Ontem à noite fui ao concerto do Côro de Santa Cecília de Florença, sob a direcção do maestro Alessandro Benassai, na Igreja Matriz de Portimão. A minha opinião:
NOTAS POSITIVAS:
Todo o reportório interpretado foi sacro, tendo sido escolhidos textos cristãos, litúrgicos ou devocionais, em várias línguas e de várias tradições (judaica, cristianismo oriental e ocidental) com respectiva tradução portuguesa num livrete para os ouvintes acompanharem. (Também a única peça exclusivamente instrumental foi inspirada num texto sacro.)
O concerto foi enriquecido por comentários de uma senhora que muito oportunamente apresentou o côro e as peças, tanto no início como a meio do concerto.
Todas as composições foram originais, da autoria do maestro, num estilo certamente inspirado na homofonia dos ritos orientais e (menos) no canto-chão, permitindo a boa inteligibilidade do texto (escanção métrica à italiana), e com um nível de dificuldade adequado à capacidade do côro, o qual teve a felicidade de cantar tudo de cór.
Na indumentária, os músicos apresentaram-se com decôro e aprumo, como se
de uma formação profissional se tratasse.
NOTAS NEGATIVAS:
Perdeu-se uma excelente oportunidade para dar a conhecer ao público de Portimão os géneros mais perfeitos da música sacra cristã do Ocidente (o canto gregoriano e a polifonia do Renascimento), os quais não são oferecidos habitualmente na Liturgia e por isso permanecem largamente desconhecidos dos Algarvios.
Apesar de todas as peças serem homorrítmicas e portanto relativamente fáceis, a técnica do côro apresentou imperfeições nas sincronização das vozes, e por vezes na afinação.
Também no plano instrumental, foi desprezado o valiosíssimo órgão de tubos do final do século XIX, existente no côro-alto da Igreja, da construção do organeiro inglês Henry Fincham.
Os músicos colocaram-se no presbitério do templo e a comentadora no ambão, contrariamente às recomendações da Cúria Romana, apropriando-se do espaço sagrado e virando as costas à imagem da Virgem Maria.
No global, dou os parabéns à organização e aos músicos, que souberam oferecer ao pôvo de Portimão um concerto de música sacra decente e gratuito, e ao público, que soube manter-se concentrado e aplaudir generosa e atempadamente!
Francisco Vilaça Lopes
Vê,
para que naquilo que com a boca cantas também com o coração creias,
e para que aquilo em que com o coração crês também com obras proves.
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