Pode ser acessado, numa tradução para Língua Portuguesa, aqui. Em Latim, na Acta Apostolicae Sedis 50, de 1958 (AAS 50 1958), às páginas 630 a 663, como está indicado no texto abaixo. Há também, em linha, uma tradução em Língua Inglesa. O ficheiro em Língua Portuguesa foi disponibilizado pelo Apostolado Missa Gregoriana; vede o Twitter deles.
"Pouco antes de sua piedosa morte, o Papa Pio XII, já benemérito pelas notáveis inovações litúrgicas, aprovou "de modo especial" esta Instructio de Musica Sacra et Sacra Liturgia ad mentem Litterarum Encyclicarum Pii Papae XII"Musicae Sacrae Disciplina" et "Mediator Dei", publicada na Acta Apostolicae Sedis, nº 12-13, de 19-22 de setembro de 1958, pp. 630-663. A extraordinária importância e o grande valor pastoral do documento pedem que seja publicado integralmente neste fascículo. A tradução que aqui damos foi feita pela Abadia Nossa Senhora das Graças especialmente para O Diário, de Belo Horizonte. O texto foi cuidadosamente revisto e cotejado com o original. Agradecemos à Sagrada Congregação dos Ritos tão preciosas instruções e congratulamo-nos com todos os nossos leitores pelo documento. " Transcrito da página 4 do referido ficheiro em Língua Portuguesa.
Encontramos no sítio da Escola Diocesana de Música Sacra de Coimbra (EDMS - Coimbra), a transcrição de um discurso do Mons. Valentino Miserachs Grau, brilhantemente traduzido à Língua Portuguesa. Queremos dar-lhe mais publicidade, pelas suas belíssimas e contundentes palavras.
O Discurso intitula-se: "Canto Gregoriano: as possibilidades e as condições para o seu restabelecimento". Dentre descrições contundentes, julguei por bem destacar, ainda, algumas partes.
1. O Canto Gregoriano é algo muito benquisto nos vários documentos da Santa Igreja sobre a Música Sacra. A questão levantada naquele discurso, é o fato de um processo de "obscurecimento" de uma tradição da Igreja, ter levado à criação de novas músicas que geraram um empobrecimento generalizado, bem notável em alguns lugares. Transcrevo um trecho bem elucidativo, na sequência do discurso: "O canto gregoriano executado pela assembleia não pode apenas ser restaurado - deve ser
restaurado, em conjunto com o canto da "schola" e dos celebrantes, se se deseja um
regresso à seriedade litúrgica, solidez de formas e universalidade que devem caracterizar
qualquer espécie de música litúrgica digna desse nome, tal como ensinava S. Pio X e repetia
João Paulo II, sem alterar uma coma. Como poderia um conjunto de melodias insípidas
decalcadas dos modelos da mais trivial música popular alguma vez substituir a nobreza e
robustez das melodias gregorianas, mesmo as mais simples, capazes de elevar os corações
das gentes ao Céu?"
2. Quando o Mons. Valentino Miserachs, descreve sugestões para fazer renascer o Canto Gregoriano na assembleia, ressalta a uma certa popularidade da Missa "De Angelis", com o Credo III, o que se nota com facilidade. De uma pequena experiência minha, ao cantar o Kyrie daquela Missa, deparei-me com o povo a cantar. Por que não começar a cantar essas peças, assim como as outras, nas Santas Missas, nos Tempos Litúrgicos e ocasiões que assim convenham?
3. O monsenhor nos faz observar também alguns compositores que fizeram do Gregoriano essência de sua música. Ele cita Perosi, Refice, e Bartolucci, como contemporâneos do Motu Proprio "Inter Sollicitudines". Vede como é interessante o Introito da Messa da Requiem, de Perosi. Como esses compositores assim se inspiraram no Canto Gregoriano, não seria algo desejado que, também os compositores atuais os fizessem, em novas composições em latim, ou vernáculo, ainda que não sejam complexas ou para corais? Certamente já se nota algo disso, mas desejamos que seja mais explorado. Fui surpreendido com a leveza dessa melodia portuguesa: Eis que um Virgem Conceberá. A partitura dela é de ritmo livre, ritmo das palavras, como no Canto Gregoriano.
4. O Mons. Valentino Miserachs, diz que o Canto Gregoriano é algo capaz de ser proposto a todos, de maneira a evocar certa universalidade, pois, em alguns países do mundo, as melodias locais trazem traços que vemos naquela Canto da Santa Igreja Católica. Recordo aqui o Cante Alentejano, com suas particularidades, muito interessantes. Aqui no Brasil, algumas melodias nordestinas, apresentam semelhanças com a Gregoriana, sendo diferente apenas o ritmo. Isso foi estudado e se encontra no livro "Música Brasileira na Liturgia", de vários autores. Nele, basicamente, se analisa traços musicais Brasil, e de como se podia utilizá-los na Liturgia; ele foi escrito logo após o Concílio Vaticano II.
Essas são algumas impressões. Recomendamos ao caro a leitor, que também veja esse discurso, e, se assim convier, também se inspire, sinta-se impulsionado a meditar na possibilidade de fazer o Canto Gregoriano ocupar o lugar que lhe é devido desde sempre.
Enfim, desejamos a todos um Feliz e Santo Natal. Que abramos os nossos corações a Jesus, Nosso Senhor, que vem e está às portas, e muito deseja cear connosco, se Lhe abrimos as mesmas. "Abri as portas a Cristo (...)". São João Paulo II. Findo com as belas palavras do papa Beato Paulo VI:
"O CÂNTICO DE LOUVOR que ressoa eternamente nas moradas celestes, e que Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, introduziu nesta terra de exílio, foi sempre repetido pela Igreja, durante tantos séculos, constante e fielmente, na maravilhosa variedade de suas formas". Beato Paulo VI, Laudis Canticum.
O nosso Amigo Lincoln Haas Hein teve a grande amabilidade de nos enviar a sua generosa transcrição para a língua portuguesa de algumas antífonas das Missas de Advento do Gradual Simples, mais concretamente as Antífonas de Entrada, Ofertório e Comunhão das Iª e IIª Missas de Advento.
"Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores."
A abadia de Solesmes respondeu a este pedido editando em 1974 o chamado Graduale Simplex, aprovado pelo Vaticano como edição típica para uso na Liturgia Romana, e que pode ser descarregado gratuitamente aqui http://www.chantcafe.com/2013/03/graduale-simplex-online.html?m=1
A referida edição, como qualquer outro livro litúrgico oficial, foi publicada originalmente em Latim, mas ao contrário das restantes nunca foi traduzida para o vernáculo português.
É nesta senda que se encaixa a oferta do Amigo Lincoln Haas Hein, que traduziu estas Antífonas e as transcreveu para o pentagrama moderno. As Missas de Advento do Gradual Simples podem cantar-se em qualquer Domingo (ou féria) do Advento, mas eu darei agora a minha opinião (baseando-me no original Gregoriano):
A vós, ó Senhor, elevei a minha alma: Intróito ou Ofertório do I Domigo do Advento.
Frustrado não será, Senhor, quem em Vós espera: Salmo Responsorial do I Domingo do Advento.
O Senhor fez o dom da bondade: Comunhão do I Domingo do Advento.
Céus, derramai o orvalho: Intróito do IV Domingo do Advento.
Avé, Maria: Ofertório do Iv Domingo do Advento.
Abençoastes, ó Senhor, vossa terra: Ofertório do III Domingo do Advento.
Ao pesquisar certa vez uma obra do maestro Furio Franceschini, encontrei uma coleção de partituras denominada "Missa Jesus Redentor de Todos", de autoria do Pe. José Maria Guimarães Alves, de 1965.
O que chamou a atenção é o fato de ser no "estilo gregoriano". Provavelmente foi composta nos momentos da reforma gradual da liturgia, ocorrida naqueles anos, que culminou com a publicação do "Missal do beato Paulo VI". São partituras que possuem também o acompanhamento para órgão.
Para quem quiser apreciar, pode conferir aqui. As partituras foram digitalizadas para o acervo da Biblioteca Digital da Unesp.
Obs.: Peço a atenção para as eventuais diferenças presentes nos textos litúrgicos. Por serem essas partituras anteriores à tradução portuguesa do Missal Romano em vigor, possuem textos litúrgicos com algumas diferenças. O que também pode ter sido opção do compositor.
Recentemente li na internet uma opinião segundo a qual na forma ordinária do rito romano não poderia existir "Missa Cantada", estando essa espécie de celebração apenas reservada à forma extraordinária.
Oxalá para corrigir esta opinião bastasse saber que um sacerdote formado e ordenado antes do Concílio Vaticano II, e doutorado em Música Sacra e Canto Gregoriano pelo Pontifício Instituto de Música Sacra e pela Universidade de Colónia, não tem qualquer escrúpulo em se referir à Missa Cantada na Forma Ordinária:
Mas se tal não fôr suficiente, procurarei nos próximos parágrafos esclarecer com mais razões este equívoco, e provar que a forma ordinária do rito romano admite, sim, uma Missa Cantada.
Poderíamos pensar que a razão de ser desta confusão prende-se com o facto de algumas normas posteriores ao Concílio Vaticano II carecerem talvez, aos nossos olhos, daquela
clareza que pauta os documentos precedentes. Essa falta de clareza
poderia fomentar em certos casos uma "hermenêutica de ruptura", para usar as palavras do Papa Bento XVI no Discurso de 22 de Dezembro de 2005,
hermenêutica segundo a qual os documentos anteriores ao Concílio não teriam
utilidade para a leitura dos documentos posteriores, os quais deveriam
ser lidos à luz de um suposto espírito conciliar mal definido e em
última análise heterodoxo; pelo contrário, seguir uma "hermenêutica da
continuidade" significa aqui preencher (o que nos parecem ser) as lacunas dos
documentos recentes com os conceitos dos antigos. Dito doutra forma: há
que começar pelos documentos magisteriais anteriores ao Concílio, e
actualizá-los com os mais recentes.
Mas nem será aqui este o caso, pois os documentos do Concílio apoiam claramente a nossa ideia de que existe Missa Cantada na liturgia reformada! Se não, leiamos a Instrução Musicam Sacram, emitida pela Sagrada Congregação dos Ritos em 1967:
28. Conserve-se a distinção entre missa solene, missa cantada e missa rezada estabelecida na Instrução de 1958 (n. 3), segundo as leis litúrgicas tradicionais e em vigor.
Continuemos então a leitura do belíssimo documento magisterial emitido pela mesma Sagrada Congregação, que apesar de anterior não perde utilidade para os nossos dias, por entre outras razões nela se definir claramente o que seja uma "Missa Cantada". Com efeito, no citado número 3, pode ler-se:
Há duas espécies de Missas: a Missa cantada e a Missa rezada. Diz-se Missa "cantada" quando o sacerdote celebrante canta as partes que deve cantar conforme as rubricas; do contrário, diz-se "rezada". A Missa cantada, se fôr celebrada com a assistência de Ministros sagrados, denomina-se Missa "solene"; se fôr celebrada sem Ministros sagrados, chama-se Missa "cantada".
Examinemos mais excertos desta Instrução para melhor robustecermos o nosso argumento sobre a legitimidade da existência de uma Missa cantada na forma ordinária.
Naturalmente, o documento nunca faz a distinção entre as duas formas do rito romano que hoje temos, pois essa distinção não existia à época. Outra distinção que tão-pouco aparece seria a existente entre os vários usos do rito romano, ou sobre os vários outros ritos latinos que não o romano, estes sim perfeitamente enraízados à data da publicação. Na verdade, mais adiante, no número 11, pode ler-se:
Esta Instrução vigora para todos os ritos da Igreja latina; por conseguinte, o que se diz acêrca do canto gregoriano vale também para o canto litúrgico próprio dos outros ritos latinos, no caso de haver algum.
Obviamente, à época, ao ler esta Instrução, não passaria pela cabeça de ninguém que a espécie da Missa cantada existisse apenas no rito romano e não nos outros ritos (p.ex. do rito bracarense, ou mozarábico, ou ambrosiano, ou outro qualquer); se fosse esse o caso, um documento que prima pela exactidão em tantos pormenores certamente apontaria para essa distinção, mas não o faz.
Convém ainda, nesta fase do nosso raciocínio, ler, mais adiante, o número 14:
Nas missas cantadas, unicamente a língua latina deverá ser usada, não só pelo sacerdote celebrante e pelos ministros, como também pela schola ou pelos fiéis.
E o número 16, alínea b, que esclarece que:
A língua do canto gregoriano, como canto litúrgico, é ùnicamente o latim.
Portanto, "Missa cantada" refere-se a toda e qualquer Missa que seja verdadeiramente "Missa", isto é validamente celebrada, e "cantada", isto é seguindo os textos e as melodias apresentadas nos livros litúrgicos em vigor à época e no local, em língua latina. Naturalmente, este conceito vem na linha da tradição milenar da Igreja latina, na qual sempre se cantaram todas as orações segundo melodias cuidadosamente mantidas por escrito ou oralmente, e isto já se fazia antes mesmo de existir o rito romano tal como o concebemos hoje, ou desde o Concílio de Trento, ou mesmo antes da crianção do reportório musical chamado gregoriano. (A bem da verdade, convém a dizer que tão-bem as igrejas do Oriente preservaram com grande estima o canto sacro como parte integrante da Liturgia, nomeadamente da Eucaristia.)
Por conseguinte, este conceito de Missa Cantada é de aplicar a qualquer rito latino hoje em vigor, entre os quais o romano, nas suas duas formas, ordinária e extraordinária. Digo isto porque, ainda que, por absurdo, a forma ordinária do rito romano fosse considerada um rito diverso da forma extraordinária do rito romano, isso nada interferiria com a nossa conclusão. Contudo, na verdade, as duas formas do rito romano são, nas palavras do Papa Bento XVI (Motu proprio Summorum Pontificum, art. 1), "dois usos do único rito romano". E ambas podem ser integralmente não só rezadas em língua latina, como tão-bem cantadas segundo as melodias dos respectivos Missais, Graduais, Antifonais &c..
Se continuarmos a leitura da supracitada Instrução, facilmente entenderemos o porquê de a Missa cantada ter "desaparecido" da práctica litúrgica da maioria das nossas comunidades paroquiais, diocesanas e até religiosas, salvo honrosas excepções: é que com a maior valorização do vernáculo e da cultura popular, simplesmente se passou a preferir a outra espécie de Missa que já era permitida antes do Concílio Vaticano II: a Missa rezada acompanhada de cânticos populares religiosos.
Leiamos a este respeito o número 9 da Instrução de 1958:
O Canto popular religioso é o canto que brota naturalmente do senso religioso com que a criatura humana foi enriquecida pelo próprio Criador e, visto ser universal, floresce em todos os povos. Sendo êste canto extremamente próprio para imbuir do espírito cristão a vida particular e social dos fiéis, foi, desde tempos remotíssimos, muito cultivado na Igreja [nota de rodapé: Cfr. Ef 5, 18-20; Col 3, 16] e também em nossos tempos é instantemente recomendado para o aumento da piedade dos fiéis e o brilho dos exercícios da piedade; pode mesmo ser algumas vêzes admitido nos próprios actos litúrgicos.
E o número 14, alínea b:
Nas Missas rezadas, o sacerdote celebrante, seu ministro e os fiéis que juntamente com o sacerdote celebrante participam directamente da acção litúrgica, isto é, dizem em voz alta as partes da Missa que lhes cabem (cf. n. 31) devem usar ùnicamente a língua latina. Se, entretanto, os fiéis, além dessa participação litúrgica directa, desejarem acrescentar algumas orações ou cantos populares, conforme o costume local, poderão fazê-lo na língua vernácula.
Esta ideia é mais adiante confirmada, no número 33:
Nas Missas rezadas, os fiéis podem cantar cânticos populares religiosos, mantendo-se entretanto a determinação de serem perfeitamente adequados a cada uma das partes da Missa (cf. n. 14 b).
Portanto, os cânticos populares entram na Liturgia no contexto da Missa rezada, e não da Missa cantada. Isto é, quando os fiéis cantarem em vernáculo, o Magistério não exige o cântico das várias orações "que o sacerdote deve cantar"; o mesmo não podemos dizer em relação ao canto gregoriano. Com efeito, onde se cantar o Ordinário e o Próprio gregorianos (o mesmo é dizer: onde houver uma schola capaz), o sacerdote deverá cantar também (obrigatoriamente) as orações que a ele competem exclusivamente.
É que o Magistério define, para a Missa cantada, três graus de solenização da Missa com o canto gregoriano; fá-lo na Instrução de 1958, e também (de modo ligeiramente diferente em alguns pormenores mas no essencial igual) na de 1957. Leiamos o número 7 desta última:
Entre a forma solene e mais plena das celebrações litúrgicas (em que
se canta realmente tudo quanto exige canto) e a forma mais simples em
que não se emprega o canto, pode haver vários graus, conforme o canto
tenha maior ou menor lugar. Todavia, na escolha das partes que se devem
cantar, começar-se-á por aquelas que por sua natureza são de importância
maior: em primeiro lugar, por aquelas que devem ser cantadas pelo
sacerdote ou pelos ministros, com resposta do povo; ou pelo sacerdote
juntamente com o povo; juntar-se-ão depois, pouco a pouco, as que são
próprias só do povo ou só do grupo de cantores.
E os 28 a 31, onde se concretiza esta ideia:
(...) O uso destes graus de participação regular-se-á da maneira seguinte: o
primeiro grau pode utilizar-se só; o segundo e o terceiro não serão
empregados, íntegra ou parcialmente, senão unidos com o primeiro grau.
Deste modo, os fiéis serão sempre orientados para uma plena participação
no canto.
Comentário meu a esta última frase: "Deste modo, serão orientados para uma plena participação no canto", uma vez que, se o sacerdote não cantar o 1º grau, o povo não lhe poderá responder, e portanto ouvir-se-á somente a schola (2º e 3º graus). Concluamos então a leitura dos números supracitados:
29. Pertencem ao primeiro grau:
a) nos ritos de entrada:
- a saudação do sacerdote com a resposta do povo;
- a oração;
b) na liturgia da Palavra:
- as aclamações ao Evangelho;
c) na liturgia eucarística:
- a oração sobre as oblatas,
- o prefácio com o respectivo diálogo e o "Sanctus",
- a doxologia final do cânone,
- a oração do Senhor - Pai nosso - com a sua admonição e embolismo,
- o "Pax Domini",
- a oração depois da comunhão,
- as fórmulas de despedida.
30. Pertencem ao segundo grau:
a) "Kyrie", "Glória" e "Agnus Dei";
b) o Credo;
c) a Oração dos Fiéis.
31. Pertencem ao terceiro grau:
a) os cânticos processionais da entrada e comunhão;
b) o cântico depois da leitura ou Epístola;
c) o "Alleluia" antes do Evangelho;
d) o cântico do ofertório;
e) as leituras da Sagrada Escritura (...)
Vemos portanto que a preferência, hoje em dia, pela Missa rezada com cânticos populares religiosos (que simplesmente exige ao sacerdote a leitura em voz alta dos livros litúrgicos, e permite aos fiéis expressarem a fé na sua própria língua, com maior economia na preparação dos cânticos), em deterimento da Missa cantada (que exige ao sacerdote uma maior preparação quer no latim quer no canto gregoriano, ademais da desejável existência de uma "schola cantorum"), resulta sobretudo de uma opção pastoral e pragmática, e não de uma mudança na estrutura do rito.
Num postal anterior citei os documentos do Magistério e afirmei que o passo seguinte a ser dado por um côro litúrgico que domine a execução do reportório gregoriano seria o avanço para a polifonia. Naquele postal, interpretei precipitadamente os documentos do Magistério, na medida em que o termo "polifonia" (que significa "várias vozes") se refere a muito mais do que apenas aquelas peças em que todas as vozes aparecem claramente escritas. A isso na época chamavam "Canto d'órgão", tratando-se de um género musical muitos graus de dificuldade acima do canto-chão interpretado monodicamente.
Entre o nível do canto monódico e o canto d'órgão, existe um nível intermédio no qual encaixaríamos dois estilos: o Fabordão, e o Contraponto. O contraponto possui regras próprias que merecem estudo e atenção, pelo que o deixaremos por agora de lado.
Já o fabordão era descrito à época como "cantar a vozes para gente que não sabe música". O nome vem de "falso bordão", isto é um falso íson, na medida em que o íson é uma das possibilidades do contraponto com suas regras, que não são arbitrárias.
Não vale a pena portanto estarmos aqui com grandes teorias musicais nem partituras para cantar um fabordão. Basta que uma parte do côro cante a voz principal, e que cada um dos restantes, enquanto escuta atentamente os restantes cantores, cante o mesmo texto simultaneamente, a uma altura diferente, que soe bem ao ouvido (consonância).
Quando haja o perigo de se cair no caos (p.ex. se muitos cantores destinados ao fabordão, ou textos muito longos, etc.), pode combinar-se antes da celebração quem canta o quê e como. Há também vários exemplos históricos de fabordões fixados por escrito.
O estilo do fabordão é especialmente útil para aquelas respostas simples, sobre as quais escrevi no postal já citado, assim como para todas as outras entoações que se baseiem no recto tono.
Paulo Valente interessa-se pelo canto sacro histórico e reside em Curitiba, onde dirige o côro Cantus Libere, com o qual lançou em Julho último um CD de canto gregoriano, disponível para compra.
Apresentamos, de forma bem humilde, o livro "Harpa de Sião" datado de 1957 organizado pelo padre João Baptista Lehmann.
Esse livro foi impresso no Brasil, para música Litúrgica, anterior ao Concílio Vaticano II, para, com certeza, auxiliar na criação de um repertório litúrgico nesse país, de modo a ser um auxílio para os coros. Talvez seja por inspiração do Motu Proprio "Tra le Sollecitude" do papa São Pio X. Não sei qual foi o seu alcance nas diversas paróquias do Brasil; na minha paróquia, particularmente, quando ainda nem possuía esse título, já se usava tal livro.
Essa edição destina-se ao canto. Exitem outras edições para acompanhamento ao órgão ou harmônio, um instrumento que foi comum em muitas de nossas igrejas (na minha paróquia havia um; na minha arquidiocese vários, muitos em abandono e com defeitos). Se alguém se interessar pelas edições para órgão ou harmônio, comente, que, na possibilidade, posso tentar digitalizar as que tenho comigo. As partituras de acompanhamento para órgão também podem ser vistas neste local.
Quem desejar acessar a Edição para o Canto do referido livro, pode fazê-lo aqui.
Na foto abaixo, temos o exemplo de uma música do livro "Harpa de Sião". É primeira partitura, uma música para o Advento. Parece-me que ainda hoje é muito conhecida por aqui no Brasil, mas, ao invés do refrão em latim, usa-se em língua portuguesa, que também é bonito: "Orvalhai, lá do alto, ó céus, e as nuvens chovam o justo".
Quão importante foi o canto gregoriano na história da música?
Na música ocidental foi essencial. O ano zero. Se não se tivesse partido dali, provavelmente não teria sido possível desenvolver a polifonia, o contraponto, a harmonia, as primeiras formas musicais "sacras", o motete, e por aí afora... O canto gregoriano está ligado à história da nossa cultura europeia e constitui uma importante raíz musical.
Então desagrada-lhe que a tradição do gregoriano esteja um puco perdida na Igreja?
Depois do Concílio Vaticano II, a minha atenção virou-se para a mudança que ocorreu na música na sequência daquele evento. Bem, desagradou-me muitíssimo quando se decidiu afastar da tradição musical que provinha do passado da Igreja. Talvez se tenha procurado ir ao encontro dos gostos dominantes, propondo estilos musicais mais populares, e próximos das tendências da música popular de hoje. Pareceu-me que se estava a minar uma identidade muaical importante e milenária.
Nota prévia: para um melhor aperfeiçoamente da solmização, sugerem-se os cursos presenciais com o Maestro Isaac Alonso de Molina.
A solmização (ou solfa) é o mais antigo método de solfejo. Foi criado pelo monge Guido de Arezo no século XI, e influenciou profundamente o ensino, a práctica, e a composição da música desde então. É um recurso de enorme utilidade ao canto gregoriano: canto-chão, contraponto, e canto-d'órgão (polifonia do Renascimento), e também ao domínio da instrumentação em música antiga.
O método que aqui se apresentará foi recuperado a partir das fontes antigas (tratados, iconografia, etc.) pelo Professor Isaac Alonso de Molina, o qual tem ensinado pessoalmente os seus alunos.
Para treinardes este método à distância, publicaremos nesta página vários vídeos filmados no côro-alto da Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Ferragudo (Agradecimentos: Reverendo Padre Miguel Ângelo, Sr. Carlos Almeida), alguns dos quais contendo enganos que um aluno atento facilmente detectará e corrigirá. Os esquemas foram criados pelo zeloso aluno Felipe Gomes de Souza Araújo partindo do material gentilmente cedido pelo Professor Isaac. Guardai esta página nos vossos favoritos e visitai-a no futuro. Sendo este um assunto eminentemente práctico, os interessados poderão pedir-me mais informações e esclarecimentos pelos canais habituais(comentários, email, Messenger, Skype, Whatsapp, Hangouts, etc.).
O Hexacordo
É um conjunto de 6 cordas consecutivas. Cada corda está sempre separada da vizinha por um tom, excepto a 3ª da 4ª, que estão sempre a meio-tom uma da outra.
UT 1 RE 1 MI ½ FA 1 SOL 1 LA
Praticai os seguintes exercícios:
Escala para cima e para baixo:
UT RE MI FA SOL LA, LA SOL FA MI RE UT.
Intervalos:
UT RE, UT MI, UT FA, UT SOL, UT LA;
LA SOL, LA FA, LA MI, LA RE, LA UT.
Terças:
UT RE MI, UT MI; RE MI FA, RE FA; MI FA SOL, MI SOL; FA SOL LA, FA LA;
LA SOL FA, LA FA; SOL FA MI, SOL MI; FA MI RE, FA RE; MI RE UT, MI UT.
UT MI, RE FA, MI SOL, FA LA; LA FA, SOL MI, FA RE, MI UT.
Quartas:
UT RE MI FA, UT FA; RE MI FA SOL, RE SOL; MI FA SOL LA, MI LA;
LA SOL FA MI, LA MI; SOL FA MI RE, SOL RE; FA MI RE UT, FA UT.
UT FA, RE SOL, MI LA; LA MI, SOL RE, FA UT.
Quintas:
UT RE MI FA SOL, UT SOL; RE MI FA SOL LA, RE LA;
LA SOL FA MI RE, LA RE; SOL FA MI RE UT, SOL UT.
UT SOL, RE LA; LA RE, SOL UT.
Sextas:
UT RE MI FA SOL LA, UT LA; LA SOL FA MI RE UT, LA UT.
UT LA, LA UT
Hexacordos Naturais
Têm a sua 1ª (UT) em C.
Portanto, o semitom aparece entre E e F.
Natura gravis
Natura acuta
Hexacordos duros
Têm a sua 1ª em G.
Portanto, o semitom aparece entre B e C.
Logo, o B é chamado de durum ou quadratum: ♮
B-durum gravis
À 1ª corda chamamos Γ (Gamma) pois é a letra equivalente ao G no alfabeto grego. Foram os gregos que inventaram a teoria musical.
B-durum acutum
B-durum super acutum
O e' sobreagudo (LA) está no dorso da mão, na articulação interfalângica distal, do lado oposto ao d' (SOL).
Hexacordos moles ou brandos
Têm a sua 1ª em F.
Portanto, o semitom aparece entre A e B.
Logo, o B é chamado de molle ou rotundum: ♭
Molle gravis
Molle acutum
"Mutanças" (mutações ou mudanças)
Practicai os seguintes exercícios:
Escala para cima e para baixo:
À 5ª: UT RE MI FA SOL [LA=]RE MI FA, FA MI [RE=]LA SOL FA MI RE UT.
À 4ª: UT RE MI FA [SOL=]RE MI FA SOL, SOL FA [MI=]LA SOL FA MI RE UT.
Terças, Quartas, Quintas e Oitavas.
(mudando à 5ª e à 4ª)
Prestai muita atenção a onde se coloca o meio-tom (sempre MI-FA).
À 5ª
SOL RE ao subir
MI LA ao descer
Na mutação à 5ª, a 4ª fa-sol-re-mi é uma 4ª aumentada (trítono): facontrami, diabolus in musica, intervalo proibido.
À 4ª
FA RE ao subir
FA LA ao descer
Na mutação à 4ª, a 5ª mi-fa-re-mi-fa é uma 5ª diminuta: mi contra fa, diabolus in musica, intervalo proibido.
Mutações subindo dos hexacordos naturais para os duros
Sempre à 5ª.
Natura gravis, durum acutum
Natura acuta, Durum super acutum
Mutações subindo dos hexacordos duros para os naturais
Sempre à 4ª.
Durum gravis, Natura gravis
Durum acutum, Natura acuta
Mutações subindo dos hexacordos naturais para os moles
Sempre à 4ª.
Natura gravis, Molle gravis
Natura acuta, Molle acutum
Mutações subindo dos hexacordos moles para os naturais
Sempre à 5ª.
Molle gravis, Natura acuta
O Gammut e a Mão Guidoniana
"Gamma Ut"
Cada corda pode ter um ou mais nomes conforme o hexacordo em que estejamos.
A Mão de Guido d'Arezzo
Manus Guidonis
Para dominar este método:
Repetir todos os exercícios q.b..
Solmizar com a mão esquerda,
com as duas mãos simultaneamente,
e com a mão direita sozinha.
Com os olhos abertos
e com os olhos fechados.
Cantando
e em silêncio.
Com as palmas da mão viradas para a cara,
com uma virada para a cara e a outra para a frente,
e com as duas para a frente.
Com as mãos no ar,
ao nível da cara,
e atrás das costas.
Treinar a obediência à afinação dada pelo 1º cantor (incipit):
Solmizar todos os hexacordos e mutações partindo da mesma altura;
repetir este exercício partindo doutras alturas diferentes.
Treinar a máxima extensão vocal:
Escolher uma altura suficientemente grave em que partindo da corda mais grave (Γ) se consiga cantar até à mais aguda (ee) passando por todas as que entre elas estão e solmizando todos os hexacordos e mutações da mão de Guido. A tessitura normal de um cantor deveria abranger toda uma mão (20ª).
Regras adicionais para se usarem somente quando cantando a partir de partituras originais (facsimile de documentos históricos):
Una super la est semper fa.
Sempre que fôr necessária cantar só uma corda imediatamente acima do hexacordo em que estamos a cantar, não é preciso mutar, cantando essa nota como um fa, meio-tom acima do la: ut re mi fa sol la fa.
P.ex. se estamos a recitar em a e aparece um b isolado sem indicação de b-molle, assumimos que será mole, e cantamos la fa la.
Clausula finalis
Na cadência final de uma peça, se a corda final fôr precedida por uma corda inferior num grau contíguo, essa corda pode ser cantada a meio-tom de distância da corda final i.e. na notação moderna receberia um sustenido #. Excepções:
Quando a corda final seja mi (pois o meio-tom fa está imediatamente acima).
Quando o intervalo que se cantar para atingir essa corda resultar num intervalo proibido: 4ª diminuta, 4ª aumentada (trítono) ou 5ª diminuta.
Quando em contraponto a cláusula finalis resultar em dissonância com as outras vozes.
Algumas razões pelas quais este método de solfejo é mais apropriado para a música sacra (para além do que já foi dito)
O canto gregoriano é música recta, i.e. maioritariamente sem acidentes nem alterações.
Todos os intervalos possíveis permitidos se treinam com este método.
Algumas peças têm um âmbito de uma 6ª, exactamente onde encaixa um hexacordo de Guido (p.ex. Comunhão Tu mandásti, molle gravis).
Ainda que a maioria tenha um âmbito um pouco maior (cerca de uma 8ª), a maioria dos segmentos de cada peça podem cantar-se sem ser necessário mudar de hexacordo (economia de mutações).
Fica fácil cantar paralelismos à 5ª (ou à 4ª).
Solmização do Reportório Gregoriano
Identificar a corda de recitação / arquitectural ou estrutural / tenor salmódico da peça em causa.
Peças sem modo atribuído: será a corda mais vezes cantada, aquela em que se repetem consecutivamente várias sílabas.
I modo: A
II modo: F
III modo: B durum
IV modo: A
V modo: C
VI modo: A
VII modo: D
VIII modo: C
Todas as peças ao longo duma celebração terão a sua corda de recitação enoada sempre à mesma altura. Uma altura cómoda para a maioria dos córos será a que corresponde ao nosso A moderno (440 Hz) dado na Igreja pelo diapasão ou instrumento (la2 vozes graves ou la3 crianças). Há no entanto liberdade para escolher outra corda, desde que seja a mesma ao longo da celebração.
Ouvir essa altura e dar-lhe em voz baixa o nome de solmização que recebe a corda de recitação da peça que cantaremos.
Solmizar o intervalo desde a corda de recitação até à primeira corda.
É o que farei ao longo de vários vídeos que divulgarei no meu canal pessoal no youtube. Subscrevei-o para ficardes a par. Cada vídeo será incrustado no postal a que pertence; ficarão todos agrupados pela etiqueta Solmização.
Serão hoje e amanhã os concertos em que será interpretada uma obra do nosso Amigo e Maestro Luís Lopes Cardoso: A não perder!
Eventos no Facebook: Évora e Lisboa.
Objectivos: Formar Cantores
para a Santa Missa e a Liturgia das Horas,
Segundo os Ensinamentos do Magistério
e a Tradição da Igreja Católica. Matérias: Canto Gregoriano, Solfejo Medieval,
Língua Latina, Polifonia Antiga.
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Com muita alegria, apresentamos esta Ladainha para ser cantada! Foi inspirada na Ladainha de Todos os Santos (Litaniae Sanctorum), usual na Liturgia do Rito Romano. O Tom original, com o texto em latim, encontra-se à página 831 do Graduale Romanum para o Rito Ordinário. O Graduale referido pode ser encontrado, em pdf, aqui.
A partitura gregoriana da Ladainha pode ser encontradaneste elo. E, para quem quiser ouvir, para melhor aprender, o áudio pode ser acessado aqui. Quem se interessar pode acessar a mesma Ladainha em Solmização nesteelo.
A Ladainha de Nossa Senhora em Língua Portuguesa é um dos frutos do trabalho da Turma do Gregoriano em Linha. Um convite fica a quem estiver interessado!
Quem achar interessante o uso desta Ladainha, e porventura a utilizar, tenha a bondade de gravar-nos e enviar-nos para que possamos partilhar no Blog!
No partitura também temos o Sub Tuum Praesidium, À Vossa Proteção. Uma oração muito bela, que, assim como a Ladainha, é enriquecida de Indulgência Parcial!
Como fruto de pesquisas, foram encontradas outras duas versões da Ladainha de Nossa Senhora, em latim. São versões um pouco mais complexas, mas também belíssimas, das quais desconhecemos adaptações para a Língua Portuguesa. O livro onde pode-se encontrá-la é o Liber Usualis 1957 da página 1961 à 1966. Quem se interessar, fica convidado a ver o Liber Usualisneste elo. Há também à página 419ss desteAntiphonale uma outra belíssima versão em Latim.
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