Nota prévia: para um melhor aperfeiçoamente da solmização, sugerem-se os cursos presenciais com o Maestro Isaac Alonso de Molina.
O método que aqui se apresentará foi recuperado a partir das fontes antigas (tratados, iconografia, etc.) pelo Professor Isaac Alonso de Molina, o qual tem ensinado pessoalmente os seus alunos.
Para treinardes este método à distância, publicaremos nesta página vários vídeos filmados no côro-alto da Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Ferragudo (Agradecimentos: Reverendo Padre Miguel Ângelo, Sr. Carlos Almeida), alguns dos quais contendo enganos que um aluno atento facilmente detectará e corrigirá. Os esquemas foram criados pelo zeloso aluno Felipe Gomes de Souza Araújo partindo do material gentilmente cedido pelo Professor Isaac. Guardai esta página nos vossos favoritos e visitai-a no futuro. Sendo este um assunto eminentemente práctico, os interessados poderão pedir-me mais informações e esclarecimentos pelos canais habituais (comentários, email, Messenger, Skype, Whatsapp, Hangouts, etc.).
O Hexacordo
É um conjunto de 6 cordas consecutivas. Cada corda está sempre separada da vizinha por um tom, excepto a 3ª da 4ª, que estão sempre a meio-tom uma da outra.UT 1 RE 1 MI ½ FA 1 SOL 1 LA
- Escala para cima e para baixo:
UT RE MI FA SOL LA, LA SOL FA MI RE UT. - Intervalos:
UT RE, UT MI, UT FA, UT SOL, UT LA;
LA SOL, LA FA, LA MI, LA RE, LA UT. - Terças:
UT RE MI, UT MI; RE MI FA, RE FA; MI FA SOL, MI SOL; FA SOL LA, FA LA;
LA SOL FA, LA FA; SOL FA MI, SOL MI; FA MI RE, FA RE; MI RE UT, MI UT.
UT MI, RE FA, MI SOL, FA LA; LA FA, SOL MI, FA RE, MI UT. - Quartas:
UT RE MI FA, UT FA; RE MI FA SOL, RE SOL; MI FA SOL LA, MI LA;
LA SOL FA MI, LA MI; SOL FA MI RE, SOL RE; FA MI RE UT, FA UT.
UT FA, RE SOL, MI LA; LA MI, SOL RE, FA UT. - Quintas:
UT RE MI FA SOL, UT SOL; RE MI FA SOL LA, RE LA;
LA SOL FA MI RE, LA RE; SOL FA MI RE UT, SOL UT.
UT SOL, RE LA; LA RE, SOL UT. - Sextas:
UT RE MI FA SOL LA, UT LA; LA SOL FA MI RE UT, LA UT.
UT LA, LA UT
Hexacordos Naturais
Têm a sua 1ª (UT) em C.Portanto, o semitom aparece entre E e F.
Natura gravis
Natura acuta
Hexacordos duros
Têm a sua 1ª em G.Portanto, o semitom aparece entre B e C.
Logo, o B é chamado de durum ou quadratum: ♮
B-durum gravis
À 1ª corda chamamos Γ (Gamma) pois é a letra equivalente ao G no alfabeto grego. Foram os gregos que inventaram a teoria musical.B-durum acutum
B-durum super acutum
O e' sobreagudo (LA) está no dorso da mão, na articulação interfalângica distal, do lado oposto ao d' (SOL).Hexacordos moles ou brandos
Têm a sua 1ª em F.Portanto, o semitom aparece entre A e B.
Logo, o B é chamado de molle ou rotundum: ♭
Molle gravis
Molle acutum
"Mutanças" (mutações ou mudanças)
Practicai os seguintes exercícios:
- Escala para cima e para baixo:
À 5ª: UT RE MI FA SOL [LA=]RE MI FA, FA MI [RE=]LA SOL FA MI RE UT.
À 4ª: UT RE MI FA [SOL=]RE MI FA SOL, SOL FA [MI=]LA SOL FA MI RE UT. - Terças, Quartas, Quintas e Oitavas.
(mudando à 5ª e à 4ª) - Prestai muita atenção a onde se coloca o meio-tom (sempre MI-FA).
À 5ª
SOL RE ao subir
MI LA ao descer
Na mutação à 5ª, a 4ª fa-sol-re-mi é uma 4ª aumentada (trítono): fa contra mi, diabolus in musica, intervalo proibido.
À 4ª
FA RE ao subir
FA LA ao descer
Na mutação à 4ª, a 5ª mi-fa-re-mi-fa é uma 5ª diminuta: mi contra fa, diabolus in musica, intervalo proibido.
Mutações subindo dos hexacordos naturais para os duros
Sempre à 5ª.Natura gravis, durum acutum
Natura acuta, Durum super acutum
Mutações subindo dos hexacordos duros para os naturais
Sempre à 4ª.Durum gravis, Natura gravis
Durum acutum, Natura acuta
Mutações subindo dos hexacordos naturais para os moles
Sempre à 4ª.Natura gravis, Molle gravis
Natura acuta, Molle acutum
Mutações subindo dos hexacordos moles para os naturais
Sempre à 5ª.Molle gravis, Natura acuta
O Gammut e a Mão Guidoniana
"Gamma Ut"
Cada corda pode ter um ou mais nomes conforme o hexacordo em que estejamos.A Mão de Guido d'Arezzo
Manus Guidonis |
Para dominar este método:
- Repetir todos os exercícios q.b..
- Solmizar com a mão esquerda,
com as duas mãos simultaneamente,
e com a mão direita sozinha. - Com os olhos abertos
e com os olhos fechados. - Cantando
e em silêncio. - Com as palmas da mão viradas para a cara,
com uma virada para a cara e a outra para a frente,
e com as duas para a frente. - Com as mãos no ar,
ao nível da cara,
e atrás das costas. - Treinar a obediência à afinação dada pelo 1º cantor (incipit):
Solmizar todos os hexacordos e mutações partindo da mesma altura;
repetir este exercício partindo doutras alturas diferentes. - Treinar a máxima extensão vocal:
Escolher uma altura suficientemente grave em que partindo da corda mais grave (Γ) se consiga cantar até à mais aguda (ee) passando por todas as que entre elas estão e solmizando todos os hexacordos e mutações da mão de Guido. A tessitura normal de um cantor deveria abranger toda uma mão (20ª).
Regras adicionais para se usarem somente quando cantando a partir de partituras originais (facsimile de documentos históricos):
Una super la est semper fa.
Sempre que fôr necessária cantar só uma corda imediatamente acima do hexacordo em que estamos a cantar, não é preciso mutar, cantando essa nota como um fa, meio-tom acima do la: ut re mi fa sol la fa.
- P.ex. se estamos a recitar em a e aparece um b isolado sem indicação de b-molle, assumimos que será mole, e cantamos la fa la.
Clausula finalis
Na cadência final de uma peça, se a corda final fôr precedida por uma corda inferior num grau contíguo, essa corda pode ser cantada a meio-tom de distância da corda final i.e. na notação moderna receberia um sustenido #. Excepções:
- Quando a corda final seja mi (pois o meio-tom fa está imediatamente acima).
- Quando o intervalo que se cantar para atingir essa corda resultar num intervalo proibido: 4ª diminuta, 4ª aumentada (trítono) ou 5ª diminuta.
- Quando em contraponto a cláusula finalis resultar em dissonância com as outras vozes.
Algumas razões pelas quais este método de solfejo é mais apropriado para a música sacra (para além do que já foi dito)
- O canto gregoriano é música recta, i.e. maioritariamente sem acidentes nem alterações.
- Todos os intervalos possíveis permitidos se treinam com este método.
- Algumas peças têm um âmbito de uma 6ª, exactamente onde encaixa um hexacordo de Guido (p.ex. Comunhão Tu mandásti, molle gravis).
- Ainda que a maioria tenha um âmbito um pouco maior (cerca de uma 8ª), a maioria dos segmentos de cada peça podem cantar-se sem ser necessário mudar de hexacordo (economia de mutações).
- Fica fácil cantar paralelismos à 5ª (ou à 4ª).
Solmização do Reportório Gregoriano
- Identificar a corda de recitação / arquitectural ou estrutural / tenor salmódico da peça em causa.
- Peças sem modo atribuído: será a corda mais vezes cantada, aquela em que se repetem consecutivamente várias sílabas.
- I modo: A
- II modo: F
- III modo: B durum
- IV modo: A
- V modo: C
- VI modo: A
- VII modo: D
- VIII modo: C
- Todas as peças ao longo duma celebração terão a sua corda de recitação enoada sempre à mesma altura. Uma altura cómoda para a maioria dos córos será a que corresponde ao nosso A moderno (440 Hz) dado na Igreja pelo diapasão ou instrumento (la2 vozes graves ou la3 crianças). Há no entanto liberdade para escolher outra corda, desde que seja a mesma ao longo da celebração.
- Ouvir essa altura e dar-lhe em voz baixa o nome de solmização que recebe a corda de recitação da peça que cantaremos.
- Solmizar o intervalo desde a corda de recitação até à primeira corda.
Muito obrigado, esta página foi muito útil para a minha compreensão da solmização!
ResponderEliminarMuito obrigado! Se achar útil inscreva-se na nossa Turma de Gregoriano em Linha. Bem haja, http://migre.me/wjLM6
EliminarMuito importante suas divulgações,parabéns!
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