a de Laon, em linha com a escolha do Graduel Romain no seu ensaio de restituição melódica [4].

[4] Ibidem.

Especificamente, os manuscritos utilizados são os mesmos reportados pelo Triplex:

Gal1 = St. Gallen 359, Cantatorium, (séc. X);
Ein = Einsiedeln 121, Graduale, (segunda metade do séc. IX);
Gal3 = St. Gallen 376, Graduale, (séc. XI) na ausência de Ein;
Har = St. Gallen 390-391, Antifonário de Hartker, (aa. 980-1011) para as Communio retiradas do Antiphonale.
Para os tons salmódicos das Communio, fez-se referência a Ein e G381, (St. Gallen, Stiftsbibl. 381) Versicularium, (primeira metade do séc. XI).

Sob o título de cada peça, apresentam-se as siglas dos manuscritos dos Antifonários da Missa, sem notação musical, dispostas em sinopse no Antiphonale Missarum Sextuplex de dom René-Jean Hesbert:

M Cantatorium de Monza (segundo terço do séc. IX)
R Graduale de Rheineau (cerca de 800)
B Graduale de Mont-Blandin (séc.s VIII-IX)
C Graduale de Compiègne (segunda metade do séc. IX)
K Graduale de Corbie (depois de 853)
S Graduale de Senlis (finais do séc. IX).

Tal como no Graduale Triplex, a letra grega λ indica uma lacuna no manuscrito.

O aparato crítico que ilustra o trabalho realizado e as escolhas efectuadas para boa parte do repertório está disponível na série Subsidia do Centro di canto gregoriano e monodie «Jean Claire» de Verona junto das Edizioni Melosantiqua [5], à qual se remete.

Uma anotação particular merecem duas escolhas aqui efectuadas e que marcam um seguro progresso.

A primeira. Nesta edição foi abordado o tema do quilisma no intervalo de quarta ou de quinta já delineado por Cardine no Liber Hymnarius [6] e bem evidencado na Edition critique [7] à luz dos manuscritos diastemáticos e em parte adiastemáticos.

[6] Antiphonale Romanum Tomus alter, Liber Hymnarius cum Invitatoriis et aliquibus Responsoriis, Solesmis 1983, e.g. resp. Ecce vicit p 512, 4ª pauta al-leluia. Sobre este tema ver também ALBERTO TURCO, A colocação do «quilisma» no scandicus, in Vox gregoriana, Boletim informativo do centro de Canto Gregoriano e monodias «Dom Jean Claire» - Verona, n° 3 Setembro - Dezembro 2019, pp 8-12.

[7] Cfr. nota 3.

A segunda. Os versetos dos Intróitos e das Comunhões do III tom apresentam a versão melódica estereotipada da cadência mediana, retirada do Versicularium 381. Todas as Communio foram dotadas de um verseto salmódico, na selecção operada por Ein.

O auspício é que este ulterior trabalho possa contribuir para o verdadeiro progresso dos estudos restitutivos, bem como para a difusão daquele canto que a Igreja não hesita em definir como "próprio" [8] e em preferi-lo na liturgia às outras linguagens musicais.

[8] SC 116

Mons. Alberto Turco
Dom Nicola Bellinazzo
Dom Gilberto Sessantini

terça-feira, 28 de maio de 2024

Dialética e paradigmas do sacro na música: Canto gregoriano, polifonia e instrumentos musicais

Continuamos a tradução e republicação
dos brilhantes artigos contidos no 

  

“MODULAMINI ILLI PSALMUM NOVUM”
Estudos em homenagem a Alberto Turco


Saiu nas últimas semanas, pelos caracteres da Libreria Editrice Vaticana, Didattica e Saggistica, série do Pontifício Instituto de Música Sacra de Roma, o volume em homenagem ao maestro Dom Alberto Turco, coordenado por Dom Gilberto Sessantini: "Dialettica e paradigmi del sacro in musica". Foi colocado no exergo do livro “Modulamini illi psalmum novum” (Judite 16,1) como paradigma que sintetiza de maneira inequívoca todo o caminho científico e espiritual completo por Dom Alberto nestes sessenta anos de vida, dados ao canto sacro, sobretudo ao Canto Gregoriano. Bem escreve Dom Sessantini, um dos alunos e colaboradores, junto ao escritor, na apresentação do livro: O incipit do cântico de Judite exprime em poucas palavras a cifra interpretativa da vida sacerdotal e da actividade científica de Dom Alberto Turco. Antes de mais, pela referência semântica ao psalmum/cantum novum de agostiniana memória, aquele canto novo que deve distinguir a vida de todo o cristão, tornando-a mesmo nova, e que encontrará a sua perfeita consonância e entonação na nova Jerusalém (cfr. Ap. 5,9.21,2), mas que já aqui, nesta terra e durante a vida terrena, enquanto estamos em caminho, é chamado a expandir-se rumo às alturas sublimes da caridade perfeita, simbolizada pelo júbilo aleluiático. Um canto novo mas sempre antigo, como aquela sabedoria amplamente anelada pelo bispo de Hipona e doutor da Igreja, que precisamente na busca constante, apaixonada, obstinada e em certos aspectos obsessiva da verdade se destingue entre os pensadores do Ocidente cristão. Assim Dom Turco, no seu trabalho académico finalizado a fazer emergir dos abismos do tempo o canto antigo da Igreja para fazê-lo ressoar na sua redescoberta novidade. Em segundo lugar, aquele versículo bíblico, com o seu modulamini, recorda-nos por assonância o âmbito próprio para o qual se dirigiu a investigação científica de Dom Turco, na qual se iniciou pelas intuições de Dom Jean Claire da Abadia de Solesmes, aquela modalidade que para ele já não tem mais segredos, e pela qual todos aqueles que estudam mais de perto o canto da Igreja lhe são reconhecidos, para além de devedores".
Dom Alberto Turco, sacerdote da diocese de Verona, dedicou à liturgia, à música sacra, ao estudo e à interpretação do canto gregoriano a sua vida, até hoje. Insigne estudioso, reconhecido a nível internacional, formou uma gerações de músicos no estudo científico do Gregoriano. Durante anos docente, primeiro no Pontifício Instituto Ambrosiano de Música Sacra de Milão, depois no Pontifício Instituto de Música Sacra de Roma. Os seus estudos científicos, com o passar dos anos, concretizaram-se na publicação de diversos manuais de teoria do gregoriano, procurando divulgar o mais possível o inestimável valor deste canto, considerado pela Igreja o próprio canto oficial.  Podemos dizer mais: o canto gregoriano tornou-se, para ele, um estilo de vida, de pensamento, uma expressão profunda da sua fé e do seu sacerdócio.
A actividade científica de Dom Alberto tem como ponto de referência ineludível Solesmes (F), onde não foi nunca um hóspede qualquer, um hóspede passageiro. Precisamente nesta Abadia francesa, aprendeu a amar, a viver o gregoriano; eviscerando manuscritos, livros, postilas, "bilhetinhos" entre monges estudiosos, comentários. Na Oficina de paleografia pôde respirar a antiga tradição que trouxe o canto gregoriano até aos nossos dias. Incansável trabalhador, Don Alberto, continua a “desenfornar” projectos, propostas, obras; o seu ponto fixo é que nada se perca da bimilenar Tradição do Canto Gregoriano.

Esta publicação quer honrar o estudioso, o que formou tantos músicos direcionando-os para uma abordagem científica, leal, verídica da música sacra. Abre com dois estudos dedicados ao canto gregoriano, que documentam a complexidade desta matéria no campo da restituição melódica, ainda hoje, fonte de visões tantas vezes pessoais e pouco fundamentadas com estudos apropriados. Nestes dois artigos observa-se o método de trabalho ensinado pelo prof. Turco: uma abordagem unitária, não ligada somente a experiências circunscritas de um determinado território ou região, mas uma convergência mais ampla de várias fontes manuscritas, suportada por outras disciplinas do canto gregoriano como a modalidade, a semiologia, a estética e o estudo das várias fórmulas que compõem cada peça individual. O volume prossegue propondo estudos muito interessantes que vão desde as primeiras formas de polifonia ao alternatim órgão gregoriano; ao estudo dos códices medievais e instrumentos musicais capazes de introduzir o ânimo humano na espiritualidade da música. Por fim, um apêndice que recolhe a bibliografia, discografia e as teses discutidas sob a direcção do Maestro Turco. Tudo isto em demonstração do incansável labor daquele que nestas páginas queremos recordar com estima e gratidão.

No quanto respeita à sua relação com a diocese de Verona, exprimiu-se principalmente na sua initerrupta presença, de 1965 a 2017 (por cinquenta e dois anos), na Sé Catedral como Director da Capela musical do Duomo, não obstante os compromissos artísticos e científicos o tenham amiúde chamado para fora do âmbito diocesano.

Querido Dom Alberto, queremos concluir estas breves linhas citando o Salmo 91 no versículo 15: "Mesmo na velhice dará o seu fruto, cheio de seiva e de vigor, para proclamar que o Senhor é justo; n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade."
Ad multos annos, magister.

A Redacção



terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

ALBERTO TURCO | Cursos Internacionais | Verão-Outono 2024 | Itália

Canto Gregoriano - corsi estivi internazionali

FARA SABINA (Rieti)
presso il Monastero delle clarisse eremite
8 - 13 luglio 2024

PADOVA
presso l’Abbazia di Santa Giustina
26 - 31 agosto 2024

ROMA
presso il “Seraficum” Collegio francescano dei frati minori conventuali
Via del Serafico, 1
00142 Roma RM


L’ALLELUIA MELISMATICO Origine e sviluppo
25 - 27 ottobre 2024
 - Verona



Per informazioni:
International Association Vox Gregoriana
ia.voxgregoriana@gmail.com
+39 351 8377138

Mais informações em língua portuguesa:

A Associação Internacional Vox Gregoriana tem o prazer de apresentar os Cursos de Fara Sabina e Pádua, agora na sua trigésima edição. Como no ano passado, o curso inclui um triénio fundamental para principiantes, um biénio de especialização para cantores e um “Mestrado Internacional” em interpretação, reservado a maestros e especialistas.

OFERTA QUINQUENAL

- TRIÉNIO FUNDAMENTAL

I. Iniciação ao canto gregoriano
Os cantos da Missa e do Ofício
História da notação musical
A notação quadrada, elementos auxiliares
O neuma, o ritmo, a interpretação
Os tons da salmodia silábica

II. O proto-gregoriano
Recitativos litúrgicos e salmodia pré-octoecos
Repertório anterior e formas litúrgico-musicais precedentes ao séc. IX
Análise estético-modal e datação das melodias

III. Introdução à paleografia
Origem dos neumas: acentos (neuma monossónico)
Modificação dos acentos: episema e liquescência
A combinação básica do sinal de acentos nos neumas fundamentais plurissónicos

- BIÉNIO DE ESPECIALIZAÇÃO

I. Semio-modalidade
O neuma e o modo da palavra cantada, através da análise do agrupamento gráfico (corte neumático) dos elementos sonoros do neuma

II. A interpretação do canto gregoriano
 Os efeitos verbo-modais na escrita neumática e sua interpretação rítmica no "estilo verbal".

MESTRADO INTERNACIONAL

Fara in Sabina: Exposição teórico-prática do ritmo gregoriano: do estilo verbal ao estilo melismático 

Pádua: As festas marianas: origens e difusão do Proprium Missae 

Cada mestrado aceita inscrições limitadas a 10 pessoas, a fim de se executarem as peças propostas. Também se aceitam inscrições de mais participantes, na qualidade de "ouvintes". Tanto a uns como a outros serão fornecidas as peças para estudo, em fotocópia. Texto para estudo: Liber Gradualis I, Pars Festiva.

MATERIAL DIDÁCTICO
Para todos os níveis de aprendizagem, Monsenhor Alberto Turco venderá a preços reduzidos manuais, tratados, cantorais, gravações em CD/DVD, etc. durante a realização do curso.

ACESSOS, ALOJAMENTO, REFEIÇÕES

Fara in Sabina: 8 - 13 de Julho de 2024
Aeroportos de Roma (Fiumicino, Ciampino)
Comboio até à Estação Ferroviária de Fara Sabina (junta à povoação de Passo Corese)
No largo da estação, Autocarro Autolinee Troiani linhas A/B/C ou Cotral, directamente até à povoação de Fara in Sabina (Comune)
Dormidas e refeições no Mosteiro das Clarissas Eremitas, séde do curso

Pádua: 26 - 31 Agosto de 2024
Aeroportos de Milão, Veneza, Bérgamo, Bolonha, Verona, Pádua.
Comboio até à Estação Ferroviária Central de Pádua (Padova)
Largo da estação (a sul), Autocarro ou Eléctrico
Ou Caminhada de 36 minutos a pé atravessando o centro histórico da cidade até Prato della Valle
Dormidas e refeições na Abadia Beneditina de Santa Justina, séde do curso

HORÁRIOS
Início às 15h30 de 2ª feira, conclusão ao almoço de Sábado
Aulas e ensaios durante a manhã e tarde para todos os grupos
Na 6ª Feira, concerto e Missa de encerramento

CUSTOS
Transferência bancária: Inscrição 45€
No local: Curso 110€ / Masters 160€ / Alojamento e refeições 50€/dia

INSCRIÇÕES
Cada participante deverá contactar a Associação Internacional Vox Gregoriana através de correio-electrónico, facebook, ou whatsapp +393518377138, e facultar os seguintes dados:

FORMULÁRIO DE APLICAÇÃO
Sobrenome____________________________________
Primeiro nome_________________________________
Nacionalidade_________________________________
Rua___________________________________________
Código Postal / Cidade__________________________
Província_____________________________________
Tel. _________________ celular. __________________
E-mail_______________________________________
Inscrevo-me no seguinte curso:
TRÊS ANOS FUNDAMENTAIS
I. Iniciação ao canto gregoriano __
II. O proto-gregoriano __
III. Introdução à paleografia __
ESPECIALIZAÇÃO DE DOIS ANOS
I. Semio-modalidade __
II. A interpretação __
MESTRADO INTERNACIONAL
Efectivo __ Ouvinte __

domingo, 29 de novembro de 2020

Descoberta de nova edição do Enchiridium Missarum Sollemnium de João Dias

Contarei aqui um caso que nos tem entretido nos últimos tempos, desde Maio de 2019 quando o amigo português de Olivença José António González Carrillo me mostrou umas fotografias dum cantoral impresso e por ele adquirido uns anos antes na Feira da Ladra aquando duma sua visita a Lisboa: 


Crédito: José António González Carrilho.

O exemplar deste amigo encontra-se, e já se encontrava à data da compra, amputado da sua encadernação original, assim como dos fólios iniciais contendo os título e autor, data e local de imprensa, licenças, dedicatórias e índice; tão-pouco se encontrou qualquer colofão, e o final do livro mostra-se incompleto (verso do fólio 180, erradamente paginado com 160, com a sequência Dies irae da Missa pro defunctis). Tratava-se, portanto, de um livro de cantochão por identificar, impresso a duas cores (rubrum para as rubricas e pentagrama, nigrum para os restantes elementos), com cânticos gregorianos de vésperas e missas das principais festas e solenidades do ano litúrgico. O caro leitor poderá consultar todo o livro graças à generosidade do seu proprietário que o fotografou por inteiro.

Chamou-me à atenção a nota manuscrita neste primeiro fólio, onde se podem ler as palavras Liberal Sampaio: provavelmente um anterior proprietário. Através duma pesquisa na internet, rapidamente chegámos ao blog Outeiro Seco - A Quem Interesse, da autoria de Humberto Ferreira, assim como às Velharias do Dr. Luís Montalvão, que confirmaram ser esta anotação uma assinatura do Doutor Liberal Sampaio, influente figura do Norte Português, mais concretamente de Chaves, na transição entre os séculos XIX e XX. A assinatura presente no cantoral comparada com a de outros documentos da autoria do Padre Liberal Sampaio prova que este foi o seu proprietário há cerca de 100 anos.

Exemplo de caligrafia do Pe. Liberal Sampaio.
Crédito: Luís Montalvão.

Adicional prova de que o livro pertenceu ao ilustre Doutor está no título "Cantochão" em caligrafia mais moderna coincidente com a cota 1281 da 2ª página do catálogo realizado postumamente pelos herdeiros do Sacerdote, cota esta com o mesmo exacto título, sem informações de autor nem data ou local de publicação, e colocada na secção Assuntos Teológicos.

Topo da folha de rosto do cantoral descoberto.
Crédito: JAGC.

 

Excerto do catálogo da biblioteca do solar dos Montalvões.
Crédito: LM.

 

À data da última transacção, o exemplar não possuía qualquer cota.
Crédito: JAGC.

Mas quem fôra, afinal, Liberal Sampaio? José Rodrigues Liberal Sampaio nasceu a 29 de Julho de 1846 em Sarraquinhos, concelho de Montalegre. Foi pároco do Outeiro Seco, no concelho de Chaves, onde viveu a maior parte da sua vida. De 1886 a 1891 estudou em Coimbra com excelente aproveitamento académico. Nas palavras de Luís Montalvão, seu trisneto e biógrafo, Liberal Sampaio "era um homem muito culto, formado em teologia e direito, colaborador regular na imprensa periódica flaviense, numismata, bibliófilo e fazia parte da extensa rede de colaboradores de José Leite de Vasconcelos, que o informavam de tudo o que existisse de interesse arqueológico e etnológico em cada parte do País." Granjeou fama de grandíssimo orador, tendo sido honrado por Sua Majestade com o título de pregador da Casa Real. Fundou um colégio que ensinou muitos notáveis, projectou uma Biblioteca Municipal e um Museu Regional em Chaves, e acumulou várias centenas de livros na biblioteca da sua residência no solar dos Montalvões em Outeiro Seco. Manteve-se sempre activo intelectualmente, tendo falecido no dia 29 de Outubro de 1935, aos 89 anos de idade.

O padre José Rodrigues Liberal Sampaio, no momento da sua formatura.
Foto de J. M. Santos, Phot. Conimbricense. Crédito: LM.


Fachada poente do solar da família Montalvão, em Outeiro Seco, Chaves.
A biblioteca corresponderia às três grandes janelas no primeiro plano. Crédito: LM.



José Maria Ferreira Montalvão (filho de Liberal Sampaio) na biblioteca da família.
Podem ver-se todos os livros cotados. Crédito: LM.


A personalidade idónea de Liberal Sampaio faz-nos crer que o livro tenha chegado à sua posse já amputado dos elementos identificativos de que actualmente carece, não sendo impossível que tenha sido ele mesmo o responsável pela actual encadernação. Contudo, nada sabemos acerca de quando, onde, ou como o livro tenha sido por ele adquirido, nem que uso este lhe deu durante a sua vida. Seja como fôr, o cantoral foi vendido nos anos 80 (juntamente com a restante biblioteca do solar dos Montalvões) a um alfarrabista em Lisboa, o qual por sua vez o terá revendido, e nalgum momento a respectiva cota (se é que chegou a ser acrescentada ao livro) terá sido retirada. Finalmente, na última década, este precioso exemplar foi comprado por José António González Carrilho na Feira da Ladra em Lisboa e daí levado para Olivença.

Pois bem, na nossa busca por qual seria esta edição, fomos ao sítio da Biblioteca Nacional Digital, à procura de algum exemplar semelhante que nos pudesse dar mais informações. Fomos felizes, em que encontrámos algo muito semelhante!


Crédito: BND.
 
As semelhanças são muitas, parecendo o exemplar da BND uma edição mais antiga que a de Olivença. Na verdade, trata-se de duas edições do Enchiridium Missarum Sollemnium et Votivarum cum vesperis, do Padre João Dias, impresso e reimpresso em Coimbra em finais do século XVI e princípios do XVII.
 
A palavra latina Enchiridium vem do grego ἐγχειρίδιος que significa livro manual; usou-se para designar uma colectânea de utilidades, habitualmente incompleta mas essencial, sobre determinado assunto. Por exemplo, Sexto Pompónio coligiu um inquirídio sobre leis romanas; Santo Agostinho sobre as três virtudes teologais da fé, esperança e caridade; e Erasmo de Roterdão sobre as virtudes do soldado cristão. No nosso caso, trata-se duma colecção com os cantoschãos mais importantes do ano, isto é das Missas e Vésperas das principais festas litúrgicas do ano, segundo o rito romano reformado pelo Concílio de Trento, em Portugal.
 
Terá sido um género muito divulgado em Portugal a partir da chegada da imprensa e sua aplicação à música. O padre e bilioteconomista português Diogo Barbosa de Machado em meados do século XVIII na sua monumental Bibliotheca lusitana recolhe para além do do Padre João Dias (vol.II, p.650) também outro entretanto perdido: 

 Também Matias de Sousa Villalobos imprimiu o seu, no final do século XVII:
 
https://digitalis-dsp.uc.pt/bg1/UCBG-MI-150/UCBG-MI-150_master/UCBG-MI-150_JPG/UCBG-MI-150_JPG_24-C-R0100/UCBG-MI-150_0013_1_t24-C-R0100.jpg
Note-se a semelhança com os outros dois fólios mostrados acima.
Crédito: BGUC.


Sobre esta última edição, Ernesto Vieira, no seu Diccionario Bibliograpico de Muzicos Portuguezes, refere que seria "egual ao de outras idênticas" (vol. II, pp.402-406).
 
A importância deste tipo de publicações prende-se não apenas com o estudo da prática do cantochão eclesiástico mas também da polifonia ("canto-d'órgão") com a qual se relacionava intimamente. O investigador Rui Cabral, p.ex., em artigo publicado na Revista Portuguesa de Musicologia de 1996, sugere que o Mestre Manuel Mendes poderia ter tomada a melodia do Kyrie pro defunctis do Enchiridium de João Dias para compôr a última secção do Kyrie da sua Missa polifónica de defuntos. O mesmo trabalho refere ter-se então conhecimento apenas das edições de 1580 e 1585 do Enchiridium, nas quais aliás a sequência Dies irae se não encontra, contrariamente à versão em Olivença:


Verso do antepenúltimo e rosto do último fólios sobreviventes do exemplar do Enchiridium em Olivença. Crédito: JAGC. 
 
Colocámos assim a questão ao investigador e especialista na matéria, o Prof. José Abreu, que muito gentilmente em correspondência privada nos garantiu ser o exemplar de Olivença uma reedição do Enchiridium de João Dias, nomeadamente mais tardia que os exemplares conhecidos de 1609 (site da Biblioteca Nacional Digital e reservados da Biblioteca Municipal do Porto) e de 1621 (Universidade de Évora), sendo provavelmente muito próxima desta última.

Gostaríamos, portanto, de deixar estas informações ao cuidado da musicologia nacional e internacional, a fim de mais estimular o estudo e o avanço da ciência assim como da preservação e desenvolvimento do património.
 
Um agradecimento sentido a todos os envolvidos, sobretudo ao José António González Carrilho por partilhar a sua colecção privada, ao Luís Montalvão por partilhar a sua história familiar, e ao José Abreu por partilhar o seu trabalho académico: que todos um grande Bem hajam!

*

P.s.: Na sequência desta descoberta o Dr. Luís Montalvão publicou um interessante artigo cuja leitura se recomenda vivamente e no qual desenvolve o assunto do solar senhorial do Outeiro Seco e respectiva importância para a cultura nacional.

sábado, 17 de outubro de 2020

Os boletins do Centro "Jean Claire" de Verona

São publicados na página do Facebook desta associação italiana fundada e dirigida pelo Monsenhor Alberto Turco em homenagem a um seu mestre francês. Para saber mais sobre a associação, existe igualmente o sítio permanente.

Os boletins publicam-se a cada quatro meses (quadrimestrais) e apresentam curtos artigos em língua italiana da autoria de entendidos estudiosos do canto gregoriano. Todos eles se encontram na rede social da organização e podem também pedir-se em PDF para o seu email: gregorianavox@gmail.com . De seguida um breve elenco dos assuntos nos boletins já publicados:

2019 - 0
Sessantini: é necessário unir todos os que estudam o canto gregoriano e exigir elevada qualidade científica ao seu trabalho.

2019 - 1
Turco: Sobre a oscilação entre os modos de re e mi e uma crítica a opções de restituição melódica no Graduale Novum.

2019 - 2
Sessantini: o nº 116 da Sacrosanctum Concilium do Concílio Vaticano II ou o que significa ser o canto gregoriano próprio da liturgia romana.
Repeto: crítica a livro de Rampi e De Lillo.

2019 - 3
Bellinazzo: origem dos próprios das Missas do Natal.
Turco: a colocação do qüilisma no scandicus.

2020 - 1
Turco: reconstituição da antífona Immutemur habitu para a 4ª Feira de Cinzas.
Repeto: crítica a livro de De Lillo.

2020 - 2
Sessantini: o que significa «ceteribus paribus».
Turco: especificidades dos ofertórios das solenidades pascais.

2020 - 3
Turco: crítica às opções melódicas de alguns toni communes e símbolo apostólico no Graduale Novum.

2021 - 1
Sesantini: o "novo" missal.
Turco: o canto do celebrante.

2021 - 2

2021 - 3

*

Os que puderem não deixem de frequentar o curso virtual de Monsenhor Alberto Turco nas próximas semanas:

Actualização: cursos de verão 2023.

domingo, 3 de março de 2019

Crítica ao Graduale Romanum de 1974 / Triplex de 1979

Actualização: depois de detectar um equívoco importante que comprometia todo o raciocínio exposto neste artigo, o autor optou por retirá-lo do ar esperando em breve corriji-lo e republicá-lo. Pedimos desculpa pelo incómodo.

Comprar o Graduale Romanum de 1974
Comprar o Graduale Triplex de 1979

https://www.facebook.com/notes/francisco-vila%C3%A7a-lopes/cursos-canto-gregoriano-2019/1972610229474891/

Frequentar Cursos de Canto Gregoriano em 2019

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Manual de Formação de Acólitos

Graças à generosa ajuda de vários amigos, apresentamos o

Cerimonial dos Acólitos
de Alberto Zwaenepoel (1956)
- descarregar PDF (18,5MB) -


Trata-se, a nosso ver, da mais importante e completa obra para a iniciação práctica dos acólitos, tratando todos os pormenores com cuidadosa atenção.

Embora um documento originalmente estrangeiro, esta edição histórica pode considerar-se representativa das melhores prácticas pré-conciliares em Portugal. O livro ostenta o Nihil obstat do Cónego António Gonçalves, o Imprimatur do Bispo Prienense D. Manuel, e as não menos preciosas notas de tradução do Padre Fernando Ferraz (nas páginas 13 e 53) que oportunamente avisam o leitor do que à época em Portugal poderia diferir do relatado no livro; ou seja, atestam que tudo o resto seria a tradição vigente.

Constitui, portanto, leitura essencial para todos os acólitos da Igreja de língua portuguesa, não sós os que servem na forma extraordinária do rito romano, mas também os que servem na forma ordinária ("hermenêutica da continuidade"), assim como os doutros ritos latinos (nomeadamente, no espaço lusófono, o bracarense).

Também o cantor encontrará utilidade neste estudo.

Para facilitar a leitura hodierna, deixamos algumas notas, relativas à tradução das principais expressões em latim, bem conhecidas então:

página 10: Que filhos da luz sejais.
20: Em nome do Pai ― e do Filho ― e do Espírito ― Santo. Ámãe.
O nosso ― auxílio ― está no Nome ― do Senhor.
As indulgência ― absolvição ― e remissão ― dos nossos pecados.
Com o Espírito ― Santo ― na glória ― de Deus Pai. Ámãe.
E ― a vida ― do vindouro ― século. Ámãe.
Bendito ― O Que vem ― em Nome ― do Senhor.
(do) Pai ― e (do) Filho ― e (do) Espírito ― Santo. Ámãe.
Abre, Senhor.
Deus ― vinde ― em nosso ― auxílio.
A minha ― alma ― louva ― ao Senhor.
21: do Santo ― Evangelho ― segundo São N.
25: E o Verbo Se fez carne. E prostrando-se adoraram-n'O. E prostrando-se adorou-O. Ao Nome de Jesus todos os joelhos se flictam.
27: Confesso. 
28: Glória ao Pai. Bendito seja o Nome do Senhor.
[Glória] a Deus. Nós te adoramos. Nós Te damos graças. Acolhe a nossa súplica.
[Creio em um só] Deus. E encarnou ... e Se fez homem. São adorados.
Dêmos graças ao Senhor, nosso Deus.
Tamanho [Sacramento] portanto. Veneremos inclinados.
30: Lavarei.
32: A Paz [esteja] contigo. E com o teu espírito.
33: minha culpa. apieda-Te de nós. dá-nos a paz. Cordeiro de Deus. Senhor, não sou digno. E a nós, pecadores.
45: Graças a Deus.
47: Asperfir-me-ás. Vi a água.
48: Bendize(i), Pai reverendo.
57: guiado.
58: atingido.
59: seus barretes. Se os ministros estão revestidos de dalmática ou tunícola abertas ou de capa abertas ou de capa, os dois acólitos seguram pela extremidade, com ambas as mãos, os paramentos &c.

*
*   *


Nota: para a melhor execução da música litúrgica segundo o Missal Romano de 1962, recomendam-se os cursos com Monsenhor Alberto Turco.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Livro "Harpa de Sião" do Pe. João Baptista Lehmann

Apresentamos, de forma bem humilde, o livro "Harpa de Sião" datado de 1957 organizado pelo padre João Baptista Lehmann.

Esse livro foi impresso no Brasil, para música Litúrgica, anterior ao Concílio Vaticano II, para, com certeza, auxiliar na criação de um repertório litúrgico nesse país, de modo a ser um auxílio para os coros. Talvez seja por inspiração do Motu Proprio "Tra le Sollecitude" do papa São Pio X. Não sei qual foi o seu alcance nas diversas paróquias do Brasil; na minha paróquia, particularmente, quando ainda nem possuía esse título, já se usava tal livro. 

Essa edição destina-se ao canto. Exitem outras edições para acompanhamento ao órgão ou harmônio, um instrumento que foi comum em muitas de nossas igrejas (na minha paróquia havia um; na minha arquidiocese vários, muitos em abandono e com defeitos). Se alguém se interessar pelas edições para órgão ou harmônio, comente, que, na possibilidade, posso tentar digitalizar as que tenho comigo. As partituras de acompanhamento para órgão também podem ser vistas neste local.

Quem desejar acessar a Edição para o Canto do referido livro, pode fazê-lo aqui.

Na foto abaixo, temos o exemplo de uma música do livro "Harpa de Sião". É primeira partitura, uma música para o Advento. Parece-me que ainda hoje é muito conhecida por aqui no Brasil, mas, ao invés do refrão em latim, usa-se em língua portuguesa, que também é bonito: "Orvalhai, lá do alto, ó céus, e as nuvens chovam o justo".

sábado, 12 de setembro de 2015

Processionário Beneditino de Coimbra

O nosso amigo Marco da Vinha dos blogues Una Voce Portugal e Alma Bracarense enviou-nos um códice português de canto-chão do século XVIII. Trata-se do Processionarium monasticum juxta consuetudinem Monachorum Nigrorum Ordinis S.P.N. Benedicti regnorum Portugaliae, ou seja "Processionário monástico segundo o costume dos Monges Negros da Ordem do Nosso Pai São Bento dos Reinos de Portugal", de 1727, no qual se encontrarão muitas coisas boas, velhas e novas!

Deixamos-vos como exemplo as partituras e gravações de dois cânticos familiares, aqui em versões substancialmente distintas das do Graduale Romanum:










sábado, 24 de janeiro de 2015

A música ouvida por Fernão Mendes Pinto

O aventureiro Português, a páginas tantas da sua Peregrinação pelo Extremo Oriente, descreve a Missa cantada que o herói António de Faria ouviu aquando do seu triunfal recebimento, a um Domingo de 1542, na povoação portuguesa de Liampó, na China.

Note-se que na época a Liturgia era celebrada em Latim, excepção feita aos sermões, e aos vilancetes, que eram pequenos poemas em língua vernácula; as orações cantavam-se em canto chão, isto é a uma só voz (canto gregoriano tardio), alternado com o canto d'órgão, ou seja a múltiplas vozes com ou sem o acompanhamento de instrumentos musicais de sopro ou corda (polifonia do Renascimento).

Quem na Liturgia de hoje cantar o gregoriano ou a polifonia saberá por experiência que o que vem adiante narrado não é mentirosa ficção nem desvirtuada paixão.
Capítulo 69
De que maneira António de Faria foi levado à Igreja, e do que passou nela até a Missa ser acabada.
Abalando-se daqui António de Faria, o quiseram levar debaixo de um rico pálio, que seis homens dos mais principais lhe tinham prestes, porém ele o não quis aceitar, dizendo que não nacera para tamanha honra como aquela que lhe queriam fazer, e seguiu seu caminho sem mais fausto que o primeiro, que era acompanhá-lo muita gente assi Portuguesa, como da terra, e doutras muitas nações que ali por trato de mercancia era junta, por ser este o milhor e o mais rico porto que então se sabia em todas aquelas partes, e levava diante de si muitas danças, pélas, folias, jogos, e antremeses de muitas maneiras que a gente da terra que connosco tratava, uns por rogos, e outros forçados das penas que lhes punham, também faziam como os Portugueses, e tudo isto acompanhado de muitas trombetas, charamelas, frautas, orlos, doçainas, harpas, violas d'arco, e juntamente pífaros, e tambores, com um labarinto de vozes à Charachina de tamanho estrondo que parecia cousa sonhada. Chegando à porta da igreja, o saíram a receber oito padres revestidos em capas de brocado e telas ricas, com procissão cantando Te Deum laudamus, a que outra soma de cantores com muito boas falas respondia em canto d'órgão tão concertado quanto se pudera ver na capela de qualquer grande Príncipe. Com este aparato foi muito devagar até a capela mor da igreja, onde estava armado um dorsel de damasco branco, e junto dele ũa cadeira de veludo cramesim com ũa almofada aos peis do mesmo veludo. E assentando-se nesta cadeira ouviu Missa cantada oficiada com grande concerto, assi de falas, como de instrumentos músicos, na qual prégou um Estêvão Nogueira que aí era Vigairo, homem já de dias e muito honrado, mas como ele pelo descostume andava mal corrente na prática do púlpito, e de si era fraco oficial, e pouco ou nada letrado, e sôbre isto vão e presuntuoso de quasi fidalgo, querendo então, por ser dia sinalado, mostrar quanto sabia, e quão reitórico era, fundou todo o sermão em louvores somente de António de Faria, com ũas palavras tão desatadas, e por uns termos tanto sem concerto, que enxergando os ouvintes em António de Faria, que estava corrido e quasi afrontado, lhe puxaram alguns seus amigos pelo sobrepeliz três ou quatro vezes para que se calasse, e caindo ele no que era, como homem acordado na briga, disse alto que todos o ouviram, fingindo que respondia aos amigos: «Eu falo verdade no que digo, pelos Santos Evangelhos, e por isso deixai-me, que faço votos a Deus de dar com a cabeça pelas paredes por quem me salvou sete mil de cruz que mandava de emprego no junco, os quais o pêrro do Coja Acém me tinha já levado pelo pau do canto como jogador de bola, que mau inferno lhe dê Deus na alma lá onde jaz, e dizei todos Amén.» E com esta desfeita foi tamanha a risada na gente que não havia quem se ouvisse na igreja. Despois que o tumulto foi calado, e a gente quieta, vieram seis mininos da sancrestia, em trajos de Anjos com seus instrumentos de música todos dourados, e pondo-se o mesmo padre em joelhos diante do altar de Nossa Senhora da Conceição, olhando para a imagem com as mãos alevantadas, e os olhos cheios de água, disse chorando em voz entoada e sintida, como que falava com a imagem: «Vós sois a rosa, Senhora», a que os seis mininos respondiam: «Senhora, vós sois a rosa», descantando tão suavemente cos instrumentos que tangiam, que a gente estava toda pasmada e fora de si, sem haver quem pudesse ter as lágrimas, nascidas da muita devação que isto causou em todos. Após isto, tocando o Vigairo ũa viola grande ao modo antigo, que tinha nas mãos, disse com a mesma voz entoada algũas voltas a este vilancete, muito devotas e conformes ao tempo, e no cabo de cada ũa delas respondiam os mininos «Senhora, vós sois a rosa», o que a todos geralmente pareceu muito bem, assi pelo concerto grande da música com que foi feito, como pela muita devação que causou em toda a gente, com que em toda a igreja se derramaram muitas lágrimas.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

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Podeis escrever para:

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