Nota prévia: para saber mais sobre a origem e a autêntica interpretação da música litúrgica do casamento, recomendam-se os cursos de Dom Alberto Turco.
Deus Israel conjungat vos | Deus vos conjugue. |
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Um casal amigo da capella pediu a um dos membros que cantasse o salmo responsorial no seu casamento. Optámos por cantar o gradual Uxor tua. O gradual é uma peça musical tradicional da Igreja de rito romano que se pode cantar em vez do SR, conforme permite o IGMR de 2002 no ponto 61:
Em vez do salmo que vem indicado no Leccionário, também se pode cantar ou o responsório gradual tirado do Gradual Romano ou um salmo responsorial ou aleluiático do Gradual simples, na forma indicada nestes livros.Se na 1ª Leitura ouvimos muitas palavras com pouca música (uma vez que também esta leitura pode ser cantada), depois a Liturgia da Palavra oferece poucas palavras com muita música, como que para ajudar a digerir a Palavra de Deus; por isso os longos melismas sobre uma só sílaba. É como que uma resposta à leitura que se acabou de ler, daí o nome de psalmus responsorius.
A versão que se segue, obtivemo-la no Graduale Romanum de 1961, na missa ritual do matrimónio Pro sponso et sponsa (pelo esposo e esposa). Adicionámos ao tetragrama os neumas arcaicos de Saint Gall, conforme a edição dos alemães Gregor und Taube para dois graduais análogos:
A nossa gravação na Sé Catedral de Viseu a 7 de Maio de 2011, presidida por Sua Eminência D. Ilídio Leandro, Bispo da Diocese:
Podeis usá-la para a cantardes vós na vossa paróquia, ou então convidai-nos para cantarmos esta e outras peças próprias para o rito do matrimónio no vosso casamento.
Que espectáculo! É o Francisco a cantar, não é?
ResponderEliminarTrata-se de um texto tirado do Salmo 127:1-6 e escrito muito antes de Cristo.
ResponderEliminar1 canticum graduum beati omnes qui timent Dominum qui ambulant in viis eius 2 labores manuum tuarum *quia; manducabis beatus es et bene tibi erit 3 uxor tua sicut vitis abundans in lateribus domus tuae filii tui sicut novella olivarum in circuitu mensae tuae 4 ecce sic benedicetur homo qui timet Dominum 5 benedicat te Dominus ex Sion et videas bona Hierusalem omnibus diebus vitae tuae 6 et videas filios filiorum tuorum pax super Israhel
A imagem da videira na Sagrada Escritura fala de como Deus cuida do seu Povo de Israel e dos seus,
e também contém o esforço do dono por cuidar da vinha (regar, muros de protecção, torre para a proteger dos ladrão, etc.). Ou seja, é uma imagem que fala do relacionamento entre Deus e o seu povo, da protecção e esperança de resposta nos frutos de boas obras.
É facil pensar no sentido de futuro "plenário" (na mente de Deus ao inspirá-lo ao salmista) referido a Cristo e à sua Igreja. Embora não só no sentido escatológico mais focado.
(com a Igreja já no Céu).
E AO MESMO TEMPO, FALA DO CASAL E DA FAMÍLIA, reflexo do amor de Deus naqueles que criou à sua "imagem e semelhança".
Assim se dirige aos noivos e abençoando-os ("A tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar, e os teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor da tua mesa").
Pede e anuncia as graças que concede àquele amor mútuo de união ("íntimidade do teu lar"): a fecundidade nos filhos ("ramos de oliveira") e protecção para o calor do ambiente familiar ("ao redor da tua mesa") onde todos amadurecem apoiando-se.
O texto colocado no blog exigiria por isso talvez mais cuidado sem complicar a brevidade que se procura.
Ou seja
Não falaria só da pureza da mulher... nem só de Cristo e da sua Igreja.
A imagem da videira na Sagrada Escritura tem um sentido mais global. Também contém o esforço por cuidar dela (regar, muros de protecção, torre para a proteger dos ladrão, etc.). Ou seja, é uma imagem que também fala do marido.
Com efeito: é o Francisco e é um espectáculo.
ResponderEliminarGaba-te, cesta!
ResponderEliminarAo anónimo das 23:06:
ResponderEliminaragradeço a visita e o comentário. Volte sempre, com a compreensão literal dos comentários que resolve premiar com a sua facécia e com a agudeza do seu sentido crítico ao serviço da música litúrgica.
Esta peça entranha-se cada vez mais à medida que se vai ouvindo uma e outra vez. Caramba, o Francisco cantou-a mesmo bem. Há pormenores lindíssimos, escolhas rítmicas muito expressivas. É preciso ser-se de pedra para não nos comovermos com certas passagens. Só é pena algum ruído ambiente, mas é mesmo assim, e confere o realismo adequado ao evento.
ResponderEliminarCaro Bernardo,
ResponderEliminarA peça é realmente muito bela.
É, para além disso, muito representativa dos graduais do modo II. Ouve-as as vezes que quiseres e aprende a melodia, porque, mais tarde ou mais cedo, quando Deus quiser, havemos de cantar um gradual muito semelhante a este.
Quanto à interpretação, tal como se encontra escrita na partitura em apêndice, não será perfeita. Como amadores de semiologia gregoriana, certamente que a nossa realização rítmica, resultante da aplicação por analogia de desenhos melódicos de graduias idênticos, subjacentes nas respectivas notações primitivas (como o Francisco refere no texto desta entrada), não estará ao abrigo de críticas válidas. Esperamos, contudo, ter conseguido respeitar satisfatoriamente os princípios semiológicos.
Quanto à interpretação cantada, sente-se uma certa pressa que resulta da pressão de uma cultura litúrgica centrada na assembleia, excessivamente preocupada com a duração das cerimónias. Estou certo de que, num ambiente mais favorável, o Francisco teria cantado num tempo mais lento, deixando a música respirar com outro fôlego. De resto, partilho, no essencial, o teu comentário. Só quem está a par do percurso da capella está em condições de apreciar aquilo que o Francisco foi capaz de fazer. Ele tem cabedal, vocal e anímico, de solista. Tem razões para se sentir satisfeito com o contributo que deu para a cerimónia, o que conseguiu fazer à custa de muito trabalho, musical e não só.
Quanto ao futuro: já viste que a próxima missa, dia 19/6/2011, é o Domingo da Santíssima Trindade, tão magnificamente ilustrada na imagem que usas como avatar?
Um abraço,