segunda-feira, 1 de abril de 2024

Turco: o Gradual Simples para o renascimento do gregoriano hoje

O GRADUALE SIMPLEX

Para o renascimento do canto gregoriano, hoje1

por Mons. Alberto Turco


1. O livro do salmista e da schola

Duas épocas de composições musicais bem distintas, correspondentes a duas zonas litúrgicas, caracterizaram o percurso histórico da liturgia: a época do salmista, desde as suas origens até ao séc. V inclusive, e a época da schola, do séc. VI em diante.

A época do salmista estende-se aos recitativos litúrgicos, que se originam da ‘cantilação’ e nos quais o uníssono é predominante. Nos recitativos, o texto é anunciado, declamado e pontuado, para efeito da sua inteligibilidade.

Os géneros litúrgico-musicais que se formaram a partir dos recitativos podemos subdividi-los em leituras, monições, orações, em sentido lato, salmodia, litania e hino no sentido antigo, sem distinção entre Missa e Ofício.

Da ligação entre leitura e canto fala expressamente Santo Agostinho (354-430) no Sermo 176, 1: «Aprendemos isto da lição apostólica. Depois, cantámos o salmo, exortando-nos uns aos outros, a uma só voz e com um só coração, dizendo: Vinde, adoremos».

O salmo inteiramente cantado pelos participantes da liturgia é um exemplo de prática executiva da salmodia in directum.2 No início, a tarefa de proclamar a leitura com o seu salmo poderia ser realizada por um único ministro. Neste caso, a salmodia ainda se caracterizava pela simplicidade da linha melódica. É quanto aprendemos novamente de Santo Agostinho ao relatar o modo de cantar do cantor em Alexandria, de acordo com o ‘método’ «que me lembro de ter ouvido muitas vezes atribuir-se ao bispo alexandrino Atanásio: ele fazia o leitor recitar salmos com tão leve inflexão da voz, que mais parecia próxima de uma declamação do que de um canto” (ver Conf. c. X, 33. 50).

Quanto à salmodia responsorial, numerosos são os testemunhos. Santo Atanásio, por exemplo, gabava-se de ter feito a assembleia cantar o quóniam in sǽculum misericórdia eius: «Sentado no trono ordenei ao diácono que lesse o salmo e ao povo que respondesse Porque é eterna a sua misericórdia, e que todos se retirassem e fossem para casa” (cfr. Patrologia Greca 25, col. 675, n. 265).

Na sinaxe litúrgica dominical com Eucaristia, o salmo ante oblationem antes da oferenda, que interessou particularmente a Santo Agostinho, e o canto 'ordinário' de comunhão, o salmo 33 (Benedícam Dóminum), atestado pela patrística dos séculos IV e V, eram executados na forma vigente da salmodia, sobretudo responsorial. Nesta forma, o salmista era encarregado de cantar o salmo e a assembleia o refrão, geralmente breve e fácil de recordar.

No âmbito da salmodia responsorial, vai ganhando sempre mais consistência uma nova prática de salmodia, alternada entre dois coros, comummente chamada de antifonia: o solista homem com um verseto do salmo e o coro dos homens com a resposta alternam-se com uma solista mulher com outro verseto do salmo e o coro das mulheres com a resposta. Esta antifonia original, depois de um breve período de tempo, evoluiu para a forma que todos nós hoje conhecemos: antífona – salmo – antífona, ou seja, o canto do salmo sem a alternância de verseto + resposta.

As formas musicais da época do salmista são simples, quase elementares; o mesmo vale para a sua modalidade: simples, brevidade das peças, extensão melódica facilmente praticável, sem modulações. Uma só dominante de composição nas antífonas, um só tenor3: algumas antífonas com finais diferentes, uma dominante comum, o mesmo tom salmódico4.

O que dissemos sobre a origem e evolução da salmodia encontra confirmação nos factos musicais, que podemos alcançar nos nossos livros de canto gregoriano, e são exatamente iguais aos do século IX. Possuímos essencialmente a mesma matéria; nada se perdeu.

A partir do último decénio do século V, durante o papado de Gelásio I, papa de 492 a 496, iniciou-se a época da schola, representada pelos géneros musicais próprios da schola. Alguns deles obtiveram-se transformando géneros musicais previamente existentes; outros, foram compostos de raiz.

Do género musical da salmodia in directum, passamos à composição dos tractos e dos cânticos5, com melodia e estrutura modal visivelmente de tipo salmódico, como que a formar um timbre modal, e com número variável de versetos.

Do género musical da salmodia responsorial, passamos à composição de responsórios-graduais6, formados por apenas dois versetos: um com função de salmo abreviado, o outro com função de responsum. Diferem na melodia e, salvo algumas excepções, também na estrutura modal.

Fazem parte, porém, das composições ex novo, os cantos processionais do intróito7, do ofertório e da comunhão.

As melodias da schola são compostas no género melódico ornado e oferecem uma modalidade composta, que tem como lei fundamental a presença de uma final com várias dominantes confluindo numa mesma peça de fórmulas centonizadas8 e a sucessão de vários tenores salmódicos (cf. Cânticos, Tractos e Graduais).

Para concluir, a história do canto gregoriano oferece-nos portanto duas formas de salmodia (in directum e responsorial), duas épocas de composição (do salmista e da schola), duas fontes, dois géneros melódicos (o silábico e o ornamentado), dois estádios de modalidade (arcaica e evoluída) e, consequentemente, de executores (o salmista com a assembleia, e a schola especializada).

O livro da época do salmista é representado pelo repertório do Antiphonale9; o livro da época da schola, pelo repertório do Graduale10.

2. Necessidade do livro do salmista

«Para que os fiéis participem mais activamente no culto divino, o canto gregoriano – no quanto respeita ao povo – seja restituído ao uso do povo. Na verdade, é absolutamente necessário que os fiéis não assistam às funções sagradas como estranhos ou mudos espectadores, mas, tomados verdadeiramente pela beleza da liturgia, participem nas cerimónias sagradas [...] de modo a alternar, segundo as devidas normas, a sua voz com a do sacerdote e da schola" (n. IX), é o que lemos na Constituição Divini cultus sanctitatem do Papa Pio XI, promulgada a 20 de Dezembro de 1928 aos vinte e cinco anos do ‘Motu próprio’ de São Pio X.

Que secção do canto gregoriano se devia devolver ao povo? Seguramente, não o Proprium Missæ do Graduale Romanum. O povo só poderia cantá-lo recorrendo a um tom salmódico ou mesmo ao chamado tom recto, dada a obrigatoriedade da execução dos textos. Esta prática executiva tornou-se habitual também para as scholæ, seja pela sua inadequação em aprender uma parte do repertório do Gradual – por exemplo, os Tractos e os Graduais –, seja pela falta de tempo necessário para a preparação das peças.

Desde o início da restauração gregoriana, sentiu-se a necessidade de permitir que pequenas e grandes scholæ pudessem executar todo o repertório do Gradual.

Amédée Gastoué († 1943) publicara em 1910, para a Schola Cantorum de Paris, uma colecção de cantos intitulada: Récitatifs en chants simples pour Graduels, Traits, Alleluias. Os Editores Pontifícios, Desclée & Cie, fazendo própria a iniciativa de Gastoué, publicaram uma edição intitulada Chants abrégés des Graduels, des Alleluias et des Traits de tout l'année sur formules psalmodiques anciennes. Portanto, os graduais, as Alleluia e os tractos representavam efectivamente o repertório do Graduale Romanum mais difícil de se cantar em todas as festividades e dias de semana, especialmente nos dos tempos fortes.

Tomo como exemplo o Gr. Tecum princípium da missa In nocte do Natal, na versão melódica abrégée (simplificada) pelos editores pontifícios Desclée.

 


Reza o texto:

[℟] «A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste: nos esplendores da santidade, antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei.»

[℣] Disse o Senhor ao meu Senhor: «Senta-te à minha direita, até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés.»

A forma estética de dois versetos é a mesma do Gradual. A parte relevante é representada por um tom recitativo sobre duas cordas: o primeiro verseto, no papel de respónsum, é recitado na corda Ré, com acentuação em Fá (in splendoribus); o segundo verseto (versus), ou seja, o salmo 'abreviado', é recitado na corda Fá. A frase conclusiva deste último é retirada da fórmula de Ré arcaico galicano. No presente gradual, é reproduzida inteiramente a grelha modal do 2º modo do octoechos, uma vez que o versus do Gr. Tecum Principium (GT 42)11 tem a grelha modal do «protus à quarta», ou seja, de um protus, com tenor em Ré e cadência final em Lá (modo II/A, segundo a terminologia dos octoechos), originária da tradição galicana.12

Além desta anotação, as fórmulas melismáticas são geralmente colocadas no contexto das cadências.

Os Tracti da edição abregée, porém, vão cantados nos tons da salmodia silábica.

As melodias das Alleluia limitam-se a uma única palavra, sem o iubilus na sílaba final; enquanto os versos são cantados nos tons semi-ornamentados do intróitos gregorianos. Eis um exemplo de Alleluia, da Missa de Natal In nocte:

 

As melodias e fórmulas, aqui descritas, não são extraídas do repertório gregoriano, mas principalmente do repertório milanês, para não dar o pretexto de repetir aquela triste operação perpetrada pela Editio medicæa de Regensburg de 161413.

A Sagrada Congregação dos Ritos, ao tomar nota da edição dos Chants abrégés dos Editores Pontifícios Desclée, estabelece que os cantos nela contidos se destinam exclusivamente às igrejas onde não é possível executar adequadamente as melodias do Graduale Romanum, e para as quais se tolera a simples salmodia dos textos sagrados (Carta, n. 3697).

Não entrarei na questão da utilidade ou não desta edição nem muito menos pretendo emitir um juízo a este respeito. Uma coisa é certa: a simplificação das melodias, com excepção dos tons salmódicos, não resolve o problema fundamental da participação da assembleia nas melodias do Graduale.

As várias formas da salmodia é que devem ser reconduzidas à época em que os participantes na acção litúrgica tinham um papel bem preciso. O Ordo Cantus Missae e o Lectionarium de 1970 agiram nesse sentido.

Já vinte anos antes, em 1950, o Congresso de Roma abordara vigorosamente o tema da necessidade de um Graduale «in usum minorum ecclesiarum», tema já não mais adiável, à luz do renovamento litúrgico em curso em toda a Europa (cf. De la nécessité d'un Graduel à l'usage des petites églises, orador Maurice Busson, in «Actes du Congrès International de Musique Sacré», editado por Mons. Igino Anglès, Tournai, 1052, pp. 34-36).

A assembleia dos congressistas pronunciou-se a favor duma edição 'complementar' ao Graduale Romanum, com melodias de género silábico, respeitadoras das formas litúrgico-musicais, e funcionais em termos de prática executiva.

Neste ponto, gostaria de chamar a atenção para o trabalho de Solesmes14, na preparação da edição crítica do Graduale Romanum.

Já dois anos antes do congresso de Roma, ou seja, em 1948, se criara em Solesmes um grupo de trabalho para lançar as bases científicas sobre as quais se iniciaria, mais tarde, a restauração do repertório da schola, o Graduale Romanum, ficando o texto litúrgico crítico, sem música, dos séculos VIII-IX, a cargo de Dom Jacques Froger († 1980), e a parte musical propriamente dita entregue a Dom Eugène Cardine († 1988).

Nas vésperas do Concílio Vaticano II, o grupo de trabalho, auxiliado por alguns monges colaboradores, concluiu a preparação de milhares de tabelas sinópticas para prosseguir com a nova edição do Graduale Romanum.

Ao mesmo tempo, por sua vez, Dom Jean Claire († 2006) publicou na «Revue Grégorienne» dos anos 1961-64, os resultados de pesquisas e estudos sobre a evolução modal nos repertórios litúrgicos ocidentais (L'évolution modale dans les Répertoires liturgiques occidentaux). O que Dom Claire dá a conhecer constitui o marco graças ao qual, hoje, podemos afirmar que conhecemos tudo sobre as formas litúrgico-musicais da antiga salmodia.

Dom Eugène Cardine, na qualidade de secretário da Subcomissão «De musica sacra», relata os resultados do trabalho realizado em Solesmes, à luz dos quais se redige o texto a incluir na Constituição Sacrosanctum Concilium: «Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X. Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores» (n. 117).

Em 1964, a primeira obra do Cœtus XXV, que tinha por nome De libris cantus liturgici revisendis et edendis, sob a presidência de Dom Eugène Cardine, conseguiu oferecer um repertório gregoriano fácil para as igrejas menores.

Em 1964 foi publicado o Kyriale Simplex15; em 1967, o Graduale Simplex (GS) e, um ano depois, em 1968, a reimpressão. As duas edições do Graduale Simplex foram reformuladas tendo em vista a editio typica altera de 1975, com o texto da neovulgata e com a inserção do Kyriale Simplex.

3. O Graduale Simplex da vaticana

O repertório do Graduale Simplex da edição vaticana é fundamentalmente um 'compêndio' do Gradual, representado por esquemas ou formulários para os diferentes tempos litúrgicos, as solenidades e festas, etc.. Nele encontramos, por exemplo, dois esquemas de Proprium para o Advento, denominados «Missa I» e «Missa II»; cinco Missæ para a Quaresma; oito, para o tempo per annum16. Poderíamos defini-los como peças de um repertório de “Commune” para os tempos litúrgicos e festas. Na verdade, as peças de um determinado esquema podem ser repetidos em diversas celebrações e, numa mesma celebração, os cantos de um esquema são intercambiáveis com os de outro. Superando assim o critério da fixidez e imobilidade dos textos cantados, segundo o qual estes deveriam servir para aquela celebração específica e para aquele momento ritual específico, o Graduale Simplex torna-se o protótipo para a liberalização dos cantos da Missa, com texto nas ‘línguas faladas’.

Cada esquema inclui os cantos processionais do intróito, do ofertório e da comunhão, e os cantos das leituras nas várias formas de salmodia.

Para preencher os cantos processionais simples (intróito, ofertório e communio) foram utilizadas antífonas com salmodia simples. Não neo-antífonas, porque a composição gregoriana está historicamente concluída; mas antífonas do repertório antigo, autenticamente gregoriano, compostas para uma outra função, que é a do ofício, e agora adaptadas, para uma nova função, na celebração eucarística.

4. O Missale Romanum, editio typica, a. 1970

A Editio typica do Missale Romanum de 1970 traz novos textos para os cantos processionais do intróito e da comunhão das férias do Advento e da Páscoa. Em particular,

  • as férias do Advento foram dotadas de dois conjuntos de seis cantos cada: um para os intróitos e outro para as communio, a serem repetidos todas as semanas. As férias de 17 a 24 de Dezembro foram por outro lado dotadas de textos próprios;

  • as férias da Páscoa, da 2ª à 6ª semana – excluindo a oitava da Páscoa e a sétima semana de preparação para Pentecostes – foram providas de duas séries de intróitos e communio (A e B):

    • série A, a ser repetida nas semanas II, IV, VI;

    • série B, a ser repetida nas semanas III, V.

A tabela que agora mostro mete em evidência as fontes bíblicas das quais se extrairam os novos textos dos mencionados intróitos e communio e em que proporção se distribuem entre eles.


Fontes

Advento


Páscoa


Total


Intróitos

Communio

Intróitos

Communio


Antigo Testamento

7

2

2

-

11

Salmos

3

1

3

-

7

Novo Testamento

2

11

6

10

29

Eclesiásticos

2

-

1

2

5

Total

14

14

12

12

52

Desta tabela se conclui que os textos do Novo Testamento são em maior número e frequentemente atribuídos às communio, com o objetivo de favorecer uma estreita ligação entre as duas partes da missa: as leituras, neste caso o Evangelho, e a Eucaristia. É um critério de escolha aceitável. Porém, dos textos selecionados, mais da metade são inexistentes nas fontes gregorianas do Antifonal; os restantes apresentaram novas variantes textuais, portanto, teremos que recorrer a outros textos comuns!

Mas temos ainda um exemplo que se aplica ao nosso caso, nomeadamente a série das communio das férias quaresmais, com exclusão da 5ª feira e de dois sábados, que precedem respectivamente o Domingo I e o Domingo da Paixão. Esta série consiste nos primeiros 26 salmos do Saltério, começando na Quarta-feira de Cinzas. Veja-se o presente prospecto.



Antiphonale missarum Sextuplex (séc. VIII-IX)

Ps.

Missale Romanum editio typica, 1970

Fonte

fr. IV cinerum

Qui meditabitur

1

Qui meditabitur

Ps 1

fr. VI

Servite Domino

2

Vias tuas

Ps 24

sabb.

(Quattuor Tempora)


Misericordiam volo

Mt 9, 13

fr. II Hebd. I Quad.

Voce mea

3

A. d. v.: Quo uni

Mt 25, 40

fr. III

Cum invocarem

4

Cum invocarem

Ps 4

fr. IV

Intellege

5

Lætentur omnes

Ps 5

fr. VI

Erubescant

6

Vivo ego

Ez 33, 11

sabb.

Domine Deus meus

7

Estote perfecti

Mt 5, 48

fr. II Hebd II Quad.

Domine Deus noster

8

Estote misericordes

Lc 6, 36

fr. III

Narrabo

9

Narrabo

Ps 9

fr. IV

Iustus Dominus

10

Filius hominis

Mt 20, 28

fr. VI

Tu Domine

11

Dilexit nos

1 Io 4, 10

sabb.

Oportet te (filho pródigo)


Oportet te

Lc 15, 32

fr. II Hebd. III Quad.

Quis dabit

13

Laudate Dominum

Ps 116

fr. III

Domine quis hab.

14

Domine, quis hab.

Ps 14

fr. IV

Notas mihi

15

Notas mihi

Ps 15

fr. VI

Qui biberit (samaritana)


Diligere Deum

Mc 12, 33

sabb.

Nemo te cond. (adúltera)


Publicanus

Lc 18, 13

fr. II Hebd. IV Quad.

Ab occultis

18

Spiritum meum

Ez 36, 27

fr. III

Laetabimur

19

Dominus regit me

Ps 22

fr. IV

Lutum fecit (cego de nas.)


Non misit Deus

Io 3, 17

fr. VI

Videns Dominus (Lázaro)


In Christo habemus

Eph 1, 7

sabb.

Dominus regit me

22

Pretioso sanguine

1 Petr 1, 19

fr. II Hebd. V Quad.

Dominus virtutum

23

Nemo te condemnavi

Io 8, 10

Ego sum lux

lo 8, 12

fr. III

Redime me

24

Cum exaltatus fuero

Io 12, 13

fr. IV

Lavabo

25

Transtulit nos

Col 1, 13

fr. VI

Ne tradideris

26

lesus peccata nostra

1 Petr 2, 24

sabb.

[vacat]


Traditus est

Io 11, 52

 

Da série dos 26 salmos, cinco foram substituídos pelas communio batismais e penitenciais, que passaram dos domingos para as férias. São elas Cantabo Domino (Sl 12), Ego clamavi (Sl 16), Dominus firmamentum meum (Sl 17). Estas três foram transferidas respectivamente para o II, III e IV Domingos depois de Pentecostes. Os outros dois, os Salmos 20 e 21, perderam-se.

Desconhecemos o critério de escolha o compositor para escolher o versículo de cada salmo a atribuir a cada communio.

O Missale Romanum de 1970 substituiu a maioria dos textos da série dos salmos por outros textos. Destes últimos, quase todos não encontram confirmação nas fontes do Antifonal gregoriano.

Se, por um lado, a substituição dos textos do Missal, que não se encontram nas fontes gregorianas, cria dificuldades, por outro lado, não é de excluir a priori, por exemplo no ofertório, o critério da escolha dos textos per ordinem ou dos salmos ou doutros textos bíblicos.

5. A salmodia das leituras

Premissa

A salmodia responsorial adoptada pelo Ordo Lectionum Missæ de 1970 está ligada à forma de 'antifonia', na qual o salmista canta ou proclama o verso do salmo e a assembleia responde com o refrão, concebido já como uma verdadeira antífona. O texto da antífona pode retirar-se do mesmo salmo, ou pode ter uma outra proveniência: das Sagradas Escrituras, ou de produção eclesiástica, ou ainda constituir-se por Aleluias repetidas.

Abro um breve parêntese. O Ordo Cantus Officii de 2015, que contém os textos oficiais do Antiphonale Romanum, não inclui a antífona composta por apenas duas Alleluia, por se considerar incompleta. Provavelmente, para os novos liturgistas, que pouco conhecem das tradições centenárias sedimentadas no património musical da Igreja, a antífona para ser considerada completa deveria ser composta por pelo menos três Aleluias.

Os cantos entre as leituras do Graduale Simplex de 1967 pertencem a um nível anterior à antifonia, baseado nas diversas formas de salmodia, numa versão melódica na sua maioria mais 'arcaica', e que se manteve viva nas fontes manuscritas. Coerentemente, sua classificação modal é feita segundo a terminologia arcaica do tom modal Dó (C), Ré (D), Mi (E), diferentemente da teoria medieval do octoechos, aplicada às antífonas processionais dos intróito, ofertório e comunhão.

Devemos reconhecer a riqueza litúrgico-musical do Simplex, publicado há mais de cinquenta anos, cujo valor modal não foi plenamente compreendido e que poderia ser chamado de “manual da modalidade arcaica”. Na verdade, é a partir da cantilação e do recitativo nas cordas-mãe Dó, Ré, Mi que devemos começar a explicar o canto do Antiphonale e também do Graduale, à luz das respectivas estrutura e ornamentação.

A

A salmodia in directum (Tractus)

O Graduale Simplex reconstrói a salmodia in directum (tractus) no género silábico, sobre os tons da salmodia simples:

  • O tom em MI obtém-se a partir:

    • do tom dos defuntos (AR 26*; GS 409),

    • do 1º tom (GS 106),

    • do 6º tom (GS 112)

    • do 3º tom (tonus antiquior, GS 93).

  • O tom em obtém-se a partir:

    • do tom da salmodia in directum, mas com cadência da terminatio em lá (AR 25*; GS 85).

Juntemos o tom da Páscoa (AR 26*).

1.


No Missale Romanum, Editio typica tertia, de 2002, na p. 366, é usado como hino de aclamação, após a bênção da pia batismal.

 

B

A salmodia aleluiática e salmodia responsorial

O tom em

  • da salmodia aleluiática, é tomado

a) do tom pascal simples do responsório breve (GS 61)

2.


b) e do tom da salmodia de duplo responso (GS 66);

3.


  • do salmo responsorial, é tomado

a) do tom ferial do responsório breve (GS 83),


b) do tom dominical do responsório breve (GS 283).

O tom de RÉ

  • da salmodia aleluiática, é tomado

a) do responsório breve, precedido pela terminatio milanesa a um acento, na função de ligação melódica, com refrão de duas Aleluias, obtido da tropatura do iubilus do verso Dirigatur (GS 408);


b) da melodia do Ite missa est. Alleluia do dia de Páscoa (GS 147).


O tenor Sol é a transposição da corda-mãe Ré. A subida ao Dó da resposta de uma única Alleluia representa o último estádio de oscilação melódica entre o si bemol e o si bequadro, e é um prelúdio para um futuro tenor em Dó.

  • do salmo responsorial, obtém-se

a) com o refrão sálmico, obtido através da silabificação do iubilus do verso Dirigatur e precedido pela terminatio milanesa (GS 71);

e Gelásio I, papa de 492 a 496, iniciou-se a época da schola, representada pelos géneros musicais próprios da schola. Alguns deles obtiveram-se transformando géneros musicais previamente existentes; outros, foram compostos de raiz.

Do género musical da salmodia in directum, passamos à composição dos tractos e dos cânticos5, com melodia e estrutura modal visivelmente de tipo salmódico, como que a formar um timbre modal, e com número variável de versetos.

Do género musical da salmodia responsorial, passamos à composição de responsórios-graduais6, formados por apenas dois versetos: um com função de salmo abreviado, o outro com função de responsum. Diferem na melodia e, salvo algumas excepções, também na estrutura modal.

Fazem parte, porém, das composições ex novo, os cantos processionais do intróito7, do ofertório e da comunhão.

As melodias da schola são compostas no género melódico ornado e oferecem uma modalidade composta, que tem como lei fundamental a presença de uma final com várias dominantes confluindo numa mesma peça de fórmulas centonizadas8 e a sucessão de vários tenores salmódicos (cf. Cânticos, Tractos e Graduais).

Para concluir, a história do canto gregoriano oferece-nos portanto duas formas de salmodia (in directum e responsorial), duas épocas de composição (do salmista e da schola), duas fontes, dois géneros melódicos (o silábico e o ornamentado), dois estádios de modalidade (arcaica e evoluída) e, consequentemente, de executores (o salmista com a assembleia, e a schola especializada).

O livro da época do salmista é representado pelo repertório do Antiphonale9; o livro da época da schola, pelo repertório do Graduale10.

2. Necessidade do livro do salmista

«Para que os fiéis participem mais activamente no culto divino, o canto gregoriano – no quanto respeita ao povo – seja restituído ao uso do povo. Na verdade, é absolutamente necessário que os fiéis não assistam às funções sagradas como estranhos ou mudos espectadores, mas, tomados verdadeiramente pela beleza da liturgia, participem nas cerimónias sagradas [...] de modo a alternar, segundo as devidas normas, a sua voz com a do sacerdote e da schola" (n. IX), é o que lemos na Constituição Divini cultus sanctitatem do Papa Pio XI, promulgada a 20 de Dezembro de 1928 aos vinte e cinco anos do ‘Motu próprio’ de São Pio X.

Que secção do canto gregoriano se devia devolver ao povo? Seguramente, não o Proprium Missæ do Graduale Romanum. O povo só poderia cantá-lo recorrendo a um tom salmódico ou mesmo ao chamado tom recto, dada a obrigatoriedade da execução dos textos. Esta prática executiva tornou-se habitual também para as scholæ, seja pela sua inadequação em aprender uma parte do repertório do Gradual – por exemplo, os Tractos e os Graduais –, seja pela falta de tempo necessário para a preparação das peças.

Desde o início da restauração gregoriana, sentiu-se a necessidade de permitir que pequenas e grandes scholæ pudessem executar todo o repertório do Gradual.

Amédée Gastoué († 1943) publicara em 1910, para a Schola Cantorum de Paris, uma colecção de cantos intitulada: Récitatifs en chants simples pour Graduels, Traits, Alleluias. Os Editores Pontifícios, Desclée & Cie, fazendo própria a iniciativa de Gastoué, publicaram uma edição intitulada Chants abrégés des Graduels, des Alleluias et des Traits de tout l'année sur formules psalmodiques anciennes. Portanto, os graduais, as Alleluia e os tractos representavam efectivamente o repertório do Graduale Romanum mais difícil de se cantar em todas as festividades e dias de semana, especialmente nos dos tempos fortes.

Tomo como exemplo o Gr. Tecum princípium da missa In nocte do Natal, na versão melódica abrégée (simplificada) pelos editores pontifícios Desclée.

 

b) com o refrão baseado na célula-mãe do modo de Ré (ré-dó-ré-mi-mi-re), precedido pela terminatio acentuada, com a nota final descendo para a subtónica Dó (GS 98).


[O presente refrão encontra-se na litania Agnus Dei XII (GT 754.2)];

c) na estrutura modal do refrão do Resp. Ego dixi, precedido da terminatio a um acento, como o tom precedente (GS 92);


d) no tom do verso Dirigatur (GS 144).


O GS classifica o presente e tom em C* devido ao tenor evoluído em Dó. O tenor original do verso Dirigatur é Ré (= Lá, na escrita actual), em uníssono com a nota final do iubilus.

 

O tom de Mi

  • da salmodia aleluiática é modelado

a) no timbre modal milanês das antífonas após o Evangelho, em modalidade arcaica, com a resposta de duas Aleluias (GS 370);


b) no timbre milanês da ant. Omnes angeli eius, mas com tenor evoluído em Sol e resposta de duas Aleluias (GS 217);


c) no modo arcaico de Mi que, posteriormente, evoluiu para o tenor em Sol (segunda parte do verseto) e Lá (primeira parte do verseto), com a ornamentação do Si natural (GS 179).


O 1. do presente tipo modal, de origem romana, está numa modalidade arcaica, com a resposta de duas Aleluias. O 2, para alternar com o anterior, foi acrescentado mais tarde, quando este tom foi transplantado para o Norte da Europa. A sua datação tardia é evidente não só pela evolução do tenor para Sol e Lá, mas também pela resposta, à qual foi acrescentado uma terceira Aleluia no início.

  • da salmodia responsorial é retirado do responsório breve do Advento, em modalidade arcaica (GS 54);



O sinal de asterisco antes da clivis é exigido pela restituição, à luz das fontes manuscritas.

C

Disposição da salmodia entre as leituras

A disposição litúrgica dos cânticos entre as leituras é a seguinte:

  • com duas leituras antes do evangelho: após a primeira leitura (vetero-testamentária), realiza-se o salmo responsorial; após a segunda leitura (neo-testamentária), o salmo aleluiático ou, na Quaresma, o salmo in directum;

  • com apenas uma leitura antes do evangelho, escolhe-se ad libitum uma das duas opções precedentes.

É o que estava previsto no Graduale Simplex elaborado pelo Cœtus XXV, De libris cantus liturgici revisendis et edendis, cujos presidente era Dom Eugène Cardine e secretário Dom Luigi Augustoni. Os membros eram: Dom Jacques Hourlier e Dom Jean Claire de Solesmes, Pe. Miguel Altisent, piarista (Catalunha), Pe. Lucas Kunz OSB, de Gerleve (Alemanha) e Pe. Jeapontificio istituto di musican Harmel, premonstratense de Mondaye.

Infelizmente, uma mão estranha ao Cœtus XXV, mas certamente do Cœtus XXX, que tinha a tarefa de fazer uma revisão geral a todas as edições pós-conciliares, introduziu uma antífona de aclamação, composta de Aleluias repetidas mais o verseto nos oito tons, à moda das antífonas processionais de entrada, ofertório e communio. A versão melódica da Aleluia não pertence ao velho fundo gregoriano, mas segue o modelo das antífonas do ofício ferial. Eis um exemplo de Alleluia (GS 250) com a melodia da ant. Deo nostro (GS 241).

Aliás, o percurso do Graduale Simplex foi difícil: até o termo “salmista” teve que ser substituído pelo de “cantor”.

Após essa intrusão, os cantos entre as leituras foram dispostos do seguinte modo (GS 54):

  • quando há duas leituras antes do evangelho, os cânticos distribuem-se assim: após a primeira leitura, canta-se o salmo responsorial; depois da outra leitura, ou o salmo aleluiático, ou a antífona Alleluia com seus versos;

  • todas as outras vezes, com apenas uma leitura antes do evangelho, executa-se apenas um dos cânticos citados, ad libitum.

Destaco que a rubrica fala de Alleluia com múltiplos versos; não com apenas um.

6. O canto gregoriano, hoje

Uma das disposições inovadoras do Concílio Vaticano II em matéria litúrgica foi a admissão de línguas vivas e faladas nas celebrações (SC 54). Como resultado, o canto gregoriano, pelo facto de estar intimamente ligado à língua latina, sofreu uma forte recessão, embora o latim continue a ser a língua oficial da Igreja para comunicar "na verdade" com todas as línguas nacionais espalhadas pelo mundo. A causa do retrocesso do canto gregoriano não deve ser atribuída ao Concílio Vaticano II: «A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano», afirma o n. 116 da Constituição Sacrosanctum Concilium; «terá este, por isso, na acção litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.»

O Concílio Vaticano II, acolhendo os pedidos para oferecer à Igreja universal uma nova estação da liturgia, foi muito além da questão do uso das línguas nacionais; inaugurou um “novo” Ordo Missæ et Officii, no qual o carácter comunitário de cada celebração litúrgica é plenamente revalorizado e inculcada a participação activa de cada agente litúrgico e em particular dos fiéis.

A Instrução da Sagrada Congregação dos Ritos sobre a música na sagrada liturgia, a. 1967, preparada em nome de São Paulo VI, pelo Consilium para a aplicação da Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium do Vaticano II, dedica particular atenção ao ofício litúrgico dos fiéis (n. 15) e oferece uma série de indicações práticas que esgotam quase todas as situações problemáticas relativas às tarefas de todos os actores da celebração.

Que partes da Missa devem ser confiadas ao povo? As respostas ao celebrante e aos ministros, as aclamações e a resposta em forma de refrão ao salmo responsorial, que são de direito e de obrigação (n. 16 a, 7, 19), porque ninguém pode ser representado por outros na sua oração pessoal de fé e na sua adesão aos mistérios de Cristo que por ele são celebrados, assim como ninguém pode pensar em enviar outro à mesa eucarística em seu lugar.

Hoje, encontramo-nos em plena crise da música sacra! Não devemos resignar-nos! Devemos regressar humildemente às fontes do canto da Igreja, onde se encontram aquelas melodias que pressupõem a participação de quantos intervêm nas sinaxes litúrgicas. Estas melodias, embora não apareçam em documentos até o século IX, são capazes de revelar algo sobre o seu passado. O Graduale Simplex da Vaticana recolheu esta herança, selecionando géneros musicais simples e idóneos a uma participação directa da assembleia.

O que hoje é importante é assegurar ao canto gregoriano a “liberdade de oração cantada da Igreja”. Liberdade de oração cantada, em comentar um texto, em realçar os seus detalhes; em traduzi-lo melodicamente, permitindo que a doutrina que ele contém seja maiormente assimilada; em reduzir o texto ao mínimo (iubilus), em deixar a alma inebriar-se na oração sem lhe impor nenhum conceito intelectual. E por isso é importante saber o que o compositor quis exprimir, conhecer o seu discurso musical, tal como o escreveu, de modo a produzir em nós o efeito que se espera: «attentio ad verbum, ad sensum, ad Deum».

Aqui passamos diretamente do «verbum ad Deum».

O canto gregoriano produzirá o seu efeito, transmitirá a sua mensagem, apenas sob determinadas condições, algumas das quais são de natureza objectiva e visam torná-lo plenamente ele mesmo; outras são de natureza subjectiva e dizem respeito aos participantes do culto divino.

Condições objectivas

É necessário que o canto da Igreja seja plenamente ele mesmo, isto é, que seja autêntico e que, na sua execução, responda ao pensamento do compositor.

No entanto, o valor das melodias gregorianas é tal que, apesar das corrupções progressivas que ao longo dos séculos afectaram a sua pureza originária, apesar também da escassa qualidade da execução, a sua beleza, o seu poder explicativo do texto, o seu conteúdo religioso, dificilmente se conseguem anular.

A segunda condição objectiva que torna canto gregoriano nele mesmo é a sua execução: a perfeição, que pressupõe no intérprete as qualidades correspondentes àquelas que a análise das melodias revelou; a técnica impecável, a expressividade humilde e contemplativa; a submissão a todas as nuances sugeridas pelo texto litúrgico e a sua notação musical.

Alguns acreditam que esta exigência de perfeição tende a transformar a assembleia litúrgica num encontro cultural. A assembleia, entendida como o povo que participa na liturgia, é um dos actores da celebração. Primeiro e mais importante que isto, há o celebrante e os ministros, entre os quais o salmista, em diálogo com a assembleia. Portanto, para além dos recitativos e da salmodia nas formas originais, o canto gregoriano foi composto para ser ouvido.

Não devemos então esperar perfeição de execução por parte da assembleia, mas da schola; de uma schola, que não deverá propôr cantos acima das suas próprias competência e musicalidade.

Concretamente, devemos libertar-nos da moda de que a aprendizagem da arte gregoriana se esgote no conhecimento dos elementos gerais da notação. O que se fez com zelo quase destemperado no início do século passado para reintroduzir o canto gregoriano em todos os níveis de celebração e em todos os lugares deve ser avaliado com as devidas distinções: era de qualidade insatisfatória, para dizer o mínimo; teve uma execução baseada em métodos imaturos e superficiais, sem qualquer atenção à 'palavra cantada'.

Condições subjectivas

Uma vez assegurada a forma autêntica do canto gregoriano (melodia e execução), o tema muda para como usá-lo correctamente.

O canto gregoriano é, antes de mais, «oração». De qualquer ângulo que se aborde o gregoriano, nunca se deve esquecer a sua conotação essencial de «oração cantada». A característica desta oração cantada reside na sua profunda religiosidade. Não só porque encarna ritos religiosos, como são os da liturgia, mas também porque a sua expressão verbo-melódica amadureceu tanto através de uma espiritualidade profunda como de uma experiência vocal consumada. Escreve Dom Jean Claire, celebrando a memória de Dom Eugène Cardine: «A música contemporânea não prepara em nada para cantar a palavra, a frase de forma natural, nem para dosear a síntese viva das duas com facilidade e naturalidade, mantendo a todo o momento um olho na palavra e outro na frase" (cf. J. CLAIRE, Dom Eugène Cardine, em «Études Grègoriennes», XXIII, 1989, p. 22).

O canto gregoriano é a oração do compositor, para se tornar a oração do maestro, da schola e do povo dos redimidos. Se a análise das melodias, a observância das regras, o cuidado na tradução das nuances e da expressão absorverem os intérpretes, o canto conservará ainda um valor religioso, de intenção, de oferenda, de mostrar e amplificar o conteúdo dos textos cantado.

Alberto Turco

Professor Emérito de Canto Gregoriano
no Pontifício Instituto de Música Sacra, Roma

Festa de São Bento Abade, 11 de julho de 2023

 

Notas da tradução: o documento original não possui notas de rodapé pelo que todas as seguintes notas são do tradutor.

1 Artigo que serviu de base às palestras proferidas pelo Autor no curso que deu no Pontifício Instituto de Música Sacra em Roma de 27 a 29 de Outubro de 2023.

2 “A direito”, isto é, o texto é proclamado todo de seguida, sem voltar atrás para repetir um responso.

3 Tenor aqui não se refere à tessitura do cantor, mas sim à corda de recitação, isto é, à nota estrutural que sustenta toda a melodia e em torno da qual surgem os ornamentos.

4 Tom salmódico refere-se à fórmula sempre igual que se aplica a todos os versetos do salmo.

5 O tracto substitui a Alleluia no tempo quaresmal, o cântico (em sentido estrito) canta-se depois de cada uma das leituras da vigília pascal.

6 Canta-se depois da 1ª leitura da missa. Diz-se gradual, porque o cantor subia a um degrau a caminho do ambão, o mesmo degrau donde se proclamara a Epístola, e daí cantava.

7 Entrada.

8 Do latim cento, -nis, em português centão, manta de retalhos ou remendos.

9 Livro litúrgico que inclui as antífonas e demais cantos do Ofício.

10 Inicialmente o livro litúrgico que continha os responsórios graduais, e mais tarde vem a incluir todos os restantes cânticos da Missa, quer os próprios (isto é, aqueles cujo texto pode variar de um dia para o outro: Alleluia, tractos, cânticos, intróitos, ofertórios, comunhões), quer do kyriale (cujo texto se mantém nas diferentes ocasiões, embora admita diferentes melodias: antífonas da aspersão com a água benta Asperges me e Vidi aquam, Kyrie, Gloria in excelsis Deo, Sanctus, Agnus Dei, e Credo in unum Deum).

11 GT: Graduale Triplex, edição muito utilizada no meio gregorianista, com as peças segundo a Ordo Cantus Missæ para o novo calendário litúrgico em vigor com a reforma do Concílio Vaticano II, e coloca junto à notação quadrada do princípio do 2º milénio outras duas notações ainda mais arcaicas, de São Galo e Laon (final do 1º milénio).

12 Todo este comentário refere-se não à versão abreviada mas sim à versão original, a qual se encontra escrita não com clave de fá mas de dó, e portanto tendo por final lá, e o verseto uma corda de recitação dominante em ré, isto é, uma 4ª acima da final.

13 Na edição referida, as melodias gregorianas foram modificadas profundamente, com o propósito de as “corrigir” segundo os critérios da época, p.ex. com a supressão de muitíssimas notas e melismas, sobretudo nas sílabas átonas, a alteração do âmbito das melodias e da colocação das palavras seguindo princípios de retórica musical, etc., de tal forma que se considera um momento especialmente disruptivo na história da transmissão do repertório gregoriano no último milénio.

14 Abadia beneditina em França em que desde o século XIX se fez a recolha e o estudo dos mais antigos documentos da música litúrgica da igreja latina, tendo em vista a restauração da mesma.

15 Contendo as melodias mais simples do ordinário da missa.

16 Tempo comum.

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