terça-feira, 25 de junho de 2024

Alberto Turco: Lição Magistral

Continuamos a tradução e republicação
dos impressionantes artigos contidos no 

  

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Nota do Editor: De seguida propomos aqui a Lectio Magistralis proferida pelo professor Alberto Turco, por ocasião da apresentação do livro em sua homenagem “Dialettica e paradigmi del sacro in musica” da série do Pontifício Instituto de Música Sacra “Didattica e Saggistica”. A conferência realizou-se no dia 18 de Novembro de 2021, na Igreja da Abadia do mesmo Instituto.

A VERDADE HISTÓRICA DO CANTO GREGORIANO:
um enriquecimento espiritual e cultural.

A Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium do Vaticano II reiterou, na esteira da tradição, que o gregoriano é o "canto próprio" da liturgia da Igreja Romana.

Mas o que restou deste mesmo canto na liturgia do pós-Vaticano II?
Algum poderia dizer que hoje não é mais o tempo de falar do gregoriano... e talvez acrescentar que assim o exigiria a pastoral!
Se isto fosse verdadeiro, ocorre a pergunta se nos futuros documentos sobre a «música na sagrada liturgia» ainda se encontrará a definição do gregoriano como o «canto próprio» da Igreja.
Pela minha parte, estou certo de que a Igreja romana não renunciará jamais a esta definição, pelo facto de que o canto gregoriano foi e, na maior parte do seu repertório, sempre será, o ser e o existir da liturgia cantada da Igreja universal de rito romano.

O “ser” e o “existir” do canto gregoriano

Na definição da liturgia fons et culmen da vida cristã, há também o canto da «Oração», o canto lírico da “Catequese”. O gregoriano é precisamente este canto! Acompanha a oração e a acção litúrgica, ao ponto de constituir uma só entidade. Por consequência, a riqueza, que se deve esperar do canto gregoriano, não é outra senão a da “vida litúrgica”, «fonte e cume da vida cristã». Quantas gerações de sacerdotes e leigos assimilaram uma autêntica espiritualidade litúrgica através da prática do canto gregoriano!

As melodias gregorianas não existem por si mesmas; foram criadas para o serviço exclusivo do “texto litúrgico”, do qual nasceram no próprio acto da oração oficial da Igreja. O mesmo vale para as melodias do celebrante, do diácono, do leitor, do salmista, dos cantores, da schola e do côro, subdivididas nos seus papéis e cada qual com textos próprios, diferentes não só pela natureza e estilo, mas também pela ornamentação de melodias adequadas. Sem perder nada da sua frescura, da sua inspiração e espontaneidade, as melodias vivem em perfeita simbiose com o texto.

No canto gregoriano, a melodia põe-se em obediência à «Palavra de Deus», tal como anunciada na liturgia. Com efeito, é Deus quem nos fornece as fórmulas do nosso louvor, da nossa adoração, das nossas invocações. A Igreja retoma estes textos inspirados, escolhe-os, coloca-os, reúne-os, esclarece-os uns com os outros, fazendo uma maravilhosa síntese entre Escritura e Tradição. A Igreja compõe assim o “poema” da sagrada liturgia, no qual a história da nossa salvação é descrita em forma lírica. Neste conjunto, cada texto escriturístico, certamente inspirado como uma segunda canonicidade, torna-se quase duas vezes expressivo da verdade divina. É neste serviço à Palavra de Deus que as melodias são definitivamente arrancadas de si mesmas para serem “consagradas”. Este é o verdadeiro «canto litúrgico».

A verdade histórica do canto gregoriano

O canto, denominado gregoriano em época tardia, percorreu todas as etapas da história da liturgia: foi o canto das comunidades da época apostólica, da época patrística, dos grandes papas dos séculos V-VI-VII; foi o canto dos textos e da ritualidade do final da Idade Média até aos nossos dias; assim será também nas épocas futuras, enquanto a Igreja fizer memória do mistério de Cristo.

Durante nove séculos, o chamado gregoriano permaneceu confiado à memória. Sabemos, de facto, que - andando para trás - os últimos documentos à nossa disposição são em notação musical com neumas em campo aberto, com as grafias dos acentos agudos e graves, isolados ou ligados em várias combinações.
Estas concederam-nos não um livro de canto na acepção moderna, mas apenas indicações estético-modais e expressivas que nos confirmam que, pelos finais do séc. VIII e no séc. IX, todo o sistema litúrgico-musical estava definido, coerentemente à liturgia coeva, propriamente dita “gregoriana”.
Por outras palavras, a semiologia nasce quando o repertório existe já, e está em idade adulta, e pede que seja difundido, quando as tradições orais, tanto galicanas como romanas, encontram um suporte para se documentarem. A semiologia nada mais é do que o relato do mestre do coro que entrega por escrito o programa das suas exigências. Certamente não pode exprimir tudo; mas o que o maestro exprime é de uma tal fineza que vai além do que aquilo a que estamos habituados com as escritas mensuralísticas, e de relevância tal que contrasta com os livres efeitos requeridos pelas notações da música "contemporânea".
Quando aparece a escrita sobre linhas, no início do séc. XI, a memória alenta o seu controlo, emergem as variantes, sempre mais numerosas, sempre mais graves. A estas motivações, que são seguramente as principais, juntam-se outras que arrastam o canto gregoriano para a decadência.
A primeira decadência infligida ao gregoriano é obra dos teóricos do octoecos do séc. X-XI, os séculos das falsidades, que basearam a análise do repertório gregoriano na teoria das oitavas tonais gregas, trocando-as com as oitavas modais. Era motivo de orgulho para os teóricos do séc. IX poder traçar as origens do canto da Igreja na música grega. Não há nada mais empírico do que ligar o gregoriano à teoria dos oito modos.
Sobre esta visão de oitavas tonais (escalas octocordais), os manuais do canto gregoriano, as enciclopédias e os volumes de história da música escreveram o inverosímil na tentativa de explicar a modalidade do repertório gregoriano. Seria tempo e hora de abolir certa terminologia, que compositores e músicos apreciam ainda operar na análise de composições renascentistas e modernas.
Ainda hoje, a proposta de uma restauração, certamente não magis critica das melodias gregorianas, é fortemente viciada pela teoria do octoecos, segundo a qual as melodias devem restituir-se na escrita em cadência final Ré, Mi, Fa, Sol. Tudo isso advém porque não se conhece nada do que efectivamente aconteceu no canto da liturgia antes do séc. IX.

Valor espiritual e cultural do canto gregoriano

Seja-me consentida agora recordar as condições objectivas e subjectivas que asseguram ao canto gregoriano o seu valor teológico e contemplativo do "facere sacrum".
As condições objectivas são constituídas pelo texto e pela sua execução em canto, respondendo ao pensamento dos compositores. Digamos desde já que as versões oficiais do canto gregoriano são apenas as da Vaticana e, aos nossos dias, as reconhecidas pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A restauração do Graduale Romanum de 1908, sem dúvida imperfeita, representou um progresso “imenso” em relação às edições dos séc. XVIII e XIX. E, ainda hoje, sob o aspecto da cantabilidade das melodias, a edição vaticana do Graduale Romanum deve ser considerada de grande apreço, direi que é uma edição “venerável”. O critério da cantabilidade das melodias estava sob a atenção da comissão pontifícia. Isto deve ser reconhecido. São melodias cantáveis! A sua musicalidade é um valor indispensável para o texto. Por outro lado, as actuais restaurações de melodias que levam a formulações estranhas, direi “exóticas”, ou seja, de todo incompreensíveis para uma linha melódica “diatónica”, estão em contraste com a “verdade histórica” e, consequentemente, estão em contraste com o “sacrum facere”. Há uma afirmação de São Paulo na primeira carta aos Coríntios, que se aplica ao nosso caso: «rezarei com o espírito, mas rezarei também com a inteligência; cantarei com o espírito, mas cantarei também com a intreligência» (1 Cor 14, 15).
Um mosteiro da família solesmense, após ter adoptado as melodias do Antiphonale Monasticum dos anos 2000-2005, retirou a edição devido à dificuldade de cantar certas versões melódicas, reservando-se a propor uma nova edição.

As edições passadas da Vaticana certamente precisam de ser revisitadas, com instrumentos e aparato crítico adequados. À época da edição do Graduale Romanum de 1908 e do Antiphonale Romanum de 1912, a comissão pontifícia não dispunha de meios (cerca de dez manuscritos) e de trabalhos científicos avançados. Hoje, o aparato científico adequado está disponível no atelier solesmense para iniciar uma versão melódica magis critica. No texto da Sacrosanctum Concilium, n. 117, redigido pela Abadia de Solesmes, com o qual se auspicia o completamento das edições do canto gregoriano e a revisitação das melodias já publicadas, confirma-se implicitamente que o aparato crítico para a restauração do Graduale Romanum foi ultimado. Na verdade estamos em 1964.
Quem não estudou no atelier de Solesmes dificilmente pode aperceber-se da riqueza dos trabalhos científicos, documentados em cem anos de trabalho dos monges e, dificilmente, poderá ter uma visão geral dos problemas que se impõem para uma aceitável restauração melódica do canto gregoriano.

A segunda condição objectiva é devolver ao gregoriano a sua conotação de canto para a liturgia. Aqui entra em campo a interpretação, oriunda da ciência da paleografia e, consequentemente, da semiologia. A que nós temos nos nossos livros é uma «neografia» da escrita musical gregoriana. Entre a paleografia e a neografia musical não há solução de continuidade. Não se decidiu num determinado dia passar da paleo- para a neo-grafia, de modo que se encontram ainda nos nossos livros actuais os sinais paleográficos um tanto evoluídos.
Portanto, o mestre do canto gregoriano deve conhecer a paleografia e a semiologia gregoriana, pelo menos em quanto concerne o significado dos neumas em campo aberto, em relação ao texto litúrgico, à melodia, à estética e à luz da intencionalidade do mestre da notação musical.
Uma vez assegurada a forma autêntica ou pelo menos fiável (versão melódica e execução rítmica texto-melodia), é indispensável que a execução da peça envolva a assembleia na celebração litúrgica, favorecendo a oração e a contemplação: estas são as condições subjetivas do valor teológico e contemplativo que uma melodia gregoriana tem em si mesma.
Portanto, o ensinamento teórico e a praxe executiva não podem prescindir destas condições e traduzir-se num exercício de vocalidade, muito menos numa execução académica ou prestação concertistica tout court.

Neste ponto, surge o grande problema da competência musical e da formação litúrgica e espiritual do(s) maestro(s).
No têm a idoneidade de ensino do canto gregoriano aqueles que receberam certificados de participação em conferências ou cursos generalistas. E ouso dizer que não podem nem tão-pouco declarar-se mestres aqueles que não possuem um diploma específico em canto gregoriano.
Hoje, assistimos a um facto curioso: metido à margem da liturgia, o gregoriano tornou-se uma “moda”, uma atracção “exótica”, um tema musicológico, que se crê aprender a bom preço e, consequentemente, poder ensinar, por ter adquirido algumas noções sobre a notação quadrada e com a participação em aulas on-line, em fins de semana e outros eventos, promovidos por professores improvisados!
Os músicos de todos os tempos sempre foram influenciados pelo canto gregoriano, não tanto pela sua atracção enquanto música sui generis, mas porque intuíram o valor intrínseco deste inestimável monumento da arte musical. O canto gregoriano não é obra de um compositor, mas é o fruto da mais genuína expressão da liturgia, o grande poema da vida cultual da Igreja. A sua conotação primária é a de ser a celebração do “mistério” de Cristo nos séculos. Para isso, além de aprender noções técnicas, os professores devem preparar-se, para não trair o «mais digno de todos os louvores» a Deus, reconhecido no gregoriano.

E que coisa deveremos dizer do mestre dos futuros mestres de canto gregoriano? Para assumir este encargo, a um diploma sério deve juntar-se a «habilitação» para a docência, como acontece, neste mundo, com outras profissões. A habilitação pressupõe a conhecença do gregoriano, ciência e mistério.
Digamos desde já que a ciência do gregoriano deve estender-se aos “factos musicais” que caracterizaram a formação e evolução da liturgia cantada, desde a sua nascença até à documentação dos séc. IX e X.
A ciência do gregoriano comporta uma visão geral de todos os parâmetros que vão da compreensão do texto e a sua colocação no tempo litúrgico até à síntese estético-modal, que nos permite colher, nas multíplices formas musicais, a conotação íntima de cada nota na dinâmica da execução. Entenda-se bem que, à luz destes parâmetros, é necessário avizinhar-se às fontes manuscritas com respeito e com rigor científico na formulação dos critérios compositivos.

Habilitação ao gregoriano, «ciência», mas também «mistério».
O “mistério” do canto gregoriano é a igreja que reza, canta e, com a graça do Espírito Santo, celebra a vida de Cristo, para a glória do Pai e a salvação do mundo. Aprendendo e rezando em canto gregoriano, é importante ouvi-lo, e ouvi-lo em atitude contemplativa.
O maestro não só tem a tarefa de ensinar a verdade da forma estética, do significado textual e melódico de cada peça, mas tem sobretudo o dever de transmitir o seu conteúdo espiritual, assegurando ao canto a sua eficácia de oração e de contemplação.
Portanto, a meu ver, a qualificação para o canto gregoriano “mistério” deveria encarnar-se em pessoas consagradas à meditação, à oração e, sobretudo, à contemplação da liturgia. Em concreto, deveria concretizar-se em pessoas que celebram a liturgia.

E concluo dizendo que o gregoriano é o dom de Deus à Igreja, para que se torne o «esplêndido louvor» da Igreja a Deus (Sl 23, o salmo do Senhor no seu templo).
O Gregoriano é a oração do compositor, para que se torne a oração do maestro.
Sempre, na verdade, como reza a ant. Diligite Dominum, omnes sancti eius, quoniam veritatem requiret Dominus.

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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Liber Gradualis - Pars Festiva

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dos fascinantes artigos contidos no 

  

NOVIDADE EDITORIAL

LIBER GRADUALIS
iuxta «Ordo Cantus Missæ», auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, in quo melodiæ restitutæ sunt e fontibus adhibitis in præparando Graduale Romanum secundum hodiernæ musicalis criticæ regulas.

Livro Gradual, segundo a Ordem do Canto da Missa promulgada com autoridade do Papa Paulo VI, no qual as melodias foram restituídas a partir das fontes consultadas na preparação do futuro Gradual Romano segundo as regras da crítica musical de hoje.


Formato 14x21 cm
724 páginas
Papel marfim 80g
Encadernação de fio cosido
Versos de capa e contracapa em papel algodonado marfim
Placas de capa, lombada e contracapa em imitação de couro verde garrafa
Estampa dourada na capa e lombada
Capitéis e 3 marcadores de cores diferentes

O LIBER GRADUALIS PARS FESTIVA é o volume de 724 páginas que reúne a proposta de restituição melódica do repertório gregoriano da Missa elaborada por Mons. Alberto Turco e seus colaboradores.

Nasce de um estudo atento e comparativo de muitíssimos testemunhos antigos transcritos em tabelas sinóticas guardadas como tesouro precioso no atelier de Paléographie da Abadia de Solesmes. Acima da versão neumática em notação quadrada, aderente às mais recentes aquisições gráficas, vem relatada a mais antiga notação em campo aberto dos manuscritos sangaleses. A notação neumática de São Galo é, de facto, a mais rica que todas as outras em fornecer indicações do ponto de vista expressivo, estético e modal, indicações mais que suficientes para uma interpretação correcta e artisticamente significativa.

Neste primeiro volume incluem-se todas as celebrações festivas, enquanto o segundo, a publicar em breve, será dedicado às feriais. Ineludível ponto de referência para quantos amam, estudam e executam o canto da próprio Igreja romana.

Informações e encomendas:
EDIÇÕES DE MÚSICA ARMELIN
Riviera San Benedetto, 18-35122 Pádua
Tel +39 049 8724 928
www.armelin.it
info@armelin.it

Prefácio

O Liber Gradualis, nos seus dois volumes, recolhe quanto foi publicado em fascículos separados, divididos por tempos litúrgicos, entre os anos de 2009 e 2016, revisto, corrigido e ampliado em vista desta edição. Se aqueles fascículos, na sua praticidade editorial e gráfica, se destinavam mormente ao estudo pessoal e do côro, a presente edição responde também à exigência de quantos desejam utilizar na liturgia a versão melódica preparada por Alberto Turco e pelo grupo de trabalho que colabora com ele. Tal versão não quer ter a pretensão nem da oficialidade, reservada unicamente à edição típica da Vaticana, nem da exaustividade, nem sequer da exclusividade, pois sabemos que os estudos sobre o canto gregoriano estão bem longe de se concluírem em todas as frentes. E, todavia, esta edição quer apresentar-se como magis crítica [1], em comparação não só com a Vaticana, mas também a outras propostas similares.

[1] Como requerido pela Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II: “Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X" (SC 117).

O ponto de partida, para nós inequívoco, são os estudos semiológicos e modais surgidos em torno do atelier de Paléographie da Abadia de Solesmes. O próprio título - Liber Gradualis - refere-se à primeira obra homónima publicada em 1883 por dom Joseph Pothier (1835-1923) que constitui a primeira pedra de uma construção bem ordenada que ainda agora continua a ser edificada, com o contributo de quantos hoje se põem séria e verdadeiramente na esteira de dom Eugène Cardine (1905-1988) e dom Jean Claire (1920-2006). Precisamente a partir da sua actividade científica, a semiologia e a modalidade gregorianas receberam um notável impulso, permitindo uma compreensão e uma interpretação da monodia litúrgica mais consentânea com a verdade dos factos históricos documentados pelos manuscritos. O estudo directo das fontes antigas continua sendo um trabalho insubstituível para se chegar a uma proposta de restituição melódica filologicamente correcta e criticamente aceitável. O caminho traçado pela Édition critique do Graduale Romanum [2] com o amplo reconhecimento dos manuscritos, as suas relações genealógicas, alguns levantamentos e uma proposta exemplificativa de restituição melódica [3], é aqui retomado e acolhido no método, complementado com o que os estudos posteriores evidenciaram, em particular os da semiomodalidade, para atingir critérios bem definidos, compartilhados e compartilháveis, ​​quanto à escrita e aos semitons da corda móvel, respeitando a natureza das fórmulas relativamente ao aspecto estético modal. 

[2] Le Graduel Romain, Edition critique par les moines de Solesmes, IV Le texte neumatique, vol. I, Abbaye Saint-Pierre de Solesmes 1960 e vol. II Abbaye Saint-Pierre de Solesmes 1962.

[3] La missa “Ad te levavi”, ibidem, vol II, pag 63-89.

Para conveniência dos estudiosos relatamos no final deste Prefácio o elenco de manuscritos apresentado na Édition critique. É precisamente a partir deste amplo confronto que é possível determinar uma versão melódica que encontra confirmação na convergência mais ampla possível dos antigos testemunhos.
Sobre a versão neumática em notação quadrada, é relatada a mais antiga notação in campo aperto dos manuscritos de St. Gallen, deixando de fora a de Laon, em linha com a escolha do Graduel Romain no seu ensaio de restituição melódica [4].

[4] Ibidem.

Especificamente, os manuscritos utilizados são os mesmos reportados pelo Triplex:

Gal1 = St. Gallen 359, Cantatorium, (séc. X);
Ein = Einsiedeln 121, Graduale, (segunda metade do séc. IX);
Gal3 = St. Gallen 376, Graduale, (séc. XI) na ausência de Ein;
Har = St. Gallen 390-391, Antifonário de Hartker, (aa. 980-1011) para as Communio retiradas do Antiphonale.
Para os tons salmódicos das Communio, fez-se referência a Ein e G381, (St. Gallen, Stiftsbibl. 381) Versicularium, (primeira metade do séc. XI).

Sob o título de cada peça, apresentam-se as siglas dos manuscritos dos Antifonários da Missa, sem notação musical, dispostas em sinopse no Antiphonale Missarum Sextuplex de dom René-Jean Hesbert:

M Cantatorium de Monza (segundo terço do séc. IX)
R Graduale de Rheineau (cerca de 800)
B Graduale de Mont-Blandin (séc.s VIII-IX)
C Graduale de Compiègne (segunda metade do séc. IX)
K Graduale de Corbie (depois de 853)
S Graduale de Senlis (finais do séc. IX).

Tal como no Graduale Triplex, a letra grega λ indica uma lacuna no manuscrito.

O aparato crítico que ilustra o trabalho realizado e as escolhas efectuadas para boa parte do repertório está disponível na série Subsidia do Centro di canto gregoriano e monodie «Jean Claire» de Verona junto das Edizioni Melosantiqua [5], à qual se remete.

Uma anotação particular merecem duas escolhas aqui efectuadas e que marcam um seguro progresso.

A primeira. Nesta edição foi abordado o tema do quilisma no intervalo de quarta ou de quinta já delineado por Cardine no Liber Hymnarius [6] e bem evidencado na Edition critique [7] à luz dos manuscritos diastemáticos e em parte adiastemáticos.

[6] Antiphonale Romanum Tomus alter, Liber Hymnarius cum Invitatoriis et aliquibus Responsoriis, Solesmis 1983, e.g. resp. Ecce vicit p 512, 4ª pauta al-leluia. Sobre este tema ver também ALBERTO TURCO, A colocação do «quilisma» no scandicus, in Vox gregoriana, Boletim informativo do centro de Canto Gregoriano e monodias «Dom Jean Claire» - Verona, n° 3 Setembro - Dezembro 2019, pp 8-12.

[7] Cfr. nota 3.

A segunda. Os versetos dos Intróitos e das Comunhões do III tom apresentam a versão melódica estereotipada da cadência mediana, retirada do Versicularium 381. Todas as Communio foram dotadas de um verseto salmódico, na selecção operada por Ein.

O auspício é que este ulterior trabalho possa contribuir para o verdadeiro progresso dos estudos restitutivos, bem como para a difusão daquele canto que a Igreja não hesita em definir como "próprio" [8] e em preferi-lo na liturgia às outras linguagens musicais.

[8] SC 116

Mons. Alberto Turco
Dom Nicola Bellinazzo
Dom Gilberto Sessantini

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